HQ TERRITORIO NEUTRO | O MONSTRO DO PÂNTANO POR ALAN MOORE: EDIÇÃO ABSOLUTA VOLS. 1 a 3

Por Leandro “Leo” Banner

O QUE ACONTECEU ANTES? Depois que Len Wein deixou o título THE SWAMP THING na edição #13, David Michelinie assumiu como roteirista a partir da #14 até a #18, e também das edições #21-22, com Gerry Conway escrevendo as edições #19-20 e #23 até a derradeira edição 24, nessa última acompanhado de David Anthony Kraft como corroteirista, quando o título foi, finalmente, cancelado. A única coisa a lamentar nessas edições foi o grande desperdício do talento de NESTOR REDONDO, até a edição #23, porque as histórias são HORRÍVEIS. Mas são tão ruins que praticamente a maior parte de seus acontecimentos (que não vale a pena nem mencionar)foi totalmente desconsiderada. Essas histórias, salvo engano, nunca foram publicadas no Brasil (ainda bem!😝). De 1976 até 1982 o Monstro do Pântano ficou meio esquecido até ressurgir no novo título THE SAGA OF THE SWAMP THING #1, em maio daquele ano de 1982, em decorrência do filme O MONSTRO DO PÂNTANO do mesmo ano, dirigido por Wes Craven com Ray Wise no papel do doutor Alec Holland. O ressurgimento do título no embalo do filme foi ideia do cocriador do personagem, LEN WEIN, que dessa vez retornou apenas como editor, deixando os roteiros dessa nova encarnação da revista para MARTIN PASKO e a arte a cargo do competente TOM YATES (tanto desenhos como arte-final, sendo auxiliado em várias edições por Stephen R. Bissette, John Totleben e Rick Veitch, ainda que nenhum desses artistas tenham sido creditados por isso).
Pasko inicia uma trama que envolve a fugitiva Karen Clancy que passa ser protegida pelo o Monstro do Pântano até que o segredo por trás dela é finalmente revelado. Uma trama sem maiores qualidades que se estende da primeira edição até a edição #13, que, não obstante a pretensa trama de terror envolvendo Clancy, serviu para introduzir personagens que teriam alguma relevância futuramente na saga, que são o General Sunderland, dirigente da poderosa Corporação Sunderland com fortes ligações governamentais que objetiva capturar o Monstro do Pântano para dissecá-lo e descobrir mais detalhes sobre as modificações ocasionadas pela fórmula biorrestauradora no corpo de Holland; o doutor Dennis Barclay, antigo empregado da Corporação Sunderland que, ao descobrir sobre suas operações clandestinas e obscuras, decide abandonar seu posto e se juntar à repórter investigativa Liz Tremayne que, em busca da matéria envolvendo o Monstro do Pântano, acaba se deparando com Sunderland e muito mais do que poderia imaginar em sua investigação.

Filme de 1982

Na edição #16, a excelente dupla artística composta por Stephen R. Bissette e John Totleben assume oficialmente as ilustrações, respectivamente, como desenhista e arte-finalista regulares da série, que segue sob o comando de Martin Pasko até a edição #19, trazendo novamente um embate do Monstro com um deformado e ressurgido Anton Arcane. Nessas últimas edições escritas por Pasko, o roteirista traz de volta Matt Cable e Abigail Arcane, agora casados, e vivendo uma discreta vida no interior tentando escapar da perseguição empreendida pela Corporação Sunderland em função da ligação do casal com o Monstro do Pântano. Obviamente a chegada do Monstro e seu combate com Arcane fazem cair por terra as pretensões do casal mas restabelece a amizade entre o trio, sobretudo entre Abby e Holland. O embate entre o Monstro e Arcane resulta, supostamente(mais uma vez), na morte do vilão, e dessa forma Martin Pasko encerra sua passagem pelo título na edição #19. Salvo engano, as histórias escritas por Martin Pasko nunca saíram no Brasil até o momento; sinceramente falando, as edições #1 a 15 são bem fracas e dispensáveis, mas as edições #16 a 19 de THE SAGA OF THE SWAMP THING valeriam uma publicação até mesmo para ajudar a contextualizar algumas situações e mostrar o que veio imediatamente antes dos eventos narrados a partir da chegada de Alan Moore no título, uma vez que a edição #19 não conclui absolutamente NADA (muito pelo contrário, deixa a trama totalmente aberta).

