GALERIA DE ESTRELAS | AUDREY HEPBURN

Por Adilson Carvalho

Um beijo sob uma forte chuva em um beco novaiorquino. Os protagonistas eram um jovem escritor desconhecido , uma garota de programa e entre eles … um gato. A cena vem de “Bonequinha de Luxo” (Breakfast at Tiffany’s) de 1961, mas na minha imaginação o jovem escritor era eu. Assim me apaixonei por Audrey Hepburn, ao som da maravilhosa “Moon River”. Hoje ela completaria 95 anos, deixando saudades de uma das maiores atrizes do firmamento Hollywoodiano. Sua silhoueta magra, elegante, de passos e gestos sofisticados contrastava com uma história de vida sofrida, de dores, desilusões e superações. Durante a Segunda Guerra precisou fugir dos nazistas que invadiram a Holanda, país em que viveu entre os dez e quinze anos; abatida pela desnutrição, pela icterícia e outros males advindos dás condições desumanas a que estava submetida. Certa vez disse que sua mãe a advertia “Não teremos o que comer, então é melhor ficar na cama para manter as energias”. Quando a guerra acabou retornou à Inglaterra onde vivera até os nove anos sonhando com uma carreira de bailarina. Frustrada em seu sonho, passou a trabalhar de modelo, fez teatro protagonizando o papel-título em “Gigi” na Broadway. Não demorou para conseguir um papel no filme “Monte Carlo Baby” (1952).

Audrey atuava para sobreviver, buscava algo em que pudesse se encaixar. Despretensiosamente se candidatou ao papel da Princesa Ann e conquistou a atenção de William Wyler que lhe deu o papel que faria seu nome brilhar, ao lado de Gregory Peck, em “A Princesa & O Plebeu” (Roman Holidays). O astro foi tão generoso que exigiu que o nome da novata aparecesse junto ao seu acima do título do filme. O brilho de Audrey, seu sorriso encantador, seu olhar misto de desamparo e nobreza lhe deu o tom certo, natural para quem havia sobrevivido a tantas adversidades aos 24 anos, tão jovem e agraciada então com o Oscar de melhor atriz. O mestre Billy Wilder afirmou certa vez que “Deus beijou o rosto de Audrey Hepburn”, e ainda que trouxesse suas inseguranças e carências estrelou “Sabrina” (1954) de Wilder, contracenando com os astros Humphrey Bogart e William Holden. Conta-se que Bogart não teria tido paciência, ou boa vontade com ela. Já William Holden a cortejou durante as filmagens e tiveram um curto romance. A partir desse filme começou a longa associação entre Audrey e o estilista francês Hubert De Givenchy, uma forte amizade que a acompanhou a vida toda criando nas telas ou fora delas a imagem icônica da elegância encarnada.

Ainda em 1954, o amigo Gregory Peck a apresentou ao ator Mel Ferrer. Ambos estrelaram a peça “Ondine” que a premiou com o Tony (o Oscar do teatro) de melhor atriz. Não demorou para que a proximidade entre Audrey e Mel torna-se algo mais que profissional. Os dois se casaram em setembro do mesmo ano, e dois anos depois estrelaram juntos “Guerra & Paz” (War & Peace), adaptação do texto de Leon Tolstoy, superprodução indicado para três Oscars, e que deu a Audrey o Bafta (Oscar britânico) de melhor atriz. Seu salário de US$350,000 foi na época o maior já pago a uma atriz. No ano seguinte, acompanhou seu marido à França e decidiu aceitar o papel de Jo Stockton em “Cinderela em Paris” (Funny Faces) contracenando com Fred Astaire. Em uma das cenas, a mãe de Audrey, que era uma Baronesa na vida real, faz uma rápida aparição como freguesa de um café parisiense.

Ser mãe era mais importante para Audrey do que o estrelato no cinema. Filmou com Gary Cooper (Amor na Tarde, Love in the Afternoon, 1957), com Burt Lancaster ( O Passado Não Perdoa, The Unforgiven, 1960), Peter Fionch (Uma Cruz À Beira do Abismo, The Nun’s Story, 1959), mas não desistia de ter uma familia completa com Mel. Assim, depois de vários abortos espontâneos, ela conseguir finalmente dar a luz em 1960 a Sean Ferrer. Nesse período parou de filmar, só voltando para fazer a adorável Holly Golightly de “Bonequinha de Luxo” , lançado em 1961. Segundo o site imdb, o escritor da peça, Truman capote, não teria ficado satisfeito com a escalação de Audrey pois queira Marilyn Monroe para o papel. Um dos executivos da Paramount queria retirar do filme a canção “Moon River”, mas foi impedido pelo prestígio já adquirido pela atriz que teria dito “Só por cima de meu cadáver!”. Audrey a cantou na janela de seu apartamento com tamanha graça que marcou uma geração. Foi sua sofisticação e polidez que fez do papel de uma garota de programa, alguém com quem o público se apaixona, e se identifica, fazendo de seu visual de vestido preto, óculos escuros e piteira moda e impacto até hoje. Já aquela canção, a mesma que quase foi cortada do filme, levou o Oscar de melhor canção e o Grammy de 1962. Três filmes foram muito marcantes na carreira de Audrey em seguida. Filmou “Charada” (Charade) de 1963 com Cary Grant e direção de Stanley Donen; no ano seguinte fez “Minha Bela Dama” (My Fair Lady) com George Cukor que elogiava sua simplicidade e sensibilidade no set de filmagem, voltando a trabalhar no mesmo ano com William Holden em “Quando Paris Alucina” (Paris When it Sizzles).

O casamento com Mel Ferrer começou a se desgastar aumentando ainda mais as carências e medos que a estrela trazia dentro de seu espírito. Audrey tinha uma necessidade imensa de dar e receber amor incondicional. Conta-se que a medida que ela e Mel Ferrer iam se afastando, ela se aproximava ainda mais de Albert Finney, seu co-star em “Um Caminho Para Dois” (Two for the Road) de 1967. O caso com Finney não teve outro feito além de destruir de vez a reconciliação com Mel, apesar deste ter dirigido Audrey no papel de uma cega em “Um Clarão Nas Trevas’ (Wait Until Dark) no mesmo ano, resultando em nova indicação ao Oscar. A atriz precisava refazer sua vida e ficou oito anos sem filmar. Nesse tempo conheceu o psiquiatra italiano Andrea Dotti com quem se casou e teve seu segundo filho Luca.. Voltou a Hollywood em 1975, aos 46 anos, para trabalhar ao lado de Sean Connery em “Robin & Marian” e decidida de que sua carreira seria segundo plano em sua vida se afastou de novo até 1979 quando protagoniza “A Herdeira” (Bloodline). As infidelidades do marido não demoraram a aparecer jogando um balde de água fria em sua pretensa felicidade. Um longo divorcio e trabalhos ainda mais esparsos a ocupavam quando descobriu um papel que desempenharia até o fim de sua vida, o de embaixadora da Unicef. Ela viajava, usava de seu prestígio para levar comida, alívio e compaixão ajudada pela habilidade de falar 5 idiomas. (francês, italiano, holandês, inglês e espanhol). Audrey adorava chocolate, apreciava a bossa nova, amava os animais. Sua ultima aparição nas telas não poderia ser mais simbólica: Interpretou um anjo em “Além da Eternidade” (Always) de Steven Spielberg em 1989. O câncer de apêndice a levou embora em 20 de Janeiro de 1993, aos 63 anos. Mas aquele beijo na chuva perdura até hoje, foi o beijo de um anjo, o anjo Audrey Hepburn.

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