BATMAN DAY | BATMAN, O HOMEM MORCEGO (1966)

Por Paulo Telles – Cine Retro BoaVista

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Batman, o Homem Morcego (1966) – Longa-metragem feito para o inema com base na Série de TV

´Paulo Telles

Poster

BATMAN, O HOMEM MORCEGO (Batman, The Movie), produzido em 1966, é um longa-metragem planejado justamente para anteceder a famosa série de TV (1966-1968), que fez muito sucesso na década de 1960. Como não deu tempo, o filme foi lançado no final da primeira temporada para atrair o público de outros países e vender mundialmente a série. As mesmas cenas com a Bat-Lancha e o Bat-Cóptero, feitos especialmente para o longa, seriam usadas também na série, para economia das filmagens.

Leslie H. Martinson, diretor.
Os quatro arqui-inimigos de Batman: Pinguim (Burgess Meredith), Charada (Frank Gorshin), Mulher Gato (Lee Meriwether) e o Coringa (Cesar Romero).
O filme foi dirigido por Leslie H. Martinson (1915-2016), conceituado diretor de televisão, e muito embora não consiga manter o mesmo ritmo da série de TV, ele tem como atrativo maior os quatro grandes vilões em cena: a Mulher Gato (Lee Meriwether, que substitui Julie Newmar, a gata original da TV. Meriwether é mais conhecida na telinha como a Doutora Ann, da série Túnel do Tempo, 1966); o Coringa (Cesar Romero, 1907-1994); o Pinguim (Burgess Meredith, 1907-1997); e o Charada (Frank Gorshin, 1933-2005).

Lee Meriwether é a Mulher Gato, que se disfarça da…
…jornalista russa Kitika, que tem intenção de…

…seduzir e raptar o milionário Bruce Wayne (Adam West), sem saber que ele é o Batman.
Os vilões se reúnem com o propósito de unirem forças para dominar o mundo. Mas como eles farão isso? Simplesmente desidratando e transformando em pó colorido todos os membros das nações do mundo durante uma reunião na sede da ONU em Gotham City, com o auxílio de uma pistola especial. Enquanto isso, a Mulher Gato, disfarçada de uma jornalista russa, seduz o milionário Bruce Wayne/Batman, em cenas no mínimo quentes para os padrões da série de TV. Aliás, era a primeira vez que se via no cinema uma relação mais íntima entre o herói e a vilã. 

William Dozier, Produtor.

Bob Kane, o criador de Batman, entre Adam West e Frank Gorshin.
O seriado de cinema BATMAN, de 1943, com Lewis Wilson (Batman) e Douglas Croft (Robin).

BATMAN, O HOMEM MORCEGO já pretende ser desde início uma aventura escrachada. O personagem criado de forma dramática e séria em 1939 por Bob Kane (1915-1998) e Bill Finger (1914-1974) para a revista Detective Comics, já havia sido adaptado duas vezes para o cinema, nos seriados Batman (Batman, 1943) e Batman e Robin (Batman and Robin, 1949).  Em 1965, os direitos de filmagem do personagem pararam nas mãos de William Dozier (1908-1991), que nunca leu uma aventura em quadrinhos do Homem Morcego, cuja familiaridade com Batman estava justamente nos seriados do cinema dos anos 40. Com o roteirista Lorenzo Semple Jr (1923-2014), Dozier concebeu Batman como uma série de aventuras ao estilo dos velhos seriados das matinés, com um humor anárquico e auto-ridicularizador, com um herói obsessivo defensor dos valores impostos pela sociedade americana.

