ISTO É FATO… NÃO FITA! PRISÃO E JULGAMENTO DE AUDIE MURPHY

Por Paulo Telles

Não é nenhum filme! Não é uma Fita… mas sim um Fato!!! Um de tantos casos reais registrados em ISTO É FATO…NÃO FITA!

Audie Murphy (1924-1971) foi o soldado americano mais condecorado da II Guerra Mundial, recebendo a Legião de Honra Francesa e a Medalha de Honra do Congresso Americano. Devido aos seus feitos heroicos na guerra, onde chegou a ser ferido no quadril (impossibilitando-lhe seguir a carreira militar), ele ganhou passaporte para Hollywood, onde notabilizou-se estrelando  faroestes modestos como um dos astros de maior prestígio do gênero, entre os quais Serras Sangrentas (Sierra, 1950), A Morte Tem Seu Preço (Gunsmoke, 1953), e Tambores da Morte (Drums Across The River, 1954).

Audie Murphy. De herói americano da II Guerra a ídolo do Faroeste

Atuou para o lendário diretor John Huston (1906-1987) em duas ocasiões: no clássico A Glória de Um Covarde (The Red Badge of Courage,1951), e O Passado não Perdoa (The Unforgiven,1959), contracenando com Burt Lancaster (1913-1994) e Audrey Hepburn (1929-1993). Murphy consolidou-se também como empresário no mundo dos negócios, mas lamentavelmente era viciado em jogos de azar, e por conta disso, perdeu controle sobre seus negócios, vindo a declarar falência em 1968. Seus filmes também não iam nada bem, pois Murphy era considerado obsoleto para os padrões dos westerns mais revisionistas que pela primeira metade da década de 1960 ocupavam o mercado cinematográfico, como a onda europeia dos faroestes a italiana.

Audie Murphy, de bigode, contracenando com Audrey Hepburn, Burt Lancaster, Doug McClure e Liliam Gish em O PASSADO NÃO PERDOA (1960) de John Huston.

Tristemente, Murphy era capaz de surtos de violência. Falido e desempregado, o ator tão enormemente consagrado como o mocinho por excelência dos faroestes americanos, era agora o centro das manchetes, não das colunas de cinema, mas sim das colunas policiais. Em 1962, Murphy abordou dois jovens com um distintivo honorário de xerife, que, segundo ele, teriam enviado “cartas indecentes” a uma amiga do ator, e no “interrogatório”, Murphy espancou um deles e ameaçou o outro com a arma que ele portava. Em maio de 1969, envolveu-se em uma briga de bar, sendo processado por agressão por arma de fogo, espancamento e distúrbio da ordem.

Audie Murphy, um dos soldados norte-americanos mais condecorados da II Guerra

O pior ocorreu em 1970, quando Murphy foi acusado de invadir a residência de David Goldenstein, treinador de cães, em quem atirou sem conseguir atingi-lo. O ator fugiu após a agressão, mas a polícia encontrou-o em sua casa pouco tempo depois, descobrindo um verdadeiro arsenal de armas no local. O ator foi preso, e o Tribunal de Burbank, Califórnia, fixou uma fiança de R$1.350 dólares para sua soltura. Pago a fiança, Murphy prometeu ao juiz comparecer a primeira audiência em 6 de julho de 1970 para responder ao processo. O outrora cowboy ídolo das telas evitava falar com jornalistas, sendo encarregado para isso seu advogado, que sempre dizia que seu cliente era inocente de todas as acusações.

Murphy fazendo o papel dele mesmo na guerra no biográfico TERRÍVEL COMO O INFERNO (1955)

Devido ao histórico de guerra e sua contribuição aos Estados Unidos, Murphy respondeu o processo em liberdade, mas só em 1971 foi declarado absolvido da acusação de tentativa de homicídio. Durante a audiência no Tribunal, o ator ao ser interrogado pelo juiz se era mesmo verdade que ele tentou matar o homem que o processava, respondeu da seguinte forma:

Meritíssimo, se fosse verdade que quisesse matar este homem, eu carregaria uma arma e não perderia um tiro sequer. Eu sei atirar e sou bom de mira.

Audie Murphy em audiência no Tribunal de Burbank, em 1971, pouco antes de sua morte (foto à esquerda). Ao lado, o jovem combatente condecorado que faria sucesso como um dos grandes cowboys de Hollywood.

O Juiz cumprimentou Audie Murphy pela resposta e isto foi o suficiente para absolve-lo. Murphy, que além dos sofrimentos que passou no front, e dos traumas que ele adquiriu (que incluíam ataques de insônia e depressão) levaram o ator a tornar-se viciado em Placidyl, um poderoso sonífero. Quando conseguia dormir, ele tinha pesadelos e sempre dormia com uma pistola debaixo do travesseiro. Mas a longo prazo, o ator conseguiu vencer a dependência do Placidyl.

Audie Murphy morreu a 28 de maio de 1971, com apenas 46 anos, em um acidente de avião que ele mesmo pilotava, com mais cinco pessoas, ao chocar-se em uma montanha durante uma tempestade. Ele seguia para uma viagem de negócios que, segundo ele, iria reergue-lo.  Murphy está sepultado no Cemitério de Arlinton, em Washington, destinado para celebridades nacionais e heróis americanos como o próprio ator. No mesmo cemitério estão sepultados o presidente John Kennedy e o ator Lee Marvin. A vida e os feitos heroicos de Audie Murphy na II Guerra foram retratados no cinema no filme Terrível como Inferno (To Hell and Back, 1955) de Jesse Hibbs (1906-1985), com o próprio Murphy fazendo seu papel.

Um caso em nossos registros, afinal, Isto é Fato…Não Fita!

Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.

https://cineretroboavista.blogspot.com/

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