HQ TERRITORIO NEUTRO: SPECTREMAN

Por Leo Banner

Hoje vou falar minhas impressões e tecer breves considerações sobre os quatro volumes do Mangá de SPECTREMAN, publicados pela primeira vez no Brasil pela melhor editora brasileira da atualidade, a Pipoca e Nanquim.

Spectreman é um “Tokusatsu”, um termo japonês utilizado para designar filmes ou séries live-action que se utilizam de uma generosa quantidade de efeitos especiais. Spectreman (ou Supekutoruman no original) foi um Tokusatsu criado por SOUJI USHIO (pseudônimo de TOMIO SAGISU) que foi ao ar originalmente no Japão entre janeiro de 1971 e março de 1972, com 63 episódios de aproximadamente 25 minutos de duração cada. Estrelada por Tetsuo Narikawa no papel título, a série produzida pela P. Productions e Krantz Films conta a história de um ciborgue enviado por Nebula 71 ao planeta Terra para combater os planos de dominação de Gori, o Simiode oriundo do Planeta E, que se utilizava da poluição para criar seus monstros. Ao chegar na Terra, sempre sob orientação dos representantes de Nebula 71(os Dominantes), Spectreman assume a aparência humana para se integrar à Divisão de Combate à Poluição e ficar sempre a par das incursões de Gori.
Com o simioide cientista sempre criando seus monstros através da poluição, caberia sempre ao nosso herói combater as criaturas ao longo de toda a série! Basicamente esse seria o mote de toda a produção televisiva assim como do mangá, que surgiu pouco tempo antes como forma de promover a telessérie na revista Bouken-ou, onde os quadrinhos seriam publicados de forma serializada. As similaridades do mangá com a série são várias, mas o mangá não é exatamente uma “cópia literal” da série! Há, por exemplo, algumas histórias nos quadrinhos com monstros que nunca apareceram na série (alguns supostamente de roteiros da série que não puderam ser filmados em função da limitação de recursos, como no caso de Galeron, o Monstro Fossilizado no mangá), e há também situações que são desenvolvidas de forma mais aprofundada no mangá do que na série, como no caso da história envolvendo o monstro Semáforo (Kurmaniklas no original), que surge a partir de um acidente de trânsito causado por um motorista irresponsável e inconsequente que atropela uma criança no começo da história, mas que encontra sua redenção no fim da trama (e isso não é exibido na tevê).

A propósito, vale mencionar também que os únicos nomes de personagens mantidos na dublagem brasileira quando a série passou no Brasil foram os de Kurata (chefe da Divisão de Combate à Poluição) e Gori! De resto, todos os demais nomes foram alterados na dublagem brasileira, realizada pela TVS (antiga SBT) através do estúdio Com-Arte-São Paulo, da seguinte forma:

Todas as histórias do mangá foram escritas pelo próprio criador da série, SOUJI USHIO, auxiliado eventualmente por Tougo Wakabayashi e Susumu Takahisa, e ilustradas por DAIJI KAZUMINE. A arte de Kazumine é dinâmica, explosiva e divertida, retratando bem a contento situações mais dramáticas, utilizando-se de expressivos closes faciais em pontos essenciais da trama. Em alguns momentos seu traço beira o cartunesco, mas isso não compromete em nada sua qualidade, nos deixando muito clara sua capacidade de retratar alguns embates muitas vezes mais longos e difíceis para nosso herói do que era possível retratar no Tokusatsu. Um detalhe digno de nota é que quando Gamou se transformava em Spectreman na série, basicamente víamos sempre a mesma cena dessa transformação, ao passo que no mangá, não há sequer uma cena de transformação que tenha se repetido; Kazumine retratou todas as transformações de forma diferente em todas as edições em que aparecem. Mas como nem tudo é perfeito, tenho algumas críticas, pois me deram a impressão de pontas que restaram soltas, pois, no mangá, Kurata parece desconfiar da identidade de Spectreman mas nunca passa disso, uma vez que ele jamais confronta Gamou em momento algum. As motivações de Gori para tentar dominar a Terra são mais bem delimitadas até um certo ponto, mas considero seu desfecho da batalha com Spectreman na última edição um anticlímax. Ainda que algumas tramas consigam ser mais bem desenvolvidas, assim como alguns personagens, ficamos naquela expectativa de ver o desenvolvimento de Gamou em suas duas personas ao longo do mangá, mas isso não acontece em nenhum momento, exceto pelo seu pensamento numa única história a respeito de sua mãe. Nada mais.

De qualquer forma, tirando esses pequenos detalhes, considerei o mangá uma leitura divertida e agradável que conseguiu me remeter à atmosfera da série que eu tanto curtia (e curto até hoje). Talvez essa visão saudosista tenha aplacado um pouco minha decepção com esses poucos detalhes, mas no geral, as quatro edições do mangá são preciosidades que valem muito a pena tanto para os fãs da série de televisão quanto para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de vê-la. É uma excelente opção de leitura leve, agradável e muito divertida, sem relegar ao esquecimento a essencial mensagem de todas as histórias acerca da poluição ambiental, da necessidade de maiores cuidados e defesa do meio-ambiente. Uma leitura altamente recomendada, sobretudo ao som da música THE FIRST DAY OF FOREVER, do grupo norte-americano The Mystic Moods Orchestra, que serviu de base para a versão americana da música de abertura da série de tevê, que marcou minha geração, já que foi essa abertura que sempre conhecemos (e me atrevo a dizer, é muito superior à original).😉

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

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