Por Adilson Carvalho

Ela recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, no endereço 7004 Hollywood Boulevard, em Hollywood, Califórnia, em 8 de fevereiro de 1960. Nascida Maureen FitzSimons em Dublin, Irlanda do Norte, 17 de agosto de 1920, seus olhos verdes e cabelo ruivo imprimiram nas telas uma beleza singular, coroada A Rainha do Technicolor, famosa por interpretar heroínas fortes e apaixonantes com notável sensibilidade. Trabalhou diversas vezes com o diretor John Ford e com John Wayne, seu amigo de longa data. Sua autobiografia, intitulada ‘Tis Herself, publicada em 2004, tornou-se um best-seller do New York Times. Hoje comemoramos o aniversário de uma das minhas paixões da clássica Hollywood, Maureen O’ Hara, que completaria hoje 104 anos.

Quando criança sonhava em ser uma atriz de teatro, e dos seis aos dezessete anos, ela recebeu treinamento em drama, canto e dança. Aos dez anos, ela entrou para a Rathmines Theatre Company, onde atuava em peça amadoras. O pai de O’Hara, no entanto, não apoiava completamente suas aspirações teatrais. Aos 18 anos fez um teste em Londres, e conseguiu uma ponta em seu primeiro filme entitulado Kicking the Moon Around e já no ano seguinte contracenou com Charles Laughton em A Estalagem Maldita, de Alfred Hitchcock. Laughton tornou-se seu mentor e a levou para Hollywood onde originalmente assinou com ela um contrato de prestação de serviços pessoais, o que significa que ela foi contratada por Laughton, e não por um estúdio, como era comum na época. E foi contracenando com Laughton que Maureen fez seu primeiro grande papel como a cigana Esmeralda em O Corcunda de Norte Dame (The Hunchback of Notre Dame), adaptação do clássico de Victor Hugo, que trazia o próprio Laughton como Quasímodo. A cena em que Quasímodo toca os sinos da catedral para Esmeralda foi filmada no dia em que a Segunda Guerra Mundial começou na Europa. O diretor e o astro estavam tão sobrecarregados que a cena ganhou um novo significado, com Charles Laughton tocando os sinos freneticamente e o diretor William Dieterle esquecendo-se de gritar “corta”. Em 1940, teve um papel marcante em Como Era Verde Meu Vale (How Green My Valley Was), sua primeira vez trabalhando com John Ford. No filme atuou ao lado de Roddy MacDowell, com quem forjou uma amizade que durou até o fim da vida do ator em 1998.

Maureen sempre esteve bem aventuras históricas como Lady Margareth, contracenando com Tyrone Power, em O Cisne Negro (1941); Contessa Francesca em O Pirata dos Sete Mares (1945), filme que foi a inspiração da Disney para a atração Piratas do Caribe; A heroína Shireen em Simbad o Marujo (1947); Claire – a filha de Athos em A Filha dos Mosqueteiros (1947); a belíssima pirata Spitfire em Contra Todas as Bandeiras (1952), dividindo a cena com Errol Flynn e Anthony Quinn, entre outros. Ficaram muito populares seus filmes com John Wayne, com quem teve uma longa amizade. Estrelaram juntos cinco filmes como Rio Bravo (1950), Depois do Vendaval (1952), Asas de Águia (1957), Quando um Homem É Homem (1963) e Jake Grandão (1971), e em todos os cinco, Wayne e O’Hara interpretaram marido e mulher. A cena de beijo entre O’Hara e Wayne em Depois do Vendaval (1952) é uma das mais icônicas do período com a bela irlandesa se sobressaindo como uma força da natureza, selvagem e imponente. Nessa cena gravada em um chalé, o vento chicoteava o cabelo dela tão ferozmente em torno de seu rosto que ela ficava semicerrando os olhos. John Ford gritou com ela na linguagem mais forte para que abrisse os olhos, irritando a atriz.

Maureen O’Hara foi ferida no set de filmagem de Uma Família Biruta, de 1970 durante a gravação de uma cena entre O’Hara e Jackie Gleason. A atriz estava sentada em um banco de jardim, e as almofadas haviam sido removidas, expondo o arame da cerca ciclônica que as sustentava. A mão direita dela estava apoiada no arame e, quando Jackie Gleason, muito bêbado, estava falando suas falas, tropeçou e caiu acidentalmente sobre a mão dela. O fio cedeu e o peso do corpo dele esmagou a mão dela. Ela teve que ser levada às pressas para o hospital; sua mão precisou de cirurgia ortopédica. Como resultado, ela não tem cartilagem nos dedos da mão direita e ficou sem uma articulação no dedo indicador. Durante a década de 70 foi gradativamente diminuindo sua participação em filmes, principalmente após a morte de seu marido, Charles F. Blair, em 1978, Maureen O’Hara assumiu o cargo de presidente da Antilles Air Boats, a empresa da qual ele e ela eram proprietários. Isso a tornou a primeira mulher presidente de uma companhia aérea certificada nos EUA. Depois de 20 anos sem filmar, a atriz voltou a atuar aos 71 anos em Mamãe Não Quer Que Eu Me Case (Only the Lonely), de 1991, contracenando com o saudoso John Candy, a quem comparou com seu mentor Charles Laughton. Depois fez três filmes para televisão antes de se aposentar definitivamente da atuação em 2000. Apesar de nunca ter sido indicada ao Oscar (mesmo quando Como era verde o meu vale foi escolhido o melhor filme do ano), a atriz foi contemplada pela Academia com uma estatueta honorária em 20914. Morreu de causas naturais em 24 de outubro de 2015 em Boise, Idaho, EUA, mas deixou sua marca indelével na arte cinematográfica.
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