CLASSICO NACIONAL | INDEPENDÊNCIA OU MORTE

Por Adilson Carvalho

Confesso que tenho um fraco por filmes históricos, pois eles possibilitam um novo olhar para importantes fatos que podem ser discutidos sob a luz da atualidade. Um dos primeiros filmes que me permitiram fazer essa análise foi “Independência ou Morte” de 1972, ocasião em que nossa independência alcançara 150 anos. Em pleno regime militar, o filme dirigido por Carlos Coimbra não poderia ser mais oportuno. Sua realização se encaixava no desejo de exaltar o orgulho pela pátria, depois de anos de conflitos armados e choques ideológicos. O ufanismo inerente à obra servia, portanto aos interesses do governo da época, embora o filme estivesse mais focado em mostrar D. Pedro I (Tarcísio Meira) com suas paixões em meio às pressões políticas. Com o regresso de D. João para Lisboa, o temor é que o Brasil retroceda à condição de colônia. Liderados por José Bonifácio (Dionízio Azevedo, que co-escreveu o roteiro), os brasileiros articulam a campanha de independência. Nos bastidores, contudo, D. Pedro se envolve com a Marquesa dos Santos (Gloria Menezes) gerando instabilidade e oposição de vários setores do poder monárquico.

O filme teve um público de 2 924 494 espectadores, sendo o filme brasileiro mais assistido de 1972. Eu o vi pela primeira vez em uma exibição na TV Globo, muito tempo depois. O elenco reúne grandes nomes da época como Dionísio Azevedo como José Bonifácio, Maria Claudia como a imperatriz Amélia de Leuchtenberg, segunda esposa de D. Pedro I, Heloísa Helena como Carlota Joaquina, Manoel da Nóbrega (Pai de Carlos Alberto do programa “A Praça é Nossa“) como Don João VI, Carlos Miranda (o lendário Vigilante Rodoviário) entre outros. A famosa tela de Pedro Américo representando o momento, às margens do Rio Ipiranga, em que Don Pedro brada aos quatro ventos a independência do Brasil é feita magistralmente pelo diretor Carlos Coimbra com Tarcísio Meira no centro da ação. Seu filho, Tarcísio Filho curiosamente aparece no filme como Don Pedro I jovem. O cineasta Carlos Coimbra (1928-2017) foi o responsável pelo  chamado “ciclo do cangaço”, dirigindo filme como “A Morte Comanda o Cangaço” (1960), “Lampião, o Rei do Cangaço” (1962) “Cangaceiros de Lampião” (1966) e “Corisco , o Diabo Loiro” (1969). Dirigiu também adaptações de livros, como “A Madona de Cedro” (1968), da obra de Antonio Callado, e “Iracema, a Virgem dos Lábios de Mel “(1978), adaptação do livro de José de Alencar e “Os Campeões” (1981), seu último longa. O filme “Independência ou Morte” ainda tem participação especial do saudoso crítico de cinema Rubens Ewald Filho (1945-2019), um mestre em seu ofício. O filme é um bom exemplo da cinematografia brasileira, um clássico que merece ser revisto sob à luz da atualidade.

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