Por Adilson Carvalho

Confesso que sempre preferi o Pato Donald que o Mickey. Sua voz esguiniçada, criada pelo ator de voz Clarence Nash, a rabugice e o jeito atrapalhado fazem do querido pato um dos melhores personagens da Disney. Seu nascimento oficial foi em 9 de junho de 1935, reza a lenda saído da imaginação de Walt Disney quando ouviu em um programa de rádio uma imitação engraçada. Sua estreia foi no curta The Little Wise Hen da série Silly Symphonies, e embora seu desenho seja bem diferente de hoje em dia, o personagem já vestia sua roupa de marinheiro e boné. Dois meses depois Donald fez participação especial em Orphan’s Benefit, um desenho do Mickey, e roubou a cena. Nos anos seguintes apareceu em cerca de 150 desenhos do estúdio mostrando personalidade e conquistando o público com seu temperamento irascível. Durante a Segunda Guerra Donald participou de uma série de 12 desenhos de propaganda anti nazista, ganhando até um Oscar pelo curta Der Fuhrer’s Face no qual faz um cidadão da Alemanha nazista atormentado pela imagem de Adolf Hitler.

Donald participou de dois desenhos icônicos feitos em Hollywood: Em 1942 Alô Amigos (Saludos Amigos) sexto filme de animação dos estúdios Disney, produzido dentro da política de boa vizinhança em tempos de guerra. Este desenho entrou para a história pela primeira aparição de Zé Carioca. A animação também contou com a canção “Aquarela do Brasil“, do compositor brasileiro Ary Barroso e uma versão instrumental de “Tico-Tico no Fubá“, de Zequinha de Abreu. No ano seguinte foi a vez de Você Já foi à Bahia? (The Three Caballeros ) , O filme leva Donald a uma aventura pela América Latina combinando live-action com animação e com participação de seus amigos latino-americanos, o mexicano Panchito e o brasileiro Zé Carioca. A parte brasileira contou com diversas composições de autores conhecidos tais como Ary Barroso em “Na baixa do sapateiro” ou “Baía” e “Os quindins de Iáiá“, esta cantada por Aurora Miranda, irmã de Carmen Miranda, além de Dorival Caymmi (não creditado, “Você já foi à Bahia?” ou “Have You Ever Been to Baía?“, cantada por Zé Carioca) e João de Barro.

Em setembro de 1934, Donald teve o curta de Silly Symphonies adaptado para os jornais em forma de quadrinhos. Assim, o pato favorito das animações (claro que o posto é disputado com o Patolino da Warner) deu o primeiro passo em uma nova dimensão, os quadrinhos, e Donald ganhou sua tira dominical nos jornais a partir de 1936, desenhado por Al Talaferro, e a partir de 1943 pelo mestre Carl Barks. Foi ele quem passou a produzir material inédito do personagem em vez de adaptações dos curtas, embora seu nome só começasse a aparecer nos créditos muito tempo depois. Foi também Barks quem melhor aproveitou o elenco coadjuvante já existente como os sobrinhos Hughinho, Zezinho e Luisinho, a vovó Donalda e a namorada Margarida. Barks veio a criar depois o primo Gastão e o avarento Tio Patinhas e ajustou a imagem do Pato fugindo um pouco da rabugice desenfreada e transformando-o em um trabalhador explorado pelo tio. Até se aposentar em 1968 Carl Barks desenhou mais de 500 histórias com Donald.

No Brasil o personagem foi publicado ininterruptamente pela editora Abril de 1950 a 2018 com grande sucesso. Em 1968 Donald virou o herói mascarado SuperPato (Duck Avenger) criando sua identidade super-heróica originalmente como meio de vingar-se secretamente de parentes como Tio Patinhas e Gastão e também do seu vizinho o Silva, mas logo começou a combater outros adversários. No Brasil e tornou rapidamente um personagem popular no Brasil e atraiu o interesse de muitos importantes artistas de quadrinhos brasileiros, chegando a formar um clube de super-heróis de Patópolis (que recebeu mais de um nome nas histórias), inspirado em supergrupos como a Liga da Justiça da DC Comics, geralmente com as participações de Superpata (identidade secreta de Margarida, originalmente desenvolvida como uma antítese feminista do Superpato), Superpateta, SuperGil, Vespa Vermelha, Morcego Vermelho e Borboleta Púrpura (identidade secreta de Glória, namorada de Peninha). Com tanto sucesso não há dúvida que esse aniversário deve ser celebrado por crianças de todas as idades, até mesmo as de 54 como eu quack quack quack !!!!!