PSICÓTICOS NAS TELAS | NORMAN BATES EM PSICOSE

Com a chegada às telas de Vínculo Mortal (Longlegs) vamos rever alguns psicóticos inesquecíveis no cinema.

Por Adilson Carvalho

Coube ao mestre do suspense a realização de um dos maiores filmes centrados na figura de um psicopata. Era 1960 e Alfred Hitchcock comprou anonimamente os direitos do romance de Robert Bloch (1912-1994), publicado originalmente em 1959, pagando apenas 9.000 dólares. A historia era livremente inspirado no caso do assassino de Wisconsin, Ed Gein,  um assassino solitário que vivia em uma localidade rural isolada, com uma mãe dominadora para quem construiu um santuário em seu quarto depois de sua morte, mantendo-a viva ao se vestir com roupas femininas e agir como se fosse ela. No filme de Hitchcock, após roubar 40 mil dólares para se casar com o namorado, a secretaria Marion Crane (Janet Leigh) foge durante uma tempestade e decide passar a noite em um hotel que encontra pelo caminho. Ela conhece o educado e nervoso proprietário do estabelecimento, Norman Bates (Anthony Perkins), um jovem com um interesse em taxidermia e com uma relação conturbada com sua mãe. Seu assassinato leva sua irmã Lila (Vera Miles) e Sam Loomis (John Gavin), noivo de Marion, a investigar por conta própria.

Hitch era um visionário e planejava meticulosamente o que queria do público. Para isso, comprou o maior número possível de cópias do romance para manter o final em segredo. Em seguida, abriu audições para o papel da mãe de Norman Bates como forma de disfarçar o plot twist ao final. O filme entrou para a história do cinema por sua trama impactante e a enervante cena do chuveiro, um primor de montagem, regido pela trilha de Bernard Herrmann. O diretor britânico ficou tão satisfeito com a partitura escrita por Herrmann que duplicou o salário do compositor para 34.501 dólares. Hitchcock disse mais tarde: “Trinta e três por cento do efeito de Psicose deveu-se à música”. Ironicamente, ele estava originalmente inflexível quanto a não haver música na cena da chuveiro, mas foi persuadido pela sua mulher a tentar. Os violinos estridentes e as cordas terríveis viriam a inspirar o trabalho de John Williams na música de Tubarão (1975) e acabaram por vender a cena e levar as audiências teatrais para além de tudo o que já haviam experimentado. Depois da estreia deste filme, Sir Alfred Hitchcock recebeu uma carta furiosa do pai de uma jovem que se recusava a tomar banho depois de ver o filme. Hitchcock enviou então uma nota de volta dizendo simplesmente: “Mande-a para a lavandaria”. A casa de Bates, apesar de ter sido deslocada do seu local original, continua a residir no terreno da Universal, onde o Bates Motel foi reproduzido. É uma paragem regular na excursão de elétrico da Universal Studios. A Paramount Pictures deu a Sir Alfred Hitchcock um orçamento muito reduzido para trabalhar, devido à sua aversão ao material de origem. Também adiaram a maior parte do lucro de bilheteira para Hitchcock, pensando que o filme iria falhar. Quando o filme se tornou um êxito inesperado, Hitchcock fez uma fortuna.

Os atores Anthony Perkins e Janet Leigh disseram que não se importavam de ser estereotipados para sempre por causa da sua participação neste filme. Em entrevistas, disseram que preferiam ser estereotipados e ser recordados para sempre por este filme clássico do que não serem nunca lembrados. O diretor, sempre famoso por suas aparições na tela, decidiu antecipar sua rápida participação para que as pessoas não desviassem sua atenção do enredo do filme. O filme foi filmado em preto e branco porque assim o diretor poderia driblar os censores do MPAA (Motion Picture American Association), que acharam a história violenta demais, e o sangue a cores seria uma imagem forte para os padrões da época. No final, o filme teve um orçamento até barato (menos de um milhão de dólares) com faturamento bruto mundial de cerca de US$ 32.062.325. O filme entrou definitivamente para o imaginário popular com a cena do chuveiro sendo uma das mais imitadas e parodiadas da história do cinema, um primor de edição e um exemplo do manejo genial de seu diretor. As décadas que se seguiram sempre revisitam a obra de Hitchcock com sequências em 1983 e 1986, ambas com Anthony Perkins, remake (1998), filme de bastidores (2012) e até mesmo uma série de TV chamada Bates Motel (2013-2017) com Vera Farmiga (Invocação do Mal) e Freddie Highmore (The Good Doctor). Alguém ainda duvida da marca indelével de Hitch na cultura pop ? Disponível no Mubi.


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