CLÁSSICO NACIONAL | LAMARCA

Por Adilson Carvalho

Sergio Rezende, que tive o prazer de conhecer recentemente no 10º Santos Film Fest, é um dos maiores cineastas brasileiros, dotado de brilhante visão história e hábil versatilidade com a qual transita entre gêneros. Não à toa seu legado se faz sentir no trabalho impressionante de sua filha Julia Rezende (Meu Passado Me Condena, A Porta ao Lado), herdeira dessa capacidade de conduzir uma narrativa audio visual de conteúdo e estilo próprios. Mas hoje vou falar de Sérgio Rezende, de um filme específico de sua rica filmografia, e que completa este ano 30 anos de seu lançamento original. Lamarca foi o 9º filme de Sergio, e seu 6º longa metragem, realizado no ano em que o país conquistara a Copa do Mundo pela 4º vez, enquanto internamente Fernando Henrique Cardoso era eleito presidente do Brasil pela segunda eleição desde a promulgação da Constituição Brasileira de 1988.

O fim da ditadura no país ainda era recente e Sergio nos faez lembrar da história do Capitão Carlos Lamarca (1937-1971), ex oficial do exército brasileiro e membro de grupo político rebelde que negociou com a Ditadura Militar a liberdade de presos políticos em troca da vida do sequestrado embaixador da Suiça, mantido por eles em cativeiro. Foi um dos episódios mais marcantes do período histórico em questão, tratado por Sergio com apuro e cuidado através do roteiro que o próprio diretor escrevera junto a Alfredo Oroz, adaptado do livro  Lamarca, o Capitão da Guerrilha, de Emiliano José e Miranda Oldack O filme destaca a luta de Lamarca, vivido por um maravilhoso Paulo Betti, o leva a Bahia com sua amante e militante Clara (Carla Carmurati) onde lembrará de sua carreira militar, do ponto que explode sua rebeldia e insatisfação com a ditadura e do campo de treinamento de guerrilheiros que criara no Vale do Ribeira em São Paulo. O filme ainda reúne os nomes de José de Abreu, Roberto Bomtempo, Deborah Evelyn, Selton Mello, Nelson Dantas, Nelson Xavier, Carlos Zara e grande elenco. Lamarca foi premiado com o Troféu da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) na categoria Melhor Ator para Paulo Betti, que ainda voltou a viver o personagem em Zuzu Angel (2006), também dirigido por Sergio Rezende. Ambos trabalharam juntos em um total de 6 vezes incluindo Mauá – O Imperador e o Rei (1999) e O Paciente – O Caso Tancredo Neves (2018). A obra cinematográfica de Sergio Rezende merece ser sempre vista e revista e Lamarca se destaque como uma de suas melhores realizações capaz ainda de promover debates e reflexões, além de um estímulo para que revisitemos nossa própria história.

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