Por Adilson Carvalho

Aos 39 anos, completados hoje, Lily Gladstone é de um talento singular, capaz de com um olhar transmitir mais do que mil palavras. Lily descende da tribo indígena Piegan Blackfeet,  do estado de Montana. Lily, europeia por parte de mãe e Blackfeet por parte de seu pai, foi criada na reserva indígena até seus 11 anos. Além disso, Lily é tataraneta por parte de pai do chefe da Nação Kainai, Red Crow. Aclamada pela crítica por interpretar Mollie Kyle, uma mulher Osage que sobreviveu aos assassinatos dos índios Osage, no excelente filme de Martin Scorsese, Assassinos da Lua das Flores (2023), Lilan Rose Mary Gladstone, seu nome de batismo, decidiu ser atriz depois de assistir O Retorno de Jedi (1983). Algum tempo depois ingressou no Missoula Children’s Theatre, e em 2004 ela se formou na Mountlake Terrace High School em Mountlake Terrace, Washington. Em 2008, se formou na Universidade de Montana com Bachelor of Fine Arts (BFA) em Atuação/Direção e especialização em Estudos Nativos Americanos.). A estreia da atriz no cinema aconteceu em Jimmy P. (Psychothérapie d’un Indien des Plaines) (2012). Ela então atuou em Winter in the Blood (2012) e Buster’s Mal Heart (2016) antes de fazer sua carreira como Jamie, uma fazendeira, no filme de Kelly Reichardt, Certain Women (2016). O papel rendeu a Gladstone o Prêmio Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles de Melhor Atriz Coadjuvante e o Prêmio Sociedade de Críticos de Cinema de Boston de Melhor Atriz Coadjuvante. Ela também recebeu indicações para o Independent Spirit de melhor atriz coadjuvante e o Gotham Independent Film Award de Atuação Inovadora. Apesar dos poucos trabalhos, tais honrarias lhe deram um respeitável currículo. “Alguns dos primeiros filmes, penso que o primeiro filme, eram de pessoas nativas“, diz Katie Razzall, editora de cultura e media da BBC. “Éramos nós a filmarmo-nos a nós próprios e a documentar algumas das nossas danças.” Gladstone não é a primeira artista indígena a ser nomeada para o prémio de melhor atriz. Antes dela a neozelandesa Keisha Castle-Hughes, foi indicada em 2002 por A Encantadora de Baleias, e a mexicana Yalitza Aparicio foi indicada por Roma (2018). Mas Gladstone é a primeira atriz indígena dos Estados Unidos a conquistar a indicação. Fo uma forte candidata ao Oscar, mas teve a concorrência de Emma Stone, a estrela de Pobres Criaturas, que levou a estatueta dourada. Resultado inverso foi o SAG awards desse mesmo ano, que deu a Lily o reconhecimento por sua atuação em Assassinos da Lua das Flores, tornando-se a primeira atriz nativa americana a ganhar o prêmio. Gladstone usa os pronomes ela e they. Ela explicou em 2023: “Na maioria das línguas nativas, na maioria das línguas indígenas, incluindo blackfeet, não há pronomes de gênero. Não existe ele/ela, existem apenas ‘they’… meu uso de pronomes é em parte uma forma de descolonizar o gênero para mim“. Este ano também esteve na minissérie da Hulu Under the Bridge, drama policial no estilo true crime, desenvolvido por Quinn Shephard e baseada no livro homônimo de Rebecca Godfrey. Com dois filmes em pós produção, ainda veremos muito desta talentosa atriz nas telas em breve.