Por Adilson Carvalho

Primeira mulher a ser co-apresentadora do Oscar (com Dick Powell) em 1948, Agnes Moorehead popularizou-se no mundo todo a partir de 1964, quando viveu a engraçada e malévola Endora no seriado A Feiticeira. A atriz foi, no entanto, uma intérprete multi-talentosa, tendo trabalhado com diretores renomados como John Ford, Orson Wells e Jerry Lewis, além de ter atuado em dramas, comédias e vários outros gêneros no cinema e na TV. Ela foi também professora de arte dramática para a Universal Pictures e responsável pela formação de muitos artistas famosos como Debbie Reynolds, Donald O’Connor e Sandra Dee. Foi indicada cinco vezes ao Oscar de Melhor Atriz coadjuvante.

Agnes Robertson Moorehead nasceu em 6 de dezembro de 1900, em Clinton, Massachusetts, filha de uma ex-cantora e do clérigo presbiteriano John Henderson Moorehead. Mais tarde, Moorehead afirmou que nasceu em 1906 para parecer mais jovem para os papéis de atriz. O início de sua carreira de atriz foi instável e, embora ela conseguisse encontrar trabalho nos palcos, frequentemente ficava desempregada. Mais tarde, ela se lembrou de ter passado quatro dias sem comer e disse que isso lhe ensinou “o valor de um dólar”. Ela encontrou trabalho no rádio e logo passou a ser requisitada, muitas vezes trabalhando em vários programas em um único dia. Ela acreditava que isso lhe proporcionava um excelente treinamento e lhe permitia desenvolver sua voz para criar uma variedade de caracterizações. Moorehead conheceu a atriz Helen Hayes, que a incentivou a participar de filmes, mas suas primeiras tentativas foram um fracasso. Quando foi rejeitada por não ser “o tipo certo”, a atriz voltou ao rádio e por volta de 1937, se juntou ao grupo Mercury Players de Orson Welles. Agnes fez sua estreia no cinema como a mãe de Charles Foster Kane (Wells), no icônico Cidadão Kane (1940) considerado pela maioria dos críticos de cinema um dos melhores filmes já feitos. Em seguida participou do segundo filme de Welles, Soberba (The Magnificent Ambersons) de 1942, e recebeu o prêmio New York Film Critics Award além de uma indicação ao Oscar por sua atuação.

A atriz acabou rotulada para papeis de megeras e soube como explorar humor de sua persona em Errado Pra Cachorro (Who’s Minding the Store) de 1963 e O Rei do Laço (Pardners) de 1956, ambos com Jerry Lewis. Na TV esteve em Além da Imaginação (1961), James West (1967), O Homem de Virgínia (1967), Galeria do Terror (1970) e, no papel mais icônico de sua carreira, o de Endora, a mãe de Samantha (Elizabeth Montgomery) em A Feitiçeira (1964). Inicialmente, recusou o papel de Endora, mas reconsiderou quando Elizabeth Montgomery a convidou pessoalmente, ao se conheceram em uma loja de departamentos. Moorehead entrou para o elenco sem esperar que a série durasse mais que uma temporada, muito menos que se tornasse um sucesso de longa duração. Ela não gostava de filmar A Feiticeira (1964), pois isso a obrigava a acordar às 4h45 da manhã, começar a maquiagem às 6h e continuar a filmar muitas vezes até as 20h. Durante a primeira temporada de A Feiticeira (1964), ela não gostava de alguns aspectos dos roteiros, mas achava que não podia reclamar com o diretor William Asher porque ele era o marido da estrela Elizabeth Montgomery.

Morreu de câncer, assim como Susan Hayward, John Wayne e o diretor Dick Powell, além de outros membros do elenco e da equipe do filme Sangue de Bárbaros (1956). Algumas pessoas acreditam firmemente que, sem o conhecimento dos envolvidos na época, o filme foi filmado em um local que recebeu grande quantidade de precipitação de testes nucleares atmosféricos no (então) Nevada Proving Grounds. Agnes disse certa vez “Acredito que a vida, com todas as suas dores e tristezas, é uma dádiva linda e preciosa e acredito que devo me esforçar para reproduzir sua beleza, mantendo-me fiel a esse ideal, cumprindo meu dever sem levar em conta a ambição pessoal”. Um belo epitáfio para uma grande atriz !