Por Adilson Carvalho

Apresentação : Ele escreveu o recém lançado livro Almanaque das Memórias Afetivas sobre séries, desenhos, brincadeiras, tudo aquilo que vivemos em nossa saudosa infância e que marcou o adulto que nos tornamos. Roosevelt também já escreveu para o blog Memória da revista Veja, e durante muitos anos foi parte do ENPE (E No Próximo Episódio) que começou como fanzine lá nos anos 90 e depois girou um programa no YouTube. Converso hoje com meu amigo Roosevelt Garcia..
Roosevelt : Adilson, uma alegria tá aqui rapaz, muito obrigado pelo convite
Adilson: De nada. Eu agradeço que você também esteja aqui. Vamos falar aqui desse livro fantástico que é o Almanaque das Memórias Afetivas. Gostaria que você dissesse o que movimentou você a escrever o livro, além do óbvio saudosismo, dessa nostalgia que move toda a nossa geração e que é importante porque faz com que uma nova geração conheça esses valores. Eu, por exemplo, tenho uma filha de 15 anos que adora A Feiticeira.
Roosevelt: Oba, que beleza porque quem não gosta da Elizabeth Montgomery, né ? Mas é bom contar aqui a história, é um tanto longa né porque eu acho que quem é da nossa idade cresceu vendo TV, cresceu cercado de coisas que marcaram a nossa infância, a nossa adolescência e as experiências que a gente teve. Isso bate como você falou, em saudosismo, a palavra exatamente é essa. Aí bate aquele negócio de caramba aquele negócio, e aquilo mudou tanto hoje em dia ou a geração nova infelizmente não vai conhecer essas coisas. Tive a vontade de colocar isso tudo que a geração de 60, 70, 80 e 90 num livro porque é uma coisa física. Acho que esse tipo de livro não tinha como não ser impresso. Me perguntaram porque você não fez só digital, não é uma coisa que você precisa ter nas mãos, uma coisa que você precisa olhar e sentir o cheiro do livro.
Adilson: O trabalho foi árduo, não ? Muita coisa para escrever sobre esse tema. Como você conseguiu abranger tantos tópicos ?
Roosevelt: Eu escrevi um tempo para o blog Memória na Veja, e eu escrevia todo dia ou quase todo dia sobre essas experiências que a gente teve, coisas que a gente fez, comidas e bebidas que a gente teve e que não existem mais. Então eu resolvi juntar grande parte dessas coisas que eu escrevi e completei com outras coisas que acabou não dando tempo de sair na revista, mas que também são importantes e juntei tudo isso num livro. Quando eu me dei conta tinha dado um livro de quase 700 páginas, então eu dividi e o material em volume 1 e o volume 2, que já está em produção. Como não é um livro sequencial, você não precisa ler página por página, você abre o que dá vontade de ver e você vê no dia seguinte se quiser.

