CINEMA & HISTÓRIA | O TIROTEIO QUE IMPACTOU HOLLYWOOD

Com a estreia da docussérie Wyatt Earp and The Cowboy War vamos rever fatos e filmes que dramatizaram este emblemático episódio da história americana, diversas vezes adaptado.

Por Adilson Carvalho

O lendário tiroteio do OK Corral no Arizona tem sido tema de livros e filmes até o século XXI. Ocorrida na cidade de Tombstone, o duelo se tornou um arquétipo do Velho Oeste americano. O tiroteio foi o resultado de uma briga de longa data entre cinco foras da lei (incluindo dois pares de irmãos) e quatro representantes da lei, incluindo três irmãos. O estopim do evento foi a decisão de Wyatt Earp, o delegado local, de aplicar uma lei municipal que proibia o porte de armas na cidade. Para fazer cumprir essa lei, os homens da lei teriam que desarmar os Cowboys. Entre os homens da lei estavam três irmãos, Virgil, Wyatt e Morgan Earp, além do amigo íntimo de Wyatt, Doc Holliday. Como delegado dos EUA e delegado da cidade, Virgil estava no comando e foi sua decisão de aplicar a lei que levou ao tiroteio. Seus dois irmãos e Doc Holliday eram delegados assistentes temporários. Os Cowboys eram um grupo de foras-da-lei formado por Billy Claiborne, os irmãos Ike e Billy Clanton, e os irmãos Tom e Frank McLaury. Durante essa breve batalha, três homens foram mortos, três ficaram feridos, dois fugiram e um lutou, mas saiu ileso. Embora o episódio seja ou desconhecido ou irrelevante para o público brasileiro, este entrou para o imaginário popular americano sendo adaptado diversas vezes para todas as mídias até hoje.

Henry Fonda, Victor Mature e Linda Darnell

O tiroteio não era amplamente conhecido até dois anos após a morte de Wyatt Earp, quando Stuart Lake publicou seu livro Wyatt Earp: Frontier Marshal. O livro serviu de base para o filme Frontier Marshal, de 1939, com Randolph Scott e Cesar Romero. Nos primórdios de Hollywood Wyatt Earp, então já aposentado fez amizade com os atores / cowboys William S. Hart e Tom Mix, frequentemente almoçando no Al Levy’s Tavern e no Musso & Frank Grill. Essa amizade gerou o filme Assassinato em Hollywood (1988) com James Garner fazendo Wyatt Earp e Bruce Willis fazendo Tom Mix. O mestre John Ford, no entanto, realizou o que muitos chamam de “a versão definitiva” do episódio no filme Paixão dos Fortes (My Darling Clementine), de 1946 com Henry Fonda fazendo Earp e Victor Mature no papel do amargurado Doc Holiday. Ford não se preocupou com detalhes históricos filmando no Monument Valley no Vale do Utah, seu cenário favorito desde No Tempo das Diligências (1939). A verdadeira Tombstone, contudo, fica no extremo sul do estado, mais perto da fronteira entre o Arizona e o México. Assim, ele mandou construir um cenário para toda a cidade, a um custo de US$ 250.000. Ford também escolheu Monument Valley porque queria trazer alguns negócios para a comunidade Navajo, que estava mal economicamente. Ford dizia também ter conhecido Wyatt Earp em 1920 e que sua versão dois fatos era portanto mais apurada que a versão oficial. O lendário tiroteio ocorreu em 26 de outubro de 1881 e durou trinta segundos, resultando em três homens mortos após uma troca de trinta e quatro balas. Em 1957 John Sturges filmou Sem Lei & Sem Alma (Gunfight at the OK Corrall) com Burt Lancaster como Wyart e Kirk Douglas como Doc Holiday. O tiroteio fictício desse filme levou quatro dias para ser filmado e produziu um banho de sangue na tela que durou cinco minutos. Dez anos depois a UNited Artists decidiu refilmar a história e contratou John Sturges, que fez A Hora da Pistola (Hour of the Gun) com James Garner (Earp) e Jason Robards (Holiday). Novamente, outra inconsistência histórica quando Sturges msotrou a estrada de ferro que a verdadeira Tombstone só foi ter a partir de 1903.

Burt Lancaster e Kirk Douglas

Na TV a figura de Wyatt Earp foi transformada em herói de série de TV. The Life and Legend of Wyatt Earp foi a primeira série de TV ocidental escrita para adultos, estreando quatro dias antes de Gunsmoke em 6 de setembro de 1955. A série é apenas vagamente baseada na vida de Earp, vivido por Hugh O’Brien por 6 temporadas, em 229 episódios. Em 25 de outubro de 1968 o tiroteio foi reencarnado no episódio Spectre of the Gun da classica série Star Trek. Curiosamente Deforest Kelley viveu Morgan Earp em Sem Lei & Sem Alma (1957). Na década de 90 o lendário episódio foi retratado em dois filmes: Tombstone : A Justiça Está Chegando (1993) trazia Kurt Russell como Earp e Val Killer como Doc Holiday. Nesta adaptação, a frase citada por Doc no final da luta no O.K. Corral é historicamente verdadeira e foi relatada nos jornais de Tombstone que noticiaram a luta. Ao ser confrontado por um dos cowboys à queima-roupa, este teria dito: “Eu te peguei agora, Doc, seu filho da puta!“, ao que Doc respondeu alegremente: “Você é uma margarida se for!” Doc Holiday era dentista na vida real e sofria de tuberculose. Seu envolvimento na luta do lado de Earp foi essencial para seu desenrolar. Ao mesmo tempo em que  George Pan Cosmatos rodava o filme com Kurt Russell e Val KilmerLawrence Kasdan dirigiu o epico Wyatt Earp com Kevin Costner e Dennis Quaid respectivamente nos papéis de Earp e Holiday. Com todo os figurinos comprometidos com o filme Tombstone: A Justiça Está Chegando, o filme de Kasdsn atrasou sua produção para conseguir o figurino necessário. A produção conseguiu, no entanto, o verdadeiro revólver de seis tiros de Wyatt Earp, que foi emprestado pelo museu Earp e usado em algumas cenas durante vários closes. A figura de Earp tornou se mítica ao longo do tempo e em todas as versões para o cinema ou TV é erroneamente tomado como a figura central do tiroteio do OK Corral, mas seu irmão Virgil era o xerife da cidade de Tombstone e vice-xerife dos EUA naquele dia, e tinha muito mais experiência como xerife, policial, xerife e soldado em combate. Não há dúvida que, ao longo dos séculos, o tiroteio ainda exerce uma espécie de fascínio bem como as figuras de Wyatt Earp e Doc Holiday como figuras de coragem e Justiça, apesar de inconsistências nos relatos e parafraseando a frase final de O Homem que Matou o Fascinora (The Man Who Shot Liberty Valence), entre a verdade e a lenda, imprime-se a lenda.

Deixe um comentário