Por Adilson Carvalho

Durante uma viagem de trem com Cary Grant, seus olhos naturalmente misteriosos e sedutores fizeram dela uma imagem indelével para toda uma geração. Assim conheci e me apaixonei por Eva Marie Saint, que hoje completa 100 anos, uma lenda viva cujos papéis vividos nas telas são inesquecíveis, mesmo que durante um bom tempo seu talento ficasse restrito à imagem de loira platinada, herdeira de um estereótipo que Hollywood sempre explorou. Mas Eva soube conduzir sua carreira do cinema para a TV com dignidade, garantindo seu nome entre os grandes das artes cênicas.

Nascida na cidade de Newark, no estado americano de Nova Jérsei em 3 de julho de 1924, estudou atuação na Bowling Green State University, tornando-se membro da fraternidade Delta Gamma. Realizou uma série de trabalhos tanto no rádio como na televisão, até ganhar o Drama Critics Awards (Prêmio dos Críticos de Drama) por seu trabalho na peça de teatro A Trip to Bountiful, de 1953. Foi um feito extraordinário quando aos 30 anos fez sua estreia nas telas interpretando Edie Doyle, irmã de um estivador assassinado no clássico Sindicato de Ladrões (On The Waterfront), de 1954. O papel estava entre Eva e Elizabeth Montgomery (a Feiticiera), mas durante os testes, o diretor Elia Kazan contratou Eva chamando-a de “perfeita”, e lá estava a atriz iniciante contracenando com Marlon Brando (1924 / 2004). O filme foi um sucesso e deu à jovem atriz o Oscar de melhor atriz coadjuvante, prêmio que recebeu em mãos dois meses antes de dar à luz ao seu primeiro filho.
Seu talento e beleza não passaram despercebidos pelo mítico Alfred Hichcock (1899 / 1980) que a colocou junto de Cary Grant em Intriga Internacional (North by Northwest), único filme que o mestre do suspense fez para a MGM. O estúdio do leão queria Cyd Charisse, mas foi Hitchcock quem fez questão de escalar Eva. Segundo a atriz Sir Alfred Hitchcock, insatisfeito com os modelos que o estúdio tinha desenhado para ela, a levou à Bergdorf Goodman e escolheu pessoalmente as roupas para ela usar. Tanto Sindicato de Ladrões como Intriga Internacional vieram a ser escolhidos pelo Congresso americano como filmes a serem preservados devido à sua importância histórica e cultural. Com o diretor George Seaton, ela fez o excelente, embora pouco conhecido, 36 Horas (36 Hours) trabalhando ao lado de James Garner e Rod Taylor. No filme ela interpreta uma falsa enfermeira usada para descobrir o dia e lugar do desembarque aliado ao final da Segunda Guerra. Na década de 60 esteve com Elizabeth Taylor e Richard Burton em Adeus às Ilusões (The Sandpiper) de 1965, dirigida por Vincent Minelli; contracenou com Paul Newman em Êxodo (Exodus) de 1960, dirigida por Otto Preminger; voltou a atuar com James Garner em Grand Prix (1966), de John Frankenheimer, filmado em Cinerama, mas gradativamente foi diminuindo seus trabalhos em Hollywood.

Durante a década de 70 e 80 fez vários filmes feitos para a televisão, recebendo uma indicação para um Emmy pela minissérie A Conquista do Oeste (How The West Was Won), de 1977, e uma indicação para um Emmy pela série Taxi!!!, de 1978. Voltou a reunir-se com Karl Malden, co-estrela de Sindicato de Ladrões, no filme televisivo Fatal Vision, desta vez como a mulher da sua personagem, que investigava o homicídio da filha e das netas. Interpretou a mãe de Cybill Shepherd na série televisiva A Gata & O Rato (Moonlighting), um papel que se estendeu por outros episódios ao longo de três anos.

Saint regressou à telas do cinema pela primeira vez em mais de uma década em Nada em Comum (Nothing in Common) de 1986, no qual interpretou a mãe da personagem de Tom Hanks. Embora os críticos tenham aplaudido a sua volta ao cinema, a atriz continuou aceitando trabalhos na TV, e esporadicamente fazendo filmes para o cinema. Esteve também em África de Meus Sonhos (I Dream of Africa) em 2000 ao lado de Kim Basinger, e interpretou Martha Kent, a mãe do Superman no filme de Bryan Singer Superman – o Retorno (2006). Premiada, homenageada, Eva Marie Saint é uma das melhores atrizes de sua geração, uma das últimas ainda viva, nos lembrando de uma época memorável para Hollywood, para a TV, para as artes cênicas.