HQ TERRITÓRIO NEUTRO | MONSTRO DO PÂNTANO DE LEN WEIN & BERNI WRIGHTSON

Por Leandro “Leo” Banner

O Monstro do Pântano foi um personagem criado por Len Wein e Bernie Wrightson para figurar num pequeno conto de horror gótico numa edição de 1971 da clássica HOUSE OF SECRETS, título da DC COMICS que trazia todo mês histórias de terror de vários autores da Editora das Lendas. O que o editor Joe Orlando não esperava era que o personagem caísse nas graças dos leitores, de tal modo que se seguiu ao lançamento da edição #92 de House Of Secrets uma enxurrada de pedidos nas seções de cartas clamando por mais histórias daquele personagem tão atormentado. O pequeno conto de sete páginas , ambientado em algum ponto no final do século 19, mostrava a história do jovem e promissor cientista Alex Olsen, vítima da inveja e sordidez de Damian, um pretenso amigo que, a fim de eliminar Alex por ter se casado com a doce Linda, decide eliminar o jovem cientista provocando uma explosão em seu laboratório, para depois descartar o corpo do cientista no pântano do entorno. Tempos depois, Damian desposa Linda que não consegue esquecer Alex. Numa determinada noite, Damian conclui que Linda pode juntar as peças e chegar à conclusão que ele deu cabo da vida de Alex. No momento que decide eliminar Linda com uma injeção letal, uma enorme e disforme criatura irrompe furiosamente impedindo Damian de consumar mais um assassinato, ceifando a vida do mau-caráter naquele instante . A criatura nada mais era que Alex Olsen, revivido e transformado pela reação química dos charcos no aterrorizante Monstro do Pântano.

O desenhista Berni Wrightson

Com o sucesso da história e os inúmeros pedidos dos leitores desejosos por mais histórias do dramático personagem, Joe Orlando solicitou ao roteirista Len Wein que criasse uma série regular do Monstro do Pântano, mas, a princípio, a dupla criativa resistiu a diluir aquela história, que para eles tinha um significado tão singular e especial, numa narrativa serializada. No ano seguinte, superadas as “barreiras” criativas autoimpostas, Len Wein finalmente decidiu trazer de volta o Monstro do Pântano com uma abordagem ligeiramente diferente da apresentada em House Of Secrets. Começando no título próprio THE SWAMP THING #1, o roteirista acompanhado da magnífica arte de Bernie Wrightson, traz agora uma história ambientada nos dias atuais (1972, época da publicação) onde temos Alec e Linda Holland, casal de cientistas que, com o apoio e proteção do governo norte-americano (na pessoa de Matthew Cable, agente do FBI encarregado da missão), aperfeiçoou a fórmula biorrestauradora, um composto químico especial capaz de reflorestar e recuperar áreas desmatadas dos mais variados tipos. Objetivando manter a segurança do casal Holland que se tornara valioso para o governo, Cable tem a missão de conduzir Alec e Linda para um chalé isolado no interior da Louisiana para continuarem suas pesquisas e experimentos. No entanto, uma organização criminosa chamada Conclave inicia uma série de ameaças para que o casal venda a fórmula para o grupo. Após sucessivas recusas a essa proposta, os capangas do Conclave decidem destruir a pesquisa governamental instalando uma bomba no chalé onde se localizava o laboratório do casal, cuja explosão atinge em cheio Alec Holland impactando seu corpo com a explosão e saturando-o com a fórmula biorrestauradora. Experimentando uma extrema agonia, com a totalidade de seu corpo em chamas, Holland corre desesperadamente pelas trilhas pantanosas e se joga no fétido charco existente nas imediações. Uma vez que os componentes químicos da fórmula e a composição do pântano reagem sobre seu corpo, Holland ressurge como uma horrenda criatura, parte homem , parte planta, cujo corpo é composto por uma enorme massa de húmus, musgo e todas as demais substâncias contidas no charco pantanoso. Furioso, Holland, agora transformado, se lança como uma força vingativa contra os asseclas do Conclave, com uma consequência inesperada para a criatura, que é a morte de Linda Holland. Matt Cable culpa a criatura – chamada por ele de “Monstro do Pântano” – pela morte de seus dois amigos, Alec e Linda, sem nem suspeitar da maldição que acometera Holland. Na edição seguinte (THE SWAMP THING #2, de 1972), dois novos personagens essenciais são apresentados, aquele que se tornaria o arqui-inimigo do Monstro, o cientista/feiticeiro Anton Arcane, e sua sobrinha Abigail Arcane, ainda que com objetivos totalmente diversos na trama, pois, enquanto Abby é uma médica que presta serviços voluntários em uma instituição filantrópica, Arcane é um ancião idoso e mau-caráter com espírito tão corroído quanto seu corpo carcomido pelo tempo, que, ao descobrir a existência do Monstro do Pântano estabelece como objetivo se apossar do corpo da criatura a fim de adquirir imortalidade.

