Por Leandro “Leo” Banner

EX-MACHINA narra as aventuras – melhor dizer “desventuras” – do prefeito Mitchel Hundred, outrora conhecido como o herói Grande Máquina. História do selo Vertigo, rebatizado para BLACK LABEL recentemente, e por isso, uma história autocontida onde você não precisa ter lido absolutamente NADA antes para acompanhar a saga de Hundred, que se estende pelos 5 álbuns publicados pela editora Panini Comics, que reúnem as edições EX MACHINA números 01 a 50, entre os anos de 2004 a 2010.
A equipe criativa composta pelo roteirista Brian K. Vaughan e o excelente artista Tony Harris (acompanhado pelos arte-finalistas Tom Feister, Karl Story, John Paul Leon e Jim Clark) nos entrega um trama no mínimo curiosa e com uma premissa bem original até então (lembre-se, a história surgiu em 2004, ou seja, há 20 anos), onde um super-herói desiste da carreira para se tornar um político, e é justamente nesse ponto que a verdadeira ‘aventura’ parece começar. A trama é focada justamente nas situações envolvendo Hundred durante seu mandato como prefeito de Nova York, com os feitos da sua persona heroica sendo sempre retratados em flashbacks, que, a cada edição vão nos fazendo entender melhor suas motivações para as decisões que o prefeito vai tomando ao longo da série.
A impressão que tive ao ler a história é que Vaughan quis expressar um pouco de sua opinião sobre várias questões políticas, pois, praticamente, em toda história nos deparamos com alguma situação que terá alguma implicação política, até porque o personagem principal É um político. Como exemplo podemos destacar questões envolvendo racismo, casamento entre pessoas do mesmo sexo (algo que há 20 anos, quando a série foi concebida, ainda era uma situação pouco abordada e discutida), armamento dos cidadãos etc. E além de fazer o contraponto de posicionamentos e opiniões, na grande maioria das vezes em embates com o vice-prefeito Dave Wylie, é possível verificar em boa parte das histórias que Hundred sempre tentava resolver a situação, não apenas do modo que melhor lhe favorecesse – político, lembra? – mas também de uma forma que pudesse ser benéfica para os envolvidos naquela situação – talvez fosse nesse aspecto que sua persona heroica se manifestasse de forma ainda mais evidente.

Um ponto alto da trama como um todo era a relação de Hundred com o elenco de coadjuvantes, que começava pelo seu melhor amigo e guarda-costas Rick Bradbury, com o vice-prefeito Wiley, a comissária Amy Angotti e Suzanne Padilla, onde é possível verificar as mais variadas situações sob o foco do político e do herói que habitava no prefeito. Não é uma história fantástica nem arrebatadora, mas é uma trama razoavelmente bem escrita e conduzida. Até o momento não li tantas histórias de Vaughan – me lembro de algumas histórias que ele escreveu para os X-Men no começo dos anos 2000 que não achei grande coisa, mas me interessei pelas premissas de EX-MACHINA e Y: O ÚLTIMO HOMEM (essa última ainda preciso adquirir e ler). É interessante notar que em vários momentos Vaughan procura fazer um embate de ideologias políticas, procurando sempre alfinetar este ou aquele pensamento geralmente de forma leve e irônica. Mas o que me incomodou na série é que a política domina tanto a trama até em momentos essenciais que alguns aspectos da história ficam confusos em alguns pontos (talvez eu precise reler a história), sobretudo quando entram em passagens envolvendo viagem temporal que, a meu ver, não ficaram muito bem explicados e talvez precisassem ser mais bem elaborados.
Mas no geral, é uma história razoável que traz algum divertimento, e essas últimas edições da Panini trazem uma boa quantidade de extras (páginas de roteiro, artes originais, fotografias utilizadas como referência para o artistas etc), mas vale destacar o glossário presente nas duas primeiras edições nacionais que simplesmente desaparece nas três seguintes, o que é uma pena já que o glossário ajudava a entender algumas piadas que só fariam sentido para quem tivesse algum conhecimento prévio sobre alguma determinada situação. Tal atitude denota um certo desleixo da editora, o que, infelizmente, não é nenhuma surpresa em se tratando de Panini Comics Brasil.
Opinião geral sobre a série: RAZOÁVEL.
Avaliação: 2,7.