ISTO É FATO…NÃO FITA! MARLON BRANDO RECUSOU SER “O EGÍPCIO”

Por Paulo Telles

Em 1954, o formato CinemaScope de tela estava em franca ascensão, e o gênero preferido para dar vida as produções eram geralmente os épicos, que realçavam com mais espetacularidade a mais nova inovação do cinema de então. A Fox já havia levado para tela seu primeiro filme no formato, O Manto Sagrado (The Robe) em 1953, inaugurando a técnica que viria revolucionar toda estética da Sétima Arte. Ainda em 1954, o inolvidável Michael Curtiz (1886-1962), autor de sucessos como As Aventuras de Robin Hood (1938) e Casablanca (1942) levaria para o cinema a superprodução O Egípcio (The Egyptian), baseada no célebre livro do escritor finlandês Mika Waltari (1908-1979), com um elenco grandioso de Hollywood (Jean Simmons, Victor Mature, Gene Tierney, Peter Ustinov, Michael Wilding e a brevemente promissora Bella Darvi).

Para o papel central foi escalado o novato Edmund Purdom (1924-2009). Nascido na Inglaterra e saído dos palcos britânicos, Purdom não era bem visto pelos produtores em Hollywood. Inexpressivo e arrogante, Purdom não fez sucesso no cinema americano e logo imigrou para Europa, atuando em épicos “Sandálias & Espadas” (os famosos “Peplum”!) e faroestes italianos. Contudo, o que poucos sabem, é que o papel principal do Egípcio, o médico Sinuê, que cai em desgraça por conta de uma cortesã da Babilônia, conseguindo prestígio na corte do faraó em meio à guerra religiosa entre politeístas e monoteístas, estava destinado para o mais competente, talentoso, versátil e magistral ator de seu tempo: Marlon Brando (1924-2004). Esta grandiosa epopeia do cineasta Michael Curtiz foi um dos primeiros grandes espetáculos realizados em CinemaScope.

Brando já havia assumido viver o dramático Sinuê, tanto que seu figurino já havia sido confeccionado. Além disso, o ator ainda testava a atriz polonesa Bella Darvi, cujo inglês não estava aperfeiçoado (Darvi fora amante de Darryl F. Zanuck, o lendário chefe da 20ª Century Fox. Anos depois, com a carreira em declínio, acabou por cometer suicídio em 1971). Contudo, na última hora, Brando abriu mão do papel em O Egípcio para viver Napoleão Bonaparte em Desiree, o Amor de Napoleão (Desiree,1954) de Henry Koster e também produzido em CinemaScope. Não restou para o diretor Curtiz colocar Edmund Purdom no lugar de Brando, não porque fosse Purdom um brilhante ator (diga-se de passagem…muito longe disso!), mas porque naquela ocasião era o único astro contratado pela Fox que cabia perfeitamente no caro figurino feito inicialmente para Marlon Brando.

Um caso em nossos registros, afinal Isto é fato…Não Fita!

Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.

https://cineretroboavista.blogspot.com/

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