POr Adilson Carvalho

Na década se 70 os filmes catástrofes se disseminaram nas telas. A formula era simples, reunia-se um grupo seleto de grandes astros e estes eram postos em situações limites com sua sobrevivência posta em cheque por forças da natureza ou um trágico acidente. Durante a primeira metade da década de 70 haviam dois projetos similares sobre prédios em chamas. Um na Warner e outro pela Fox, respectivamente The Tower, de Richard Martin Stern e The Glass Inferno, de Thomas Scortia e Frank Robinson. Foi a primeira vez na história do cinema de dois grandes estúdios faziam um acordo assim. Ambos os romances foram inspirados na construção do World Trade Center, no início da década de 1970, e no que poderia acontecer com um incêndio num arranha-céus. No romance de Richard Martin Stern, o edifício fictício de 125 andares situa-se junto à torre norte do World Trade Center. O clímax do romance centrava-se num resgate montado a partir da torre norte.

Na história que transcorre na cidade de San Francisco, Doug Roberts (Paul Newman), um arquiteto, retorna de longas férias e encontra quase terminado o arranha-céu que projetou. Na verdade, se trata do maior edifício do mundo, com 138 andares de escritórios e residências, além de ter um restaurante de luxo e um heliporto na cobertura. No dia da festa de inauguração, descobre que as especificações da instalação elétrica não foram seguidas e que o prédio está sujeito a curtos-circuitos. E o pior acontece quando um incêndio começa, deixando vários convidados presos no andar de cima, sendo esta a principal preocupação de Michael O’Hallorhan (Steve McQueen), o chefe dos bombeiros, pois além da coragem da sua equipe não existe equipamento contra incêndio que consiga atingir os andares mais altos desta colossal construção e, se o fogo não estiver logo controlado, o número de vítimas será imenso. Além disto, alguns convidados se apavoram, dificultando o resgate. O elenco ainda incluia William Holden, Faye Dunaway, Robert Wagner, Richard Chamberlain, Fred Astaire, Jennifer Jones, Robert Vaughn, O. J. Simpson e Susan Blakely. Foi por esse filme que Fred Astaire recebeu sua única indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante, curiosamente não sendo um musical. Foi também o último filme da atriz Jennifer Jones, que se aposentou após Inferno na Torre.

Os nomes de Paul Newman e Steve McQueen aparecem nos créditos de abertura, nos créditos de encerramento e nos cartazes, de modo a que, dependendo da forma como se lê (de cima para baixo ou da esquerda para a direita), ambos pareçam ter o maior destaque. Esta foi uma das exigências de Steve McQueen, que mantinha com Newman uma rivalidade velada, e sendo este o motivo pelo qual McQueen não fez o papel de Sundance Kid no clássico Butch Cassidy (1969, que veio a ficar com Robert Redford. No final, que foi melhor pago foi o ator William Holden, cujo contrato previa participação na bilheteria. Lançado no mesmo ano do trágico incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo, Brasil, em 1 de fevereiro de 1974, que causou a morte de 179 pessoas e foi provocado pelos mesmos motivos vistos no filme: defeito na fiação de um aparelho de ar condicionado, e que gerou o filme Joelma 23º Andar (1980). Inferno na Torre teve o nome de Irwin Allen na produção, o mesmo criador de várias séries clássicas de TV nos anos 60 como Perdidos no Espaço e Viagem ao Fundo do Mar, e que havia também realizado O Destino do Poseidon, dois anos antes. Allen também dirigiu várias cenas de ação do filme.

O filme, dirigido por John Guilhermim, brinca com espectadores acrofóbicos, movidos pélo show de pirotecnia criado. No final uma mensagem de alerta quando o Chefe dos bombeiros (McQueen) diz “Por que vocês insistem em fazer prédios tão altos, quando sabem que acima de 7 andares nada podemos fazer ? “. Um soco no estômago de uma engenharia irresponsável, mas para o gênero uma realidade de pesadelo que cumpre ainda, 50 anos depois o propósito de fazer o espectador roer as unhas de tensão.
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