CLASSICO REVISITADO | A DAMA DE VERMELHO

Por Adilson Carvalho

Gene Wilder (1933 – 2016) foi por duas décadas um dos atores mais engraçados das comédias hollywoodianas, fosse ao lado de Richard Pryor (1940 – 2005) ou em carreira solo. Gene tinha doçura no olhar como Willy Wonka na primeira versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971), mas quando fazia comédias representava o homem comum, fácil de se identificar, e mais fácil ainda de rir com ele. Foi parte da trupe de Mel Brooks, mas soube levar uma excelente carreira solo, atuando e dirigindo. Seu maior sucesso de bilheteria foi sem dúvida A Dama de Vermelho (The Woman in Red), refilmagem livre de O Doce Perfume do Adultério, de 1976, de Yves Robert.

O filme dirigido pelo saudoso Gene Wilder tornou-se um grande sucesso pop quando lançado, embalado pela melódica trilha sonora que inclui It’s You, na voz de Dionne Warwick e Stevie Wonder, e a oscarizada I Just Called to Say I Love You, na voz de Stevie Wonder. Na história, o bem sucedido publicitário de São Francisco, Theodore Pierce (Wilder) é casado com a doce Didi (Judith Ivey) e vive às voltas com os amigos Joe (Joseph Bologna), Michael (Michael Huddlestone) e Buddy (Charles Grodin) com quem sempre divide bebedeiras e fantasias masculinas de infidelidade conjugal. O pecado do pobre Ted sai da imaginação para o fato quando conhece a sensual Charlotte (Kelly le Brock). Modelo em campanha para a agência de Ted, Charlotte impressiona o “fiel” homem de familia quando vestida de vermelho anda pela saída de ar do metrô, emulando a cena de Marilyn Monroe em O Pecado Mora ao Lado. A confusão se instaura desde o início quando uma série de erros e mal entendidos leva a Srta Milner (Gilda Radner) a acreditar que Ted quer conquistá-la. Seguem equívocos burlescos à medida que Ted faz de tudo para chamar a atenção de Charlotte.

Nos bastidores, o clima era descontraído, principalmente com o quarteto Wilder – Bolona – Grodin – Huddlestone, que eram amigos na vida real. Charles Grodin (1935 – 2021), inclusive, era vizinho de Gene Wilder, e os dois se conheciam desde a época da escola de teatro. O papel de Charlotte foi inicialmente pensado para Melaine Griffith, que hoje é mais conhecida por ser a mãe da atriz Dakota Johnson (Madame Teia). Na época, Melaine recusou o papel, preferindo filmar Dublê de Corpo com Brian De Palma. O prédio onde Charlotte vive , fica em São Francisco, Califórnia, e é o mesmo usado como residência de Kim Novak no clássico de Hitchcock Um Corpo Que Cai (1959). O filme, também roteirizado por Gene Wilder, foi um dos primeiros a receber a classificação PG13 (Desaconselhável para menores de 13 anos) devido ao nu frontal de Kelly LeBrock. Se por um lado o personagem de Wilder foge o tempo todo da mulher feia, interpretada por Gilda Radner (1946-1989) na vida real ambos viriam a se casar pouco depois, além de terem contracenado em três filmes. Divertido, engraçado, como não lembrar de Ted Pierce tentando um visual “Robert Redford” para conquistar Charlotte ? Pena que depois de A Dama de Vermelho, Gene viria a dirigir apenas mais um filme. Em breve a MUbi vai lançar em sua plataforma de streaming um documentário sobre este talentoso e saudoso artista que faz falta no cenário cinematográfico, e para quem vale a pena dizer – se possível fosse – “Gene, só te chamamos para te dizer que te amamos“.

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