Cesar Romero como Coringa.
Burgess Meredith como o Pinguim.
Frank Gorshin como o Charada.
Batman e seu parceiro Robin se envolveriam em situações absurdas onde combatem vilões ultrajantes. As brigas cheias de onomatopeias (Pow! Booom! Capow! Biff! Kayo! Rip! Sock! Zap! Crás!), com alusão as histórias em quadrinhos. Os diálogos, embora muitas vezes pudessem parecer ridículos, era um reflexo dos acontecimentos que então vingavam na sociedade entre os norte-americanos. O Batman da TV era um assíduo moralista sem qualquer hipocrisia, a ponto de muitas vezes falar aos vilões que o crime não compensa ou o Bem Sempre Triunfa sobre  Mal. Não era um Batman com gratuidade para a violência e excessivamente implacável como se veria tempos depois no cinema e nos quadrinhos, mas um herói a ponto de ainda acreditar na reabilitação do ser humano. O alter ego do morcegão, Bruce Wayne, é um milionário filantropo que preside além da Fundação Wayne, instituições para recuperação de criminosos (que eram apenas mencionadas na série). Mas nem todos os criminosos querem se regenerar, uma vez que os arqui-inimigos do herói o veem como um ser patético e careta, e constantemente são presos e depois voltam à vida criminosa. 

Adam West (BATMAN) e Burt Ward (ROBIN) em BATMAN, O HOMEM MORCEGO (1966).
Apesar da mensagem um tanto moralista que a série de TV transmitia, o programa era recheado de humor camp, a começar pela fotografia em cores berrantes e ângulos bizarros (no filme para o cinema, o responsável é o especialista Howard Schwartz, 1919-1990), e um vestuário bem carnavalesco. Para apimentar ainda mais o escracho, vários astros e estrelas de Hollywood foram recrutados para o time de vilões, como Vincent Price (Cabeça de Ovo), George Sanders e Eli Wallach (Sr. Gelo), Roddy McDowall (O Traça), Carolyn Jones (Marsha, a Rainha dos Diamantes), Michael Rennie (O contrabandista de jóias Joe Pestana) Van Johnson (O Menestrel), Barbara Rush (Nora Clavícula) e Joan Collins (A Sereia). O cineasta Otto Preminger (1909-1986) ainda fez uma participação, atuando também como o Sr. Gelo.

Adam West como Batman
Burt Ward como Robin, o “Menino Prodígio”.
DIVULGAÇÃO
Em Batman, o Homem Morcego, os nobres heróis são venerados pelo povo de Gotham, que se sente aliviada logo no início da projeção quando o Bat-Cóptero sobrevoa a cidade. Os comentários de cada cidadão transpiram satisfação e alegria por saberem que a Dupla Dinâmica esta no encalço dos criminosos e eles não permitirão que a tranquilidade lhes seja roubada. Tal atitude bem revela a frustração humana ao sublimar a sua segurança numa figura mítica e fantasiosa. Isto não ocorre naturalmente somente com Batman, como também com outros Super-Heróis.
Bruce Wayne é Batman

Adam West como Bruce Wayne e Batman

A verdadeira identidade de Batman (Bruce Wayne), o Bat-Móvel, e o Bat-Cóptero, são dos muitos pontos na produção BATMAN, O HOMEM MORCEGO (1966).
Batman e Robin são frutos do tempo da imaginação e do medo que sempre acompanharam a Humanidade. Era preciso criar a ilusão da segurança para que o homem gozasse da inércia e fugisse do mundo real em que vive, onde a injustiça e a fome superam os crimes e os desajustamentos individuais. Como tantos heróis (seja no cinema ou nos quadrinhos) que cativaram a imaginação do público, Batman é a necessidade de uma metamorfose humana, imposta ou aceita, que muitas vezes tem a tendência de conduzir o homem mais para um estado de inércia do que ir à luta pelos seus direitos e participar de movimentos sociais então existentes. Assim é o escapismo, e a série serviu-se muito bem desta válvula de escape, fugindo, mesmo por alguns momentos, dos reais conflitos sociais então em revolução naqueles idos tempos. O escapismo é uma fuga momentânea,  positiva e temporária, desde que não seja confinado. alienado e negativo. 

