GALERIA DE ESTRELAS | CHRISTOPHER LEE

Por Adilson Carvalho

Quando criança eu me escondia debaixo dos cobertores toda vez que ele sorria mostrando os dentes ensaguentados e os olhos vermelhos, sem precisar dizer uma palavra para incitar o medo de minha imaginação. Estou falando de Sir Christopher Lee, nascido há 102 anos nesta data, o maior Drácula do cinema, e que conseguiu atravessar gerações em papéis icônicos como o mago Saruman de O Senhor dos Anéis ou o Conde Dookan de Star Wars. Lee nasceu em Belgravia, Londres, filho do tenente-coronel Geoffrey Trollope Lee (1879-1941) e da condessa Estelle Marie (nascida Carandini di Sarzano; 1889-1981). A nobreza estava em seu sangue e Christopher Lee destilava sua fleuma britânica em papéis sofisticados como o Conde Drácula, que viveu 8 vezes nos filmes da Hammer Films desde O Vampiro da Noite (Horror of Drácula) de 1958, além do aristocrata Sir Henry Baskerville em O Cão dos Baskervilles (The Hound of The Baskervilles) de 1959, o diabólico Fu Manchu em A Face de Fu Manchu (The Face of Fu Manchu) de 1965 e muitos outros. Lee introduziu uma sexualidade sombria em sua versão de Drácula, classificado pela revista Empire como o 7º maior personagem de filme de terror de todos os tempos.

Lee sabia como compor um monstro monosilábico ou silencioso como poucos, sendo um substituto à altura de Boris Karloff em A Maldição de Frankenstein (The Curse of Frankenstein) de 1957, que iniciou a era das refilmagens dos clássicos de terror pela Hammer, o sumo sacerdote Khais em A Múmia de Ananka (The Mummy) de 1959, o lendário Rasputin – O Monge Louco (Rasputin The Mad Monk) de 1966, e outros, muitos dos quais contracenando com seu amigo Peter Cushing com quem fez 24 filmes começando com A Maldição de Frankenstein (The Curse of Frankenstein) de 1957. Depois de mais dez anos interpretando o Conde Drácula, Lee começou a ficar insatisfeito com os roteiros dos filmes, repetitivos e sem a essência do personagem de Bram Stoker. Disse então, “Tudo o que eles fazem é escrever uma história e tentar encaixar o personagem em algum lugar, o que fica muito claro quando você vê os filmes. Eles não me deram nada para fazer! Implorei à Hammer que me deixasse usar algumas das falas que Bram Stoker havia escrito. De vez em quando, eu inseria uma delas.” Lee tinha por hábito ler os livros originais que interpretava nas adaptações que estrelava. Assim, ele era o único membro do elenco da trilogia O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings), de 2001 a 2003, que tinha lido a obra de Tolkien, a quem encontrou pessoalmente.

Outro encontro singular foi entre Lee e Ian Fleming, autor dos romances de espionagem de James Bond, que era seu primo adotivo e ambos serviram na Inteligência Naval Britânica durante a Segunda Guerra. Fleming chegou a oferecer-lhe o papel do antagonista titular no primeiro filme de Bond produzido pela Eon, 007 Contra o Satânico Dr. No (1962), mas o ator só veio a fazer um filme da franquia em 1974 no papel de Francisco Scaramanga, adversário de Roger Moore em seu segundo filme 007 Contra o Homem da Pistola de Ouro (The Man with the Golden Gun). Lee atuou como o Conde de Rochefort nos filmes Os Três Mosqueteiros (The Three Musketters) de 1973 e A Vingança de Milady (The Four Muskeeters) de Richard Lester. Durante as filmagens, ele machucou o joelho esquerdo, algo que ainda sentiria muitos anos depois. Ao longo da década de 70, o ator tentou fugir da imagem vilanesca dos filmes de terror, e por isso não aceitou o papel de Dr. Loomis em Halloween – A Noite do Terror (Halloween), de 1978, de John Carpenter. Lee esteve, no entanto, em Aeroporto 1977 (Airport ’77), Perigo na Montanha Enfeitiçada (Return From Witch Mountain) de 1977, 1941 – Uma Guerra Muito Louca (1941), trabalhando em paralelo em várias produções de TV, vivendo inclusive Sherlock Holmes para a TV britânica.

Demorou um pouco mas Christopher Lee foi redescoberto por toda uma nova geração em Gremilins 2 – A Nova Geração (Gremlins The New Batch) de 1990, Loucademia de Polícia 7 Missão Moscow (Police Academy 7 Mission to Moscow) de 1994, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (Sleepy Hollow) de 1999, Star Wars O Ataque dos Clones (Star Wars Attack of The Clones) de 2002 e muito mais. O ator tinha dons musicais também e com sua voz de baixo operística Lee cantou na trilha sonora de O Homem de Palha (The Wicker Man) de 1973, interpretando a composição de Paul Giovanni, e ainda cantou em dueto com Fabio Lione, vocalista da banda italiana de power metal sinfônico Rhapsody of Fire, no single “The Magic of the Wizard’s Dream”, do álbum Symphony of Enchanted Lands II – The Dark Secret, de 2004, embora ele tenha feito apenas vocais de apoio na versão do álbum. Lee morreu no Chelsea and Westminster Hospital em 7 de junho de 2015, após ser internado por problemas respiratórios e insuficiência cardíaca, pouco depois de comemorar seu 93º aniversário. Sua esposa adiou o anúncio público até 11 de junho, informando sua família sobre a morte antes de divulgar a notícia para a imprensa. Um ícone do cinema que em breve ganhará um documentário pela BBC.

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