Por Adilson Carvalho

Com muito orgulho digo que sou da geração que aprendeu a importância de encerar pela direita e encerar pela esquerda. Assim como Daniel Larusso, personagem de Ralph Macchio, também eu era bem magricelo, mas nunca aprendi karate, o que não me impediu de me divertir pra valer imitando os movimentos como o icônico golpe da garça. A ideia para o filme Karate Kid surgiu do produtor Jerry Weintraub, que ouviu uma notícia em 1983 sobre um adolescente vítima de bullying que se tornou um artista marcial, contratando Robert Mark Kamen para roteirizar e desenvolver os personagens. No filme, o jovem Daniel Larusso (Macchio) e sua mãe (Randee Heller) saem de Newark, Nova Jérsey para fixar residência na região do Vale de São Fernando no sul da Califórnia. Porém, Daniel não consegue se ambientar em sua nova morada, até que conhece Ali Mills (Elisabeth Shue), uma garota atraente que gosta dele. Porém, a situação de Daniel se complica quando o ex-namorado de Ali, Johnny Lawrence (William Zabka), e seus amigos começam a atormentá-lo. Um dia, quando é surrado pelos amigos de Johnny, ele é salvo por Kesuke Miyagi (Pat Morita), um velho mestre de Karatê. Disposto a ajudar Daniel, Miyagi resolve passar-lhe os ensinamentos de sua arte marcial, para que ele possa se defender dos amigos de Johnny, treinados pelo violento John Kreese (Martin Kove), do dojo Cobra Kai. A rivalidade leva a todos ao campeonato estadual de Karate, que determinará o rumo de suas vidas.

A história de superação através do esporte é a mesma premissa de Rocky – Um Lutador (1976), sendo ambos os filmes dirigidos por John G. Avildsen (1935-2017). O papel de Daniel Larusso foi cobiçado por Kyle Eastwood, filho de Clint Eastwood. Quando Kyle não conseguiu o papel, Clint proibiu o uso de qualquer produto ou propaganda da Coca Cola, proprietária do estúdio Columbia (produtora de Karate Kid), em seus filmes. O papel veio a ficar com Ralph Macchio, então com 22 anos, recém saído das filmagens de Vidas Sem Rumo (The Outsiders), de Francis Ford Coppola, e com pouca experiência. Elizabeth Shue, de 21 anos, decidiu abandonar os estudos em Havard para conseguir a oportunidade que lhe deu seu primeiro grande papel como atriz. Willam Zabka, de 19 anos, só tinha atuado antes em um papel pequeno em um dos episódios da série Super Herói Americano (1983) quando ganhou o papel de Johnny Lawrence, que o marcou tanto que daí em diante ficou um longa tempo repetindo o estereótipo de bad boy.

O papel do sensei Mr. Myagi quase foi para o ator Toshirô Mifune (Os Sete Samurais), mas os produtores não gostaram de sua persona muito séria. Jerry Wintraub decidiu-se por Mako (1933-2006) mas este estava comprometido com Conan o Destruidor, e o papel foi para Pat Morita (1932-2005), que nada sabia de Karate na vida real. Morita era engenheiro e comediante, tendo vivido o papel de Arnold na sitcom Happy Days. O papel de Pat Morita foi preparado pelo mestre de karaté Fumio Demura (1938-2023). No ano de seu lançamento, Karate Kid recebeu a indicação de melhor ator coadjuvante no Oscar para Pat Morita. Seu papel foi impactante, tornando-o um símbolo não apenas de amizade e paternalismo como também de sabedoria. Filho de imigrantes japoneses e nascido na California, Morita falava inglês fluentemente e precisou simular um sotaque oriental para falar como Sr. Myagi. O ator repetiu o papel nas três sequências (1986, 1989 e 1994) e na série curta de animação The Karate Kid (1989) em 13 episódios. Entre 1987 e 1989, o ator viveu um detetive de policia na série de TV O’Hara, que o SBT exibiu no ano seguinte batizando de Karate Kid O’Hara.

O revival da franquia na série da Netflix Cobra Kai, criada por Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg foi muito bem sucedida por manter a essência dos filmes e ainda apresentar os personagens a uma nova geração de fãs. Atualmente sendo filmada a 6ª e última temporada, a franquia parece longe de ser encerrada já que a Sony recentemente anunciou o projeto de um novo filme para os cinema que promete aparentemente ser um reboot.