Por Paulo Telles

E Vamos para mais um “causo” em Isto é Fato… Não Fita!
No dia 13 de setembro de 2022, o mundo amanheceu com a notícia do falecimento, aos 91 anos de idade, do mestre e cineasta sueco-francês Jean-Luc Godard (1930-2022), crítico de cinema do famoso Cahiers du Cinema e diretor de grandes obras primas do cinema internacional, inaugurando o Nouvele Vague (Nova Onda, em português) responsável por inúmeros trabalhos expressionistas caracterizados pela juventude dos seus autores, unidos por uma vontade comum de transgredir as regras normalmente aceitas do cinema comercial.
Contudo, é importante saber que Godard era, antes de tudo, um artista liberal, conhecido por seus trabalhos polêmicos, anárquicos e vanguardistas, e como tal, ele era inimigo declarado de um dos mitos de Hollywood que representava o seu oposto – um astro que simbolizava a macheza, truculência e extremismo na política norte-americana – John Wayne (1907-1979), o cowboy por excelência que nunca escondeu seu radicalismo e sua posição de extremo republicano. Godard nunca escondeu que tivesse, em toda sua vida, odiado John Wayne, tanto por suas posições políticas quanto pela própria pessoa do ator norte-americano (dizia odiá-lo!). Entretanto, quando um dos filmes mais famosos do Duke foi lançado mundialmente em 1956, RASTROS DE ÓDIO (The Searchers), dirigido por outro grande mestre, John Ford (1895-1973), Godard fez questão de assistir por consideração a Ford, mesmo tendo que tolerar Wayne ao longo de quase duas horas de projeção.
Godard, um jovem de 27 anos e já convicto de suas ideologias políticas de esquerda, sabendo das posições extremistas de Wayne, ao assistir The Searchers foi conduzido às lágrimas, não somente pela obra prima dirigida por Ford, mas também pela própria atuação de John Wayne. Godard, um cineasta anárquico, acabou rendendo-se ao desempenho de Wayne, reconhecendo sua esplendorosa atuação, mesmo odiando-o por seu posicionamento político, declarando que foi através da “Magia do Cinema” ser humilde o suficiente para se ajoelhar perante o grande ator John Wayne, mesmo com todas suas diferenças políticas e pessoais”.
Um momento de humildade e sensatez que faz parte da história do grande mentor Jean-Luc Godard, e também dos nossos registros, afinal, Isto é Fato…Não Fita!.
Paulo Telles é radialista (DRT 21959/RJ), crítico de cinema, escritor, produtor e redator da coluna Cine Retro BoaVista. Abaixo o link da coluna para acessar. O “Isto é Fato…Não Fita” foi um quadro do programa “Cine Vintage” pela extinta Web Rádio Vintage.