Por Adilson Carvalho & Leandro “Leo” Banner

No final dos anos 70, o Demolidor (Daredevil) era um personagem sub aproveitado, sem nenhum diferencial dos outros combatentes do crime publicados na época. Seu título estava sendo publicado bimestralmente e para um inevitável cancelamento. Ainda como uma forma de última tentativa, a Marvel juntou o roteirista Roger McKenzie (presente no título desde a edição #151, de 1978) e o desenhista Frank Miller para uma sequência de histórias, que foi essencial para o renascimento do herói. A colaboração entre McKenzie e Miller lançou as sementes que germinariam ao longo dos anos seguintes. O fim do namoro com a Viúva Negra e a morte do empresário Maxwell Glenn (pai de Heather, amada do herói) deram um tom mais sombrio em distinção das histórias dos anos anteriores. Mas Miller queria mais, muito mais e havia discordâncias entre ambos e o arco que desenvolveram durou de Daredevil #158 (maio de 1979) até Daredevil # 166 (setembro de 1980). Apesar de uma edição co desenvolvida com David Micheline na edição seguinte, Frank Miller assume como roteirista e desenhista, tendo a arte final de Klaus Janson já a partir de Daredevil # 168 (janeiro de 1981) e o que se seguiu foi uma transformação radical que determinou a essência do herói, mudou seus status quo e tornou-se até hoje a melhor fase do personagem, para muitos sua visão definitiva.

Miller fez o melhor uso de retcon (continuidade reescrita) introduzindo Elektra Natchios, namorada do passado de Matt Murdock nos tempos da faculdade e filha de um diplomata grego, que já é assassinado já na primeira história, e a transforma em uma mercenária assassina, a antítese do que o Demolidor representa. Miller fez do Rei do Crime, ex-antagonista das histórias do Homem-Aranha, uma ameaça de proporções sem precedentes em seu cânone, e faz do Mercenário seu nêmesis com lutas travadas em uma violência gráfica fluida com a narrativa. A luta contra o crime organizado e a corrupção nos altos degraus do poder transforma as histórias do Demolidor em uma hq noir de primeira qualidade. Miller ficou até Daredevil # 191 (fevereiro de 1983), sendo substituído por Allan Brennert, Larry Hama, Denny O’Neill (Ex roteirista de Batman) e Sergius O’Shaughnessy com Klaus Janson assumindo desenho e arte-final.

Miller retorna para o que se tornaria uma de suas obras-primas, a saga A Queda de Murdock, publicada de Daredevil # 227 (fevereiro de 1986) até Daredevil # 233 (agosto de 1986). No arco, Karen Page, a primeira namorada do herói é reintroduzida na continuidade, apresentada como uma viciada de drogas que vende a identidade secreta do herói por uma dose. Quando chega ao conhecimento do Rei do Crime, este orquestra a destruição moral e física de Matt Murdock, que perde sua casa e sua licença de advogado indo parar na sarjeta. O rei ainda faz uso de Bazuca, experimento não oficial do governo com o soro do super soldado que sai do controle e arrasta um caminho de destruição por onde passa, levando a uma inesperada aliança do Demolidor com o Capitão América. Miller resumiu aqui a essência do herói, que por mais que seja derrotado e levado ao chão, sempre se reergue e supera seus algozes, suas falhas e os obstáculos, o que faz de Matt Murdock de fato um homem sem medo. Você encontra as histórias do Demolidor na Livraria Metrópolis Quadrinhos, na rua Diaz da Cruz 203, sala 11 Meier. Estejam de volta na próxima semana para descobrirmos o Demolidor pós Miller.