Por Paulo Telles & Sérgio Cortêz (Rádio Vintage)

Cine Rádio – Claude Heater: O “Cristo Sem Face” de Ben-Hur (1959)
Para quem se lembra do épico Ben-Hur, a versão clássica de 1959 dirigida por William Wyler (1902-1981) e estrelada por Charlton Heston (1923-2008), detentora de 11 Oscars, certamente não deixou de atentar na figura de Jesus Cristo que aparece em seis cenas ao longo da produção, cuja metragem é quase de 4 horas de projeção. Contudo, com uma peculiaridade: Cristo não tinha rosto, sua face não era mostrada e sempre aparecia de costas para a plateia, efeito esse que também foi utilizado nas produções Quo Vadis (1951, Mervyn Le Roy) e O Manto Sagrado (1953, Henry Koster).

O norte americano Claude Heater aceitou o convite do cineasta para interpretar Jesus após vê-lo em um concerto em Roma, quando o viu cantar no repertório. Nascido a 25 de outubro de 1927, em Oakland, Califórnia, sua família era de Mórmons e foi missionário até os 19 anos quando decidiu se dedicar à música. Quando serviu na Marinha Americana, entre 1945 e 1946, Heater entrou num curso para aperfeiçoar sua voz, já que manifestava desejo de ser cantor de ópera.
Adquirindo voz e dicção perfeitas, principalmente como tenor, Claude Heater estreou na Broadway em 1950, onde cantava e fazia até shows de malabarismos. A carreira de Heater em espetáculos teatrais e nas óperas chegou tanto ao ápice que recebeu convites para trabalhar na Europa. Como havia restrições no cinema americano em não exibir a imagem de Jesus ou mesmo mostrar sua voz (a menos que Cristo fosse um personagem central, como em Rei dos Reis de 1961 e Jesus de Nazaré em 1977), houve algumas discussões em se fazer duas versões para Ben-Hur durante sua produção. Entretanto, nas primeiras rodagens com Claude Heater, William Wyler ficou satisfeito com o resultado de não mostrar o rosto do cantor e barítono para o público. Jamais é mostrada a face do Redentor, mas tal ar de mistério com clima de religiosidade dá uma suavidade confortadora ao personagem, chegando a atingir uma elevação comovente nas duas sequências em que aparece com o herói da trama.
Após seu trabalho em Ben-Hur, Heater nunca mais voltou ao cinema, se dedicando sempre ao teatro e às óperas, chegando também a dirigir grandes espetáculos tanto nos Estados Unidos como pela Europa. Em 2003, ele se reencontrou com o astro Charlton Heston num evento nas dependências da Academia de Artes e Ciências de Los Angeles, para uma exibição especial de Ben-Hur. Claude Heater morreu em 28 de maio de 2020, aos 92 anos de idade, após uma longa batalha contra uma doença cardíaca. Era casado e tinha filhos e netos.
Paulo Telles é radialista (DRT 21959/RJ), crítico de cinema, escritor, produtor e colunista do site CINEMA COM POESIA. Redator do blog CINE RETRO BOAVISTA.
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