Adilson: Sobre as séries, hoje as pessoas assistem no streaming o que na nossa época era na TV. Como você vê essa mudança ?
Roosevelt : O streaming é legal mas não tem tudo, por exemplo o Magnum (versão orginal com Tom Selleck) não tem em nenhum streaming. Principalmente as coisas clássicas que a gente gosta né. Eu sou um consumidor ávido de streaming, tenho quatro ou cinco, mas eu não abro mão de jeito nenhum de ter mídia física. Tenho os meus DVDs como A Feiticeira completa em DVD, a jeannie é um Gênio completo em DVD, eu tenho Columbo, que eu adoro. Às vezes você quer assistir alguma coisa que não tá no streaming, não encontra na internet, e assim eu assistia por exemplo Contratempos, outra série que eu adoro, já teve na Netflix no comecinho e de repente sumiu e nunca mais apareceu ou seja se eu quiser ver, eu tenho que ver os meus DVDs porque eu tenho tudo em, então tem as suas vantagens. Isso é legal apesar da praticidade do streaming, falta magia no jeito de você assistir coisas, fora que as produções tem que ser muito muito rápidas e são séries curtas de oito a 10 episódios, tudo a toque de caixa. Acho que tinha que ter um canal só de clássicos para matar a saudade dos clássicos porque afinal de contas nós ainda estamos aqui a gente quer assistir essas coisas. Antigamente havia o canal TCM que ainda existe mas mudou muito, o canal passava muita série clássica alguns anos atrás depois parou de passar e hoje em dia não tem nada. Eu comprei vários boxes de séries, mas algumas por exemplo nunca sairam no Brasil como Duro Na Queda, e hoje nós temos O Dublê, que é uma adaptação de Duro na Queda chegando aos cinemas com Ryan Gosling e Emily Blunt. O sucesso do filme mostra que as séries antigas ainda dão caldo. Ao serem adaptadas para o cinema elas trazem a curiosidade a atenção do original e nesse sentido eu gosto que haja adaptação de séries antigas.
Adilson: Eu participei da campanha Dublagem Viva, a campanha em defesa dos profissionais da dublagem diante do perigo da Inteligência Artificial. Eu tive o prazer de falar de conversar com Evie Saide, voz original da Barbie, Elcio Romar, voz de Michael Landon em O Homem que veio do céu e , Juraciara Diácovo, que foi a Jennifer Hart de Casal 20 e a Pamela Ewing de Dallas, a Sumara Louise que fez a Kate Jackson em As Panteras, a Cybill Shepherd de A Gata e o Rato. Você acredita que toda essa polêmica em torno da Inteligência Artificial não chegará ao ponto de tirar o trabalho desses maravilhosos profissionais.
Roosevelt : Tem duas respostas possíveis: uma vinda do coração, e uma vida do cérebro. Eu sou fã ferrenho de dublagens principalmente as dublagens clássicas dos anos 60. Eu acho que o Brasil hoje ainda tem uma das melhores dublagens do mundo, mas as dublagens que nos acompanharam com as séries e desenhos dos anos 60 e 70 para mim são as melhores até hoje, então torço de verdade para que a dublagem continue do jeito que tá sempre evoluindo, sempre boa, que continue precisando dos nossos dubladores eu acho isso muito importante, tanto que precisa ser um ator para ser um dublador, e não é um cara qualquer que coloca a voz e pronto. Por outro lado acho que sim vai chegar uma hora por exemplo os atores americanos já estão com medo de serem substituídos por vídeos feitos por Inteligência artificial. Mas acho que no futuro a dublagem não vai morrer porque a gente é cabeça dura e a gente insiste mas que algumas coisas serão dubladas essa forma em breve e isso vai acontecer.
Adilson: Vamos ver que nota você dá para essas séries que vou citar:
A Ilha da Fantasia ? Roosevelt: Eu gosto bastante, mas a redublagem dela fez cair a qualidade da série. Adoro a voz do dublador Valdir Sant’Anna, mas dublando o senhor Roarke para mim não combinou. Tinha que ser a primeira dublagem. Eu daria uns 7.
Águia de Fogo ? Roosevelt : Gosto bastante dessa série de aventura, mas nunca fui muito ligado em séries desse tipo de Aventura , mas lembro do Jan Michael Vincent em A Ilha do Perigo. Vou colocar no mesmo patamar da Ilha, nota 7.
O Homem de Seis Milhões de Dólares ? Roosevelt: Ah o Cyborg, esse aí já sou um pouco mais fã e assistia bastante nos anos 70. O episódio do Sasquatch me marcou por muito tempo
A Família Addams ? Roosevelt: Bem, eu gosto muito mais de Os Monstros. Da Família Addams eu gostava mais do desenho animado do Hanna Barbera de 73 . Mas, revendo a série recentemente, ela é interessante, é legal.
Os Pioneiros ? Roosevelt: Sabe, eu gosto bastante dessa, mas de novo eu gostava mais de Os Waltons. A gente tinha mania de comparar uma com a outra, né ? Acho a série estupenda melhor que Os Pioneiros porque todo episódio era muito choroso, muito muito triste, mas eu acho que era muito mais bem construída assim talvez pela época que se passe né. Os Pioneiros eram do século XIX , já Os Waltons era durante a depressão , eu achava mais interessante e eu gostava demais do vovô (Will Geer). Daria uma nota 8 para Os Pioneiros.
Batman ? Roosevelt: Essa eu dou 10. No livro eu digo que o Adam West é o melhor Batman e eu posso provar. Tem uma série de coisas legais e uma delas é que ele tem um calção para surfar por cima da roupa,tem de tudo na Batcaverna e ainda tem a Julie Newmar de Mulher Gato, o sonho dos adolescentes de 15, 20, 25, 30, 40 anos, ah meu Deus.
Bat Masterson ? Roosevelt: Eu tenho um DVD gravado antes de eu comprar os Box oficiais. Eu não peguei a exibição na TV oficial na TV aberta nos anos 60
Os Três Patetas ? Roosevelt: Tadinho dos Três Patetas. Eu adoro e curioso que hoje em dia eles não se encaixam no padrão de humor politicamente correto, hoje em dia você não pode chamar ninguém nem de pateta. Eu adoro o Curly, a maneira engraçada do Shemp chamar “Moe !”, “Larry !” na hora da encrenca. Divertido demais para quem viveu aqueles tempos mais inocentes.

