Por Adilson Carvalho

Apresentação: Atriz, cantora e dubladora, a voz de Evie Saide embala nossas emoções. Como heroína é a voz da Capitã Carter em Dr.Estranho no Multiverso da Loucura, personagem que também viveu em outros filmes da Marvel. A atriz Haylee Atwill, intérprete da Capitã Carter, também é dublada por Evie em Missão Impossível : O Acerto de Contas (2023). Na DC é a voz da Arlequina (Margot Robbie) do Esquadrão Suicida e de Aves de Rapina. Sua versatilidade é tanta que emprestou sua voz para animações como a Ginórmica de Monstros e Alienígenas, a Safira Estrela de Justiça Jovem, a Penélope Charmosa de Corrida Maluca e a boneca Barbie. Também é sua a voz da atriz Blake Lively, estrela do drama É Assim Que Se Acaba (It Ends With Us), que chega às telas de cinema neste fim de semana. Tenho muito orgulho em encontrar a talentosa Evie Saide, uma das vozes mais bonitas do Brasil.
Adilson: Você desde pequena já tinha vontade de atuar e dublar? Como foi para você iniciar sua carreira? Evie: Desde pequena eu queria ser atriz e participava de tudo na escola. Eu sempre gostei de fazer as vozes de personagens, e quando aos 8 anos meu pai comprou um videocassete, assisti A Pequena Sereia umas três vezes. Contei a história para minha mãe com todos os detalhes, fazendo as vozes. Minha mãe disse que tinha a sensação de que havia assistido ao filme diversas vezes devido à riqueza de detalhes que eu dei. Eu nem sabia na época que criança podia dublar e quando cresci fui fazer artes cênicas pois todo dublador precisa ser ator. No último ano da faculdade passei a fazer curso de dublagem e comecei a dublar já aos 21 anos. Meu ex professor de dublagem me chamou então para dublar a Dahlia na animação Skyland. Foi minha primeira vez em um estúdio de dublagem, o Double Sound, e já com um personagem fixo.

Adilson: Evie, você faz a voz da Blake Lively em vários filmes. Desta vez em um drama mas também já fez a Blake como na participação dela em Deadpool vs Wolverine. Como você consegue transitar tão bem entre gêneros tão distintos? Eu já faço a Blake há muitos anos , mais de 15 anos. Um prazer pois dublar a Blake foi meu primeiro papel importante na época da série Gossip Girl. Dei sorte que o Hércules, diretor de dublagem procurava vozes novas e eu estava lá, fui selecionada, foi uma experiência maravilhosa. Acompanhar o trabalho de uma atriz ao longo do tempo é muito bom, mesmo quando tem pouco tempo de tela como a Lady Deadpool. Fabuloso !
Adilson: Na recente animação da Prime Video Batman Caped Crusader você faz mais uma vez a voz da Arlequina. Como foi voltar a personagem depois desse tempo? Na verdade não passou esse tempo. Eu sempre dublei a Arlequina no filme das Aves de Rapina, no Esquadrão Suicida. A primeira dubladora da Arlequina foi a Iara Riça em Batman The Animated Series (1992), mas depois de seu falecimento eu fiquei com o papel. A única vez que não a dublei foi quando houve uma animação do Esquadrão Suicida, em que o estudio não chamou nenhum dos dubladores do filme. Mas em Batman Caped Crusader uma versão diferente da Arlequina já que ainda é uma terapeuta. Foi difícil apenas porque eu estava com uma forte crise de sinusite. Mas apesar disso foi ótimo.
Adilson: Qual seu filme favorito da Blake ? É Assim que Acaba é meu filme favorito da Blake. Eles chamaram os fãs do livro para assistir ao primeiro corte do filme e mudaram aquilo que não agradou. Isso foi admirável e demonstra o cuidado da equipe.
Adilson: Você tem alguma referência que lhe inspire na arte da dublagem? Um ídolo ou profissional do ramo que muito você vem a admirar? Evie: Sempre gostei muito do trabalho da Miriam Fischer (a dubladora da Nicole Kidman), mas também há vários outros que admiro. Gosto também do trabalho do Sergio Stern (o Mike Wazowski de “Monstros S.A”), o Márcio Simões (o Gênio do “Aladim”) entre outros que têm vozes muito marcantes. São muitos os colegas que são ótimos profissionais e pessoas. As pessoas que acompanham o trabalho de dublagem costumam dizer que quando um dublador fala, ele parece que está sendo dublado. Tive uma noção disso quando minha filha dublou o Homem de Ferro em Vingadores : Ultimato (Te amo mil milhões !). Meu marido conseguiu gravar um vídeo com ela antes de dormir no qual ela fazia a cena. Quando postamos, muitos disseram que ela parecia que estava sendo dublada.
Adilson: Como é para você conciliar o trabalho de atriz, cantora e dubladora, bem como também a relação com os fãs? Evie : Hoje em dia sou dubladora mais do que qualquer outra coisa. Já trabalhei no teatro, mas atualmente minha vida de atriz vem do meu trabalho na dublagem. Tenho muito prazer também de meu trabalho aqui no coral da escola (Colégio Imaculado Coração de Maria) e dou aula de dublagem para crianças. A dublagem é muito instável, tem épocas que aparecem muitos trabalhos para conciliar, e em outras você vive o oposto pois a dublagem é um trabalho muito sazonal. Eu trabalho para mais de 20 estúdios de dublagem no Rio de Janeiro e São Paulo. Cada dia meu trabalho é diferente do outro por conta disso.

Adilson: Qual é a maior dificuldade para o profissional da dublagem? Evie: Como em toda área profissional existem alguns obstáculos. Na dublagem muitas vezes alguém não qualificado pega um papel porque é indicado por alguém influente, tirando o trabalho de dubladores profissionais. Por isso muitas vezes, determinados filmes chegam à televisão com uma dublagem pobre e mal feita. Às vezes também vozes de bonecos (personagens) são trocadas e nenhuma satisfação é dada. Como em qualquer área profissional, coisas acontecem e nem todas são agradáveis.
Adilson: A tecnologia melhorou ou dificultou o trabalho do dublador? Evie: Antigamente os dubladores gravavam reunidos em uma mesma sala, mas hoje (Já antes mesmo da pandemia) gravamos sozinhos no estúdio e em diversos canais que a tecnologia permite serem depois editados e reunidos. Também gravamos juntos faixas de diálogo de fundo (chamamos de vozerio) onde há pessoas em uma cena gravada um restaurante ou sala de aula, e que compõem uma cena de pano de fundo. Depois da pandemia até o vozerio passamos a fazer sozinhos. Quando gravávamos todos juntos, se um de nós errasse uma fala, todos teriam que refazer toda a cena, mas agora como gravamos sozinhos conseguimos fazer e refazer editando tudo depois sem precisar que todo um elenco faça repetidas vezes a mesma cena. A tecnologia melhorou muito a dublagem, mas o perigo que paira sobre todos nós é o uso de I.A. Precisamos defender a Dublagem Viva.
Adilson: O que você pode falar sobre o seu curso de dublagem ? Evie: Há uns nove anos dou aula para crianças e adolescentes até os 14 anos, porque após essa idade é preciso profissionalização, ou seja precisa ter curso de teatro profissional para dublar. O curso é no Meier no estúdio profissional Artdub, pode entrar em contato comigo no número (21) 988111634. As crianças que já fazem algum curso de teatro, já são envolvidas com isso disparam na carreira, e as que ainda não fizeram se interessam em começar, para ficarem mais firmes na profissão.
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