Por Adilson Carvalho

No dicionário da língua Portuguesa Mandrake é um adjetivo que indica alguém estiloso e descolado, virou até nome de trend no Tik Tok. Há 90 anos, no entanto, Mandrake é nome de um mágico Ilusionista, clássico dos quadrinhos criado por Lee Falk e Phil Davis. Mágico, aventureiro, herói e até agente secreto Mandrake é personagem da primeira geração de heróis das hqs, da era de ouro, iniciada como tiras de jornais distribuídas nos Estados Unidos. Vestido com um fraque, gravata e cartola, Mandrake surgiu em 11 de maio de 1934 nas páginas do New York American Journal, distribuído pela King Features Syndicate. Seu gesto hipnótico pode ludibriar plateias em eventos beneficentes ou até mesmo combater o crime, acompanhado de seu fiel amigo Lothar, um príncipe africano dotado de super força e de sua eterna namorada a Princesa Narda. Juntos vivem aventuras em lugares exóticos e até mesmo em outra galáxia, bem ao gosto da influência dos pulps produzidos no período. A fase “espacial” do herói só seria publicada nas publicações de domingo como era costume na época que as tiras semanais seguissem uma continuidade diferente das aventuras de domingo. Assim foi também com Fantasma, por exemplo, outro personagem criado por Lee Falk.

Lee Falk recebeu severas críticas e acusações de racismo pela maneira como representou Lothar, visualmente com um calção e uma camisa pele de leopardo, mas procurou compensar o estereótipo colocando Lothar em posição de cumplicidade com Mandrake e não restrito a uma posição de “Mestre e subordinado“. Mas para isso foi preciso a passagem de um longo tempo, através do qual Phil Davis morreu e foi substituído por Fred Fredericks. A fase de Davis permaneceu sendo celebrada como a melhor. O tom das histórias ganhou uma dinâmica mais policial com Mandrake enfrentando conspiradores, espiões e sabotadores. O mágico passou a integrar uma agência de espionagem e ganhou como inimigos mortais a organização misteriosa chamada “Os Oito“. Nos anos 60, Mandrake passou a habitar a mansão Xanadu. Na verdade, o personagem era inspirado em uma figura real, o mágico Leon Mandrake, que já era extremamente popular na época em que a história em quadrinhos começou. Ele e Lee Falk tinham um acordo de aperto de mão para promover um ao outro. As esposas de Leon até apareceram na tira como personagens. Já os traços do rosto de Mandrake foram feitos por Phil Davis com base no próprio Lee Falk.

Em 1939 Mandrake foi adaptado como seriado de cinema, em 12 capítulos, vivido por Warren Hull. Lothar foi, no entanto descaracterizado na atuação do autor havaiano Al Kikume. A NBC chegou a produzir um piloto de TV em 1954, com intenção de virar série, estrelando o mágico de palco Coe Norton como Mandrake e Woody Strode (Spartacus) como Lothar. Outra tentativa foi feita em 1979, em um novo filme para TV com direção de Harry Falk (Nenhuma ligação com Lee Falk) trazendo Anthony Herrera como Mandrake e Ji Tu Cumbuka como Lothar. Em 1986 o personagem voltou a ficar extremamente popular com a série animada Defensores da Terra (Defenders of the Earth) onde Mandrake une forças a Flash Gordon e Fantasma ( todos heróis da King Features Syndicate) para impedir a invasão da Terra por Ming o Impiedoso. Essa série exibida originalmente no SBT teve roteiros de Stan Lee, bem apropriado se julgarmos que o Dr. Estranho da Marvel teve inspiração na figura de Mandrake.

Mandrake apareceu pela primeira vez no Brasil no Suplemento Juvenil, número 101, de 10 de agosto de 1935. Depois, passou para o Globo Juvenil e O Gibi. A partir de abril de 1953 a RGE começou a publicar uma revista mensal com as aventuras de Mandrake, que durou 325 edições até fevereiro de 1983, além de almanaques de periodicidade irregular e edições especiais. As histórias eram remontagens das tiras, muitas das quais ganharam republicações e, assim como o Fantasma, teve histórias inéditas produzidas por artistas brasileiros como Gutemberg Monteiro, Waldir Amaral, Juarez Odilon e M. Sardenha, todos escalados quando não havia material novo a publicar. Curiosamente, certa vez uma história de Flash Gordon chegou a ser remontada com o astronauta desenhado por Dan Barry se passando pelo mágico. Infelizmente na segunda metade dos anos 80 as vendas das revistas com os heróis da King Features não estavam bem e Mandrake teve todos seus títulos cancelados no Brasil. Há pouco mais de 10 anos rumores indicavam uma nova filmagem com o nome de Jonathan Rhys Myers citado como possível intérprete, mas não foi para frente. Sacha Baron Cohen também teve seu nome ligado ao projeto mas igualmente ainda não deu em nada. Lamentável! Com o sucesso de filmes como a franquia Truque de Mestre seria interessante ver o personagem renascer para uma nova geração e descobrir o encanto das histórias de Lee Falk.