HQ TERRITORIO NEUTRO | 40 ANOS DA DC COMICS NA ERA ABRIL

Por Adilson Carvalho

Era um dia de domingo e eu estava indo comprar o jornal para minha mãe quando me deparei com três revistas novas na banca. As edições acima estavam fresquinhas na prateleira e traziam a DC Comics de volta depois de pouco mais de um ano em que a Ebal havia perdido os direitos de publicação no Brasil. Era julho de 1985 e a primeira página prometia “Esta é a Nova DC e nada pode nos deter agora“. Uma chamada publicitária de impacto diluída nos títulos Super -Homem, Batman e Heróis em Ação. Curioso que na época a editora Abril unificara a Marvel Comics no Brasil, que durante um tempo estava fragmentada entre a Abril e a RGE, e agora com a DC formava-se um monopólio nos quadrinhos de super-herói, mas como dizia “Nada poderia deter a Abril agora“.

O padrão do formatinho era meio desanimador, mas de casa nova no Brasil, a DC Comics alcançava uma nova geração de leitores. O erro dos editores da Abril foi a falta de planejamento com a continuidade do universo DC, mesmo erro cometido com a Marvel no passado. A primeira edição de Super Homem da Abril, por exemplo, começava com uma história desenhada por Gil Kane onde o último filho de Krypton enfrenta o vilão Brainiac, história essa de 1983 publicada originalmente em Superman Special #2. Nas edições seguintes a Abril publicava algumas histórias mais recentes, mas voltava para fases distintas do herói já publicadas pela Ebal como a saga da criatura de areia, as histórias desenhadas por Jack Kirby, intercaladas com os trabalhos de Curt Swan, Garcia Lopez e outros. Não havia preocupação em desenvolver a cronologia. O espaço das histórias que completavam o mix também eram fracas como Arion o Mago da Atlântida e Ametista, além da excelente Legião dos Super Herois, que salvavam o mix das edições do Super. Já Batman intercalava a excelente fase de Denny O’Neill e Neal Addams com outras do homem morcego saídas dos títulos Detective Comics, The Brave & The Bold e Batman. Apesar da excelente qualidade destas, eram histórias já publicadas pela Ebal em vez de fases mais recentes que permaneciam inéditas. O mix, no entanto, trazia como material então inédito as histórias do Caçador de Walt Simonson e a fabulosa Camelot 3000 de Mike W. Barr e Brian Bolland, que reimagina as lendas arturianas no futuro.

O título Heróis em Ação trazia duas excelentes novidades que marcaram época, os Novos Titãs de Marv Wolfman e George Perez e o Esquadrão Atari de Gerry Conway e Garcia Lopez. Novamente havia uma visível falta de planejamento com histórias soltas na cronologia do Superboy, republicações do Guerreiro e as clássicas histórias da dupla Lanterna Verde & Arqueiro Verde de Denny O’Neill e Neal Adams. Tristes ausências eram as histórias da Liga da Justiça que saíram apenas duas de 1974, e depois saltaram para algumas poucas histórias com o traço de George Perez, que era muito maior do que parecia. Os três títulos duraram apenas 1 ano, após o qual Batman e Heróis em Ação foram substituídos pelo almanaque SuperAmigos. Super Homem continuou para o alto e avante, enquanto a Abril arrumava a casa para a chegada de Crise na Infinitas Terras, mas isso já é outra história.

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