A CHEGADA DE ALAN MOORE. ALAN MOORE assume as rédeas do título ao estrear como roteirista da série em THE SAGA OF THE SWAMP THING #20, com a história “PONTAS SOLTAS”, primeira história de MONSTRO DO PÂNTANO – EDIÇÃO ABSOLUTA VOL. #1, da Panini Comics Brasil, iniciando, assim, uma das fases mais espetaculares e memoráveis de todos os tempos de um personagem de quadrinhos. Antes de prosseguir, porém, vale a pena mencionar um detalhe essencial relativo aos artistas Stephen R. Bissette e John Totleben, que já vinham atuando no título desde a primeira edição auxiliando Tom Yates nas ilustrações mesmo não sendo creditados por isso, e, também contribuindo com ideias para argumentos e roteiros igualmente não creditados, algumas (poucas) aceitas e utilizadas por Martin Pasko, e outra grande parte utilizada e aprimorada por Alan Moore naquela que é considerada, por este escriba, uma das melhores fases de todos os tempos na história das HQs. Em sua edição de estreia, Moore encerra os arcos dos personagens Liz Tremayne e Dennis Barclay, permite que Holland confirme a (aparente) morte de Arcane enquanto Sunderland prepara sua investida definitiva contra o Monstro do Pântano. Ao final da história a equipe de Sunderland consegue alvejar e capturar a criatura, o que nos conduz aos acontecimentos de SWAMP THING #21, com a história “LIÇÃO DE ANATOMIA”, que se consubstancia num verdadeiro divisor de águas para o personagem, com Sunderland promovendo uma dissecação e estudo aprofundados da criatura com o auxílio de Jason Woodrue, o vilão Homem Florônico que, pela natureza de seus poderes desenvolve naquele momento uma certa obsessão pelo Monstro. Neste post não serão informados detalhes a respeito do que Alan Moore promove na edição para não correr o risco de arruinar o prazer da descoberta de eventuais novos leitores que venham a ler esta resenha. A partir da edição seguinte os acontecimentos se dão como um recomeço na trajetória do personagem que enfrenta ameaças verdadeiramente aterrorizantes, com destaque para o Rei Macaco contando com a participação especial de Etrigan (criações de Jack Kirby, justamente homenageado por Moore à época). E a criatura segue enfrentando ameaças aterrorizantes como Arcane, que ressurge do limbo para se vingar de Holland ao causar um sofrimento excruciante para Abigail Cable. Moore aproveita para inserir no cânone da saga do Monstro do Pântano a história com a primeira aparição do personagem em HOUSE OF SECRETS #92, e certamente é um detalhe que fará todo sentido no desenvolvimento das tramas no segundo volume.
O primeiro volume termina com uma das mais belas e poéticas histórias já concebidas, chamada “RITO DE PRIMAVERA” (THE SAGA OF THE SWAMP THING #34), uma das histórias preferidas deste que vos fala), que contém um grau de sensibilidade artística e lirismo pouquíssimas vezes vistas em uma História em Quadrinhos (história altamente recomendada para a categoria “Quadrinhos com Poesia”, SE houvesse tal categoria).😝😝 No segundo volume, ALAN MOORE, ainda em companhia de Stephen R. Bissette nos desenhos e Joe Totleben na arte- final (eventualmente com edições ilustradas por Shawn McManus e também por Rick Veitch e Alfredo Alcala), envereda por caminhos mais voltados para o misticismo, ainda que com excelentes doses de terror, em histórias que vão desde contundentes críticas a agressões ao Meio-Ambiente (com o personagem “Fuça Radioativa” sendo um grande representante de tais agressões), chegando a alegorias que mostram a opressão sofrida pelas mulheres na sociedade em geral, ainda que numa narrativa bem autocontida e repleta de significados e muita sensibilidade. Também nesse volume temos a primeira aparição de JOHN CONSTANTINE, criação conjunta cujo conceito originário partiu da dupla artística Bissette e Totleben, magistralmente desenvolvida por Alan Moore.
Também nesse volume que se dá o início da épica saga “O GÓTICO AMERICANO”, em que Moore incrementa o suspense aliado ao terror, sobretudo em histórias onde Constantine induz Holland a vivenciar situações que o levarão a um maior entendimento sobre si próprio, passando por uma conexão com a saga CRISE NAS INFINITAS TERRAS. Entretanto , o grande mote desse segundo volume é a épica batalha da Luz contra as Trevas, o Bem contra o Mal, em que vários personagens ligados ao ocultismo da DC se juntam ao Monstro do Pântano nesse embate com potencial cataclísmico, como Espectro, Mento, o mago Zatara e sua filha Zatanna, O Vingador Fantasma, Desafiador, Senhor Destino e Etrigan, além do próprio Constantine. E enquanto o Monstro do Pântano encontra-se afastado nesses embates, alguns acontecimentos mal interpretados em Houma ocasionam a prisão de Abby.
O Volume 3 da EDIÇÃO ABSOLUTA DO MONSTRO DO PÂNTANO POR ALAN MOORE começa com Holland traçando seu caminho de volta aos pântanos da Louisiana enquanto a situação de Abby vai adquirindo novos contornos depois de ser liberada da prisão. Depois de todo ostracismo ocasionado pela injusta prisão em Houma, Abby decide sair da cidade indo parar em Gotham City, onde se vê enredada em outra confusão que ocasiona nova detenção. Ao puxar a ficha criminal da médica, o judiciário de Gotham se mostra tão intransigente quanto o de Houma. Ao constatar o que houve com Abby ao chegar nos pântanos da Louisiana, o Monstro do Pântano é tomado por uma revolta e raiva incomensuráveis, se dirigindo a Gotham tomado por grande fúria e disposto a tudo para libertar sua amiga. Mais um dos melhores momentos de toda essa fase, que resultará em consequências inesperadas para a criatura do pântano.

