Por Adilson Carvalho

O filme de Adam Wingard, que estreia nesta quinta (28/03) não é a primeira que estes titãs se encontram em cena. Também não foi em Godzilla Vs. Kong (2021), do mesmo diretor, o primeiro confronto de ambos. Foram os japoneses que incitaram a peleja entre o gorilão e o lagarto atômico em “King Kong vs Godzilla” (Kingu Kongu tai Gojira) de 1962, que teve os efeitos especiais realizados por Eiji Tsuburaya ( o criador do herói , Ultraman). Este usou stop-motion somente em duas cenas, vestindo atores como Kong e Godzilla lutando sobre um cenário de maquetes. Em 1967, a empresa Toho ainda produz “ A Fuga de Kong” (Kingu Kongu no gyakushu) onde Kong enfrenta sua cópia robótica gigante chamada Mechakong. Após esse filme, a Toho perdeu os direitos adquiridos sobre Kong mas o impacto do personagem perdurou através das sucessivas reprises televisivas.

O fascínio por Kong, no entanto, começou em 1933, dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Shoedsack, foi uma reimaginação da fábula A Bela & A Fera marcando a história do cinema com icônica e indelével imagem de Kong no topo do Empire State Building, na época o maior prédio do mundo. Para criar a história que conduzisse a esse momento peculiar, pediu ao escritor norte-americano Edgar Wallace (1875 – 1932), escritor de livros de mistério, que criou o argumento.Na época, a sociedade americana vivia a lenta recuperação do new deal de Roosevelt e o público se conectou com um inusitado romance entre Ann Darrow, uma jovem atriz aspirante e um gigantesco gorila, que na verdade era um boneco de 45,72 cm feito com esqueleto de metal revestido com borracha, espuma e pele de coelho, animado quadro a quadro pelo técnico Willis O’Brien. Cooper e Ernest B. Shoedsack dirigiram juntos o filme para o qual pensaram em Jean Harlow para o papel de Ann Darrow, que acabou ficando com a atriz canadense Fay Wray (1907-2004), então com 26 anos. Wray na verdade era morena e usou uma peruca que ajudou a criar o visual de sua personagem, uma mistura de vulnerabilidade e sensualidade. Com um custo em torno de $670,000, a produção rendeu nove vezes mais na época de seu lançamento original, um fato surpreendente para um momento em que os Estados Unidos se recuperavam de uma recente depressão econômica. Seu sucesso salvou a RKO da falência, um milagre gerado por um filme B.

Os produtores se apressaram em criar a sequência “O Filho de Kong” (The Son of Kong) no mesmo ano. Do elenco original somente quatro atores retornaram, incluindo Robert Armstrong que reprisou o papel de Carl Dehnam, convencido a voltar à Ilha da Caveira onde encontra o filho do gorila, igualmente gigante, mas de temperamento mais dócil. Sem Ann Darrow ou Jack Driscoll, o casal humano central, pouco ficou de interessante na história a ser contada e rodada às pressas para ser lançada seis meses depois do Kong original. De lá pra cá, o filme original foi refilmado duas vezes (1976 e 2005), fora outras produções que mantem seu reinado intacto como uma das maiores feras da cultura pop.