Adilson: E os desenhos da TV ? Eu digo logo que Jonny Quest é um dos que mais ocupam minha memória afetiva.
Roosevelt: Curioso falar agora dos desenhos porque eu estava vendo agora há pouco um episódio do Johnny Quest. Adoro todos da Hanna Barbera e o meu número um é Flintstones . Eu assinei o Cartoon Network nos anos 90 por causa dos Flintstones eles iam passar uma maratona e eu fui logo assinar a TVA naquela época para poder gravar Os Flinstones. A maratona então ia começar numa quinta-feira à tarde e eu calculei quantas fitas VHS eu ia precisar para gravar os 166 episódios. Fiquei até domingo gravando direto Eu comprei vídeo videocassete nos anos 80 para poder gravar porque um dia eu vi que tudo aquilo ia parar de ser exibido. Todo mundo comprava para ver filmes em casa e eu comprei para gravar. Eu gosto do catálogo todo dos anos 60 e dos anos finais dos anos 50, os desenhos do Pepe Legal são dos melhores que existe a face da terra, a dublagem do Manda Chuva é fabulosa nas adaptações e aquele desenho do Jerry Lewis que ele era todos os personagens, sensacional. Os desenhos saíram do Cartoon Network, foram para o Boomerang, acabou o boomerang e os desenhos foram para o Tooncast, que também acabou. Os Clássicos, se você não tem mídia física, você não vai ver muita coisa importante como Os Tremendões, Goober e Os Caçadores de Fantasma e outros que eu adorava. Devlin, o Motoqueiro foi a primeira coisa que eu vi numa TV colorida na minha vida me lembro quando meu pai trouxe nossa primeira TV colorida para casa a gente ligou lá na sala liguei tava passando o desenho.

Adilson: Como nossas memórias impactam tanto nossa vida adulta como bordões que ainda são repetidos ou cenas de desenhos que ninguém esquece. Você tem algum caso assim para compartilhar ?
Roosevelt: Até hoje o episódio do Pica Pau descendo as Cataratas num barril é um fenômeno e aqui em São Paulo na Avenida Paulista já teve um monte de gente de roupa de chuva amarela reunida e quando passava um carro, todos gritavam “Uêêêê”. .
Roosevelt: Sim, e principalmente o meu filme preferido de todos os tempos que é De Volta Para o Futuro eu falo bastante dele e dos filmes que a gente viu na Sessão da Tarde porque apesar de serem muitos filmes, de todos os tipos, eles acabaram na televisão numa certa hora quando a gente podia assistir né Então tinha aqueles filmes que fizeram muito sucesso nas locadoras no começo do mercado de home vídeo porque isso aí foi uma revolução na forma de você se divertir em casa e quando você começou a ter a opção de alugar filmes para levar para ver em casa tivemos mais acesso ainda a muitas produções que faziam mais sucesso. Então eu fiz uma pesquisa em cima disso e é legal ter essas informações e eu as coloquei no livro. Filmes como Ao Mestre Com Carinho, os filmes de Jerry Lewis, etc..
Adilson : O seu livro Ele fala também fala dos filmes que marcaram ?
Agora para encerrar vamos ao questionário de Bernard Pivot usado no programa Inside The Actor’s Studio:
Adilson: Qual profissão você jamais teria? político a gente tem um ou dois políticos mas eu acho que a arte de você dominar a palavra de forma a fazer com que as pessoas façam algo em seu benefício eu não consigo fazer isso bom eu sou um cara muito autêntico e nem advogado o advogado também é assim não que advogado seja o advogado ele é um cara que ele tem um cliente ele precisa lutar pelo cliente e às vezes isso te leva a fazer coisas que são

Adilson: Qual profissão você gostaria de ter tido? Professor
Adilson: Qual som você mais gosta? Barulho de chuva. Adoro.
Adilson : Qual som você odeia? Não tenho nenhum.
Adilson: O que você gostaria de ouvir de Deus quando você chegasse no paraíso ? você fez um bom trabalho algumas pessoas vão sentir sua falta isso mostra que você fez um bom trabalho não precisa ser muita gente mas algumas pessoas sentirem a minha falta já já tô feliz
Adilson: como que as pessoas aqui do Rio de Janeiro podem comprar seu livro ?
Roosevelt: Quem quiser comprar o volume 1 do Almanaque das Memorias Afetivas é só enviar um e-mail para almanaquedasmemoriasafetivas@gmail.com. O volume 2 só no ano que vem. O livro foi financiado por uma campanha de financiamento coletivo e eu fiz uma tiragem bem limitada Então eu tenho poucos exemplares disponíveis para venda. Então peçam logo.