VALE A PENA REFILMAR : SETE HOMENS & UM DESTINO

Por Adilson Carvalho

Em 1954, o cineasta japonês Akira Kurosawa realizou um empolgante épico feudal que fez história no cinema. Kurosawa fez uma apurada pesquisa sobre os samurais e descobriu que, de fato, durante certo período estes ofereciam proteção, a aldeões,  em troca de alimento e estadia. Kurosawa refinou o roteiro desenvolvendo personalidade própria aos sete protagonistas de seu filme “Os Sete Samurais”, que alcançou projeção internacional. Foi o astro Yul Brynner (1920-1985) quem levou a ideia de uma adaptação da história para o produtor da MGM Walter Mirisch (ainda vivo),  e o diretor John Sturges  (1910 – 1992), e produziram Sete Homens & Um Destino (1960). Também foi o próprio Brynner quem fez questão de chamar para seu parceiro de cena o ator Steve McQueen (1930 – 1980). O que se seguiu foi um raro caso em que a refilmagem brilha tanto quanto seu original. Os roteiristas de “Sete Homens & Um Destino” (The Magnificent Seven) reinventaram a ação em um vilarejo mexicano açoitado por uma gang de criminosos liderados pelo cruel Calvera (Eli Wallachi). Indefesos, os habitantes reúnem os poucos recursos que tem para contratar sete pistoleiros para sua defesa: Chris Addams (Brynner), Vin (McQueen), Brit (James Coburn), Lee (Robert Vaughn), O’Reilly (Charles Bronson), Harry Luck (Brad Dexter) e Chico (Horltz Buckholz). O elenco, um dream team explodindo a tela com dose extrema de testosterona, que refletia  em parte os bastidores da produção: McQueen e Brynner se estranhavam o tempo todo, pois aquele fazia de tudo para atrair mais atenção em cena que Brynner, e este se irritava com gestos (mexer no chapéu) e olhares com os quais McQueen desafiava o protagonismo de Brynner. Anos mais tarde, quando McQueen morria de câncer, ele procurou Brynner para pedir-lhe perdão, e agradecer-lhe a oportunidade.O filme foi um campeão de reprises na Tv durante muito tempo nas décadas de 70 e 80. Sua trilha sonora, composta por Elmer Bernstein, foi muito bem difundida nos intervalos comerciais dos cigarros Malboro.

A versão de Antoine Fuqua de 2016 faz uma atualização da trama, transportando-a para um vilarejo nos Estados Unidos, e seus personagens são diferentes do filme de Sturges, emulando as personalidades do filme de Kurosawa. Denzel Washington, em seu primeiro filme do gênero, está  à frente do elenco que ainda inclui Chris Pratt (seguindo o estilo piadista de seus personagens em “Guardiões das Galáxias” e “Jurassic World”), Ethan Hawke, Buyng Hun-Lee (o Stormshadow de G.I,Joe) entre outros. O curioso é que nosso querido Wagner Moura quase ficou com um papel no filme, mas não pôde devido ao seu compromisso com a série da Netflix “Narcos). O elenco assim reflete as preocupações em representar as diferentes etnias, e até mesmo as mulheres ganham um avatar para a igualdade através da personagem da bela Halley Bennet (A cantora Cora de “Letra & Musica”). Ela é quem cria a coragem de buscar ajuda, desafia os que temem sua atitude, e participa mais ativamente na trama, se tornando tão essencial quanto qualquer um, quase como um oitavo elemento de defesa. A trilha sonora de James Horner (Titanic, Avatar) foi a última do prolífico maestro que faleceu pouco tempo depois. O filme não conta com Robert Vaughn, hoje octagenário, e único sobrevivente do elenco do filme de 1960. O produtor Walter Mirisch também vive e também produz esse nova versão que já fez mais de 30 milhões de dólares, se tornando a maior receita de um western nos últimos anos, superior a sucessos como “Django Livre” ou “O Regresso”, e mostrando que o gênero ainda pode despertar interesse para as plateias alimentadas por filmes de super heróis. Certamente que isso é caso raro já que se trata de refilmagem da refilmagem. Vitoria para o diretor, que já trabalhou com Washington e Hawke em “Dia de Treinamento” e que mostrou que se seguir um caminho certo, uma ideia antiga pode render um novo enfoque e assim a aventura se renova nos filmes.

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