Após triunfar sobre a primeira investida de Arcane, o Monstro do Pântano enfrenta vários outros perigos e desafios como o Homem Remendado, um licantropo escocês e uma bruxa, sempre seguido de perto por Matthew Cable, agora acompanhado da sempre diligente Abby Arcane. Com o decorrer das histórias, os eventos levam finalmente o Monstro do Pântano a confrontar o Conclave, com a participação mais do que especial do Batman. Bernie Wrightson empresta sua formidável arte ao personagem até a edição #10, sendo substituído pelo não menos talentoso Nestor Redondo a partir da edição # 11 de THE SWAMP THING, com Len Wein concluindo sua passagem na edição #13, com uma história com grandes reviravoltas e acontecimentos marcantes.

O saudoso Len Wein

Essas histórias foram publicadas no Brasil pela primeira vez pela Editora Brasil-América – a EBAL – de setembro de 1979 até setembro do ano seguinte no título O Monstro do Pântano (Estréia Apresenta) – 3ª Série (valendo mencionar que nesse título nacional NÃO foi publicada a história de HOUSE OF SECRETS #92); muito tempo depois, voltaram pela Panini em Clássicos DC – Monstro do Pântano – Raízes, volumes 1 e 2 (em 2013 e 2016, respectivamente, desta vez contendo a histórica primeira aparição do personagem) e, por fim, na bela e caprichada EDIÇÃO DEFINITIVA MONSTRO DO PÂNTANO – POR LEN WEIN E BERNIE WRIGHTSON (com preço de capa de R$ 399,90) trazendo as 13 edições totalmente recolorizadas contendo uma boa quantidade de extras que revelam os bastidores dessa fantástica criação, incluindo a participação de grandes nomes das HQs em sua concepção, como Michael W. Kaluta, Alan Weiss e Louise Jones (futura senhora Walter Simonson), que serviu de modelo para o visual de Linda Olsen. A Edição Definitiva também vem em formato diferenciado, papel couché de ótima gramatura e uma linda luva feita para acomodar e proteger o exemplar. Vale dizer que as histórias aqui compiladas não são tramas “geniais”, mas são boas e prazerosas de se ler ainda que carreguem situações visivelmente datadas em alguns momentos sem o obrigatório paroxismo contido nas histórias atuais. Certamente é um lançamento excelente, a despeito do preço de capa, que surfou no sucesso das edições definitivas que trouxeram a fase do personagem capitaneada por ALAN MOORE (sobre a qual falarei oportunamente). Mas sendo muito sincero, eu JAMAIS esperava que essas histórias fossem ter uma edição com toda essa pompa. Não obstante serem histórias que eu particularmente goste bastante, sou obrigado a reconhecer que é o tipo de trama que não agradará a todos, sobretudo boa parte dos leitores da atualidade.
De qualquer forma, a EDIÇÃO DEFINITIVA DO MONSTRO DO PÂNTANO por LEN WEIN & BERNIE WRIGHTSON é um belo exemplar que merece atenção e reconhecimento, sendo possível adquiri-lo com algum eventual bom desconto (no momento que escrevo este texto, o site da Panini está com a edição a R$ 239,94). Quem tiver curiosidade em conhecer o personagem – e posso dizer que vale a pena esse empreendimento – pode adquirir essa bela EDIÇÃO DEFINITIVA com uma boa promoção ou tentar correr atrás das edições dos CLÁSSICOS DC (também da Panini), que compilam as histórias aqui mencionadas, em sebos e livrarias especializadas, pois, ainda que sejam edições mais simples e com o péssimo papel jornal, acredito que possam ser encontradas com valores mais acessíveis.

Nota: 4/5.

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

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