RADAR 10° SANTOS FILMFEST | SERGIO REZENDE

Por Adilson Carvalho

Revisar a nossa história nos permite entender melhor a realidade à nossa volta e ainda rever o nosso passado permitindo discutí-lo sob uma nova ótica. Ninguém entendeu melhor essa importância do que Sérgio Rezende, um dos mais importantes cineastas de nosso país, que será homenageado no 10º Santos Film Fest nesse mês de junho. Começando com a direção de curta-metragens em 1974, entre eles Leila Para Sempre Diniz (1975), relembrando a carreira da talentosa atriz que quebrou tabus e convenções em uma época de extrema repressão no país. Realizado a partir de trechos de filmes dos quais participou como atriz profissional, depoimentos de amigos e imagens em Super 8 de um filme sobre ela, o curta revela flagrantes da intimidade da polêmica Leila Diniz, três anos depois de sua morte em um desastre aéreo.

Como roteirista e diretor realizou O Sonho Não Acabou (1982) marcando a estreia de vários atores no cinema brasileiro, dentre os quais Lauro Corona, Miguel Falabella e Lucélia Santos. O filme foi reconhecido pela crítica especializada como um dos 10 melhores filmes lançados naquele ano. Alguns anos depois Sérgio realizou o excelente O Homem da Capa Preta (1986), sendo vencedor no Festival de Gramado nas categorias de melhor filme, melhor ator (José Wilker), melhor atriz (Marieta Severo) e melhor trilha sonora original, além de ter sido Indicado na categoria de melhor filme no Festival de Moscou de 1987. O filme narra a vida de Tenório Cavalcanti, um político de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro dos anos 60 que costumava portar uma metralhadora à qual chamava de “Lurdinha”. No papel principal, o excelente José Wilker com quem, muito depois, realizaria o épico Guerra de Canudos (1997). Em ambos os trabalhos Sérgio demonstrou sensibilidade para retratar fatos e personalidades da história em filmes biográficos. Além desses, fez o mesmo com Lamarca (1994) e Mauá – O Imperador e o Rei (1999) onde foi diretor e roteirista.

Sérgio Rezende se mostrou um especialista em dramas biográficos e a ajudar a descortinar o véu do passado e trazê-lo para a discussão com as plateias de uma nova geração. Foi assim que fez Zuzu Angel (2006), estrelado por Patricia Pilar, sobre a estilista brasileira que teve um filho assassinado pelos militares durante a ditadura militar. Em 2017, dirigiu O Paciente com Othon Bastos fazendo Tancredo Neves, cobrindo os últimos dias do presidente eleito e abrindo as teorias acerca de sua misteriosa morte ocorrida antes de sua posse. O último trabalho de Sergio Rezende foi O Jardim Secreto de Mariana sobre uma botânica especialista em reprodução de flores, interpretada por Andreia Horta, que enfrenta dificuldade em se tornar mãe. O cineasta, que é pai da também diretora Julia Rezende (Meu Passado Me Condena), estará presente no 10º Santos Film Fest, que ocorre de 19 a 26 de junho.

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