Por Adilson Carvalho

Digo de imediato que sou da geração que cantou junto com o Barão Vermelho a canção título e assisti ao filme com uma apaixonante Debora Bloch. Foi na verdade o primeiro filme da trilogia de Rock do cineasta Lael Rodrigues (1951/1989), prematuramente falecido aos 37 anos. Lançado em agosto de 1984 no Rio de Janeiro, o filme rapidamente tornou-se um sucesso de bilheteria, coincidindo com o advento crescente do Rock Nacional e com a abertura maior da censura. O filme chegou às telas no mesmo mês que o governador Tancredo Neves e o senador José Sarney eram escolhidos como candidatos a presidente e vice-presidente da República, pela primeira vez sendo assim um governo civil, com o último fôlego do governo militar. Bete Balanço foi o filme nacional mais assistido nos cinemas no ano de 1984, desbancando inclusive sucessos internacionais como Footloose (lançado um mês antes), e Indiana Jones & O Templo da Perdição. A performance de Débora Bloch foi aclamada pela crítica, lhe rendendo o Prêmio Air France de melhor atriz protagonista e o Prêmio APCA de melhor atriz de cinema.
Na história, Bete é uma jovem sonhadora vinda de Governador Valadares, que se estabelece no Rio. Auxiliada por seu namorado Rodrigo (Lauro Corona) e por diversos amigos, entre eles Paulinho (Diogo Vilela), ela se inicia nas dificuldades da indústria fonográfica, com as quais se decepciona. Seguindo o clichê sexo, drogas e rock and roll, o filme traça um panorama da juventude e do rock brasileiro dos anos 1980. Lael Rodrigues co-escreveu o roteiro com a autora Yoya Wursch dando o primeiro passo para sua trilogia do Rock brasileiro continuada com Rock Estrela (1986) e Rádio Pirata (1987). Foi Yoya quem modificou a ideia inicial de fazer Bete uma aspirante a chacrete, tornando-a uma amante do Rock. A cantora Paula Toller chegou a ter o papel de protagonista oferecido a ela, mas recusou. Finalmente foi contratada a maravilhosa Débora Bloch, vindo de novelas globais. Diversos artistas e bandas da geração 80 aparecem no filme, como Barão Vermelho, Lobão, Titãs, Brylho, Manhas e Manias e Celso Blues Boy. Cazuza e Frejat são os autores da música que deu nome ao filme, que veio a ser o último filme do saudoso Lauro Corona, falecido em 1989. Difícil para a juventude de hoje imaginar o impacto cultural do filme para quem viveu a época de um futuro duvidoso, de grana e dor e que mesmo a palma da mão de Lael Rodrigues não conseguiu prever, mas que vale a pena rever. Disponível na Globoplay.