CONCLUSÃO:. Nesse post se evitou ao máximo informar sobre maiores detalhes que pudessem comprometer o prazer da leitura dessa fase de ALAN MOORE à frente do Monstro do Pântano. A despeito dos valores realmente “salgados” desses três volumes das Edições Absolutas, deve-se levar em conta que, além do excelente papel couché e do formato diferenciado que valoriza sobremaneira o talento dos artistas encarregados das belas ilustrações das histórias, tem-se um excelente trabalho de recolorização que melhorou consideravelmente a ambientação das tramas, sem mencionar a farta quantidade de extras presentes na coleção que sempre enriquecem a experiência da leitura. Não obstante, uma coisa é certa, a fase de Alan Moore à frente do Monstro do Pântano não apenas redefiniu o personagem mas foi um verdadeiro marco na história da Nona Arte porque se consubstanciou no embrião do Selo Vertigo da DC, de onde se originou inúmeras outras pérolas das HQs. E em acréscimo a esses singelos detalhes, tem-se simplesmente uma das melhores fases de todos os tempos, em histórias verdadeiramente diferenciadas com uma prosa rica e acima da média, infinitamente superior a muita coisa produzida atualmente no mainstream, e um dos TOP 3 melhores trabalhos de ALAN MOORE. Vale MUITO o investimento.

OBRA-PRIMA! Recomendadíssimo! Sem mais!😉

Avaliação: 5/5.

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