CAMAROTE CCP PARAMOUNT + A BALEIA

Por Adilson Carvalho

Impressionante a atuação de Brendan Fraser em A Baleia. Um filme de raízes teatrais, adaptado da peça de Samuel D. Hunter pelo próprio, e que em sua duração de 1h 57min consegue ser envolvente tocando em uma profusão de questões: Gordofobia, religiosidade, abandono familiar, homossexualidade e com a sensibilidade para promover questionamentos, principalmente quando distúrbios alimentares ainda não são tratados com a devida seriedade e o filme de Darren Aaronofsky (Mãe, Cisne Negro) foi indicado a 3 Oscars: Melhor ator (Fraser), melhor atriz coadjuvante (Hsu) e melhor cabelo e maquiagem, ganhando os de merecidamente os de melhor ator e melhor maquiagem. A história nos leva a uma inevitável catarse, muito em função da interação do elenco. Sadie Sink (a Max de Stranger Things) consegue ser ambígua em sua revolta e carrega a responsabilidade de representar uma esperança de que a bondade do ser humano possa nascer mesmo em um contexto de dor e repulsa. O jovem missionário interpretado por Ty Simpkins (Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros, Homem de Ferro 3) revela conflitos em sua visão de fé e assume o manto de salvador de Charlie (Fraser). A enfermeira Liz (Hong Chau, de O Menu) é um anjo incansável que contrasta com a atmosfera destrutiva do apartamento em que Charlie vive, estando ao seu lado mesmo não concordando com suas decisões. Mary (Samantha Morton) aparece pouco mas em seu momento em cena traduz as frustrações e dores de esposa e mãe embebida em dores que não consegue controlar. E no centro disso tudo está Charlie (Brendan Fraser), um professor de literatura obsecado com as as alegorias e metáforas que Moby Dick, de Herman Melville traz para sua própria condição. É o olhar de Fraser quem domina todas as cenas, contrapondo todas as dores com seu otimismo ferrenho e se dedicando a resgatar sua filha Ellie (Sink), e assim salvar sua própria alma contraditória, destrutiva, mas que ainda acredita na capacidade do ser humano de fazer o bem. Seu diálogo final com Ellie arranca lágrimas mais do que bem vindas para lavar nossa própria apatia diante de situações similares que nos cercam no dia a dia do mundo real e quem assistir o filme talvez reveja seus próprios preconceitos e temores que podem ser transformados na luz que Charlie busca dentro de cada um, caçador ou presa, humano ou baleia.

Deixe um comentário