Burt Ward e Adam West
Batman, O Homem Morcego começa dedicando o filme aos “Amantes da Justiça, da Aventura, do Escapismo puro, e do Ridículo”. E ainda pedem desculpas a “algum amante que porventura tenha sido esquecido”. Certamente, um tipo de amante não mencionado e não esquecido são os fãs da série de TV e de seus famosos protagonistas: BATMAN/Adam West (1928-2017) e ROBIN/Burt Ward. Já seus intérpretes, tinham entre si muito pouco em comum em relação a Batman e Robin. West, um ex-surfista, tinha pretensões de fazer carreira séria no cinema, mas foi na televisão que conseguiu destaque inicial em 1964 a partir da última temporada da série Os Detetives, estrelada por Robert Taylor. No ano seguinte embarcou para Europa para estrelar faroestes italianos (a febre da época!), seguindo o exemplo de outros colegas e amigos de Hollywood, como Clint Eastwood.  Mas foi ainda em 1965, ao interpretar James Bond em três comerciais para a Nestle, que West foi notado pelo produtor William Dozier, Aprovado nos testes para o papel do vigilante de Gotham, o ator assumiu de vez a identidade do Homem Morcego na  série de TV, mas chegou a confessar que, de início, ficou receoso, mas com o passar do tempo ficou animado em viver o personagem, cujas revistas lia quando criança.

Opostamente a West, Burt Ward não conhecia Batman e Robin. Tinha na ocasião 27 anos, cursava teatro e era faixa preta de Caratê. Nunca tinha ouvido falar dos personagens e não tinha a mínima ideia ao realizar o teste para Robin que papel era aquele que o obrigava a vestir uma roupa amarela, verde e vermelha. Na Fox chegou a ser cotado para ser o protagonista do clássico A Primeira Noite de Um Homem, mas o papel foi para Dustin Hoffman.

Batman, o Homem Morcego.

O Cruzado de Capa procurando salvar os cidadãos de Gotham City.
O Homem Morcego tentando se livrar de uma bomba e a luta do herói contra um tubarão são os momentos mais memoráveis em BATMAN, O HOMEM MORCEGO (1966).
O momento mais hilário e divertido do longa para o cinema de 1966 acontece logo no início, quando Batman  pendurado na escada do Bat-Cópetro pilotado por Robin, é mordido por um tubarão (visivelmente de borracha) que fica agarrado em sua perna. O Menino Prodígio deixa o Bat-Cópetero no piloto automático e desce para entregar um Bat-spray anti-tubarão ao herói. Robin, como um ex-trapezista de circo, entrega o spray para Batman de cabeça para baixo, que tasca a providencial arma no animal, que… explode! Como diria Robin: “Santa Cascata Submarina!”. 

O Batmóvel

A Batlancha

Como na série de TV, o filme para o cinema não podia faltar o Bat-Móvel, a Bat-Lancha, e as Bat-Lutas, cheias de onomatopeias.
Outra sequencia memorável é quando Batman, desesperado, corre pelo cais do porto tentando se livrar de uma ridícula bomba ao estilo de desenho animado (preta redonda e com o pavio fumegante). O herói não consegue se livrar do trambolho, pois por onde quer que vá esbarra com freiras, namorados, e até uma inocente família de patinhos (uma mensagem de preocupação com o meio ambiente, ainda atual!). Robin chega a questionar porque pegou o artefato para salvar aquela “gentinha do cais”. A resposta do herói atende o tom moral com mensagem simplista bem caracterizada na clássica série de televisiva:

Também são seres humanos Robin. E um dia eles podem se arrepender.

Podemos ver também a dupla sendo salva da morte certa por uma liquidação de colchões, e os heróis correndo lado a lado pela cidade, numa descarada cena de fundo azul.

Além dos heróis, participam do longa Stafford Repp (Chefe O’ Hara) e Neil Hamilton (Comissário Gordon).
Alan Napier (o mordomo Alfred) e Madge Blake (Tia Harriet).
Batman, o Homem Morcego ainda tem atores que são parte integrante da série de televisão, como Neil Hamilton (1899-1984) como o Comissário Gordon, o inglês Alan Napier (1903-1988) como o mordomo Alfred, Stafford Repp (1918-1974) como o Chefe O’Hara e Madge Blake (1899-1969) como Harriet Cooper, tia de Dick Grayson/Robin. A trilha sonora é de Nelson Riddle (1921-1985), que também colaborou (junto com Neal Hefti) na série televisiva. A película chegou às salas do Rio de Janeiro em dezembro de 1966.

Divulgação especial do Cine Palácio, Rio de Janeiro

Divulgação do filme pelos jornais e panfletos do Cine-Palácio, Rio de Janeiro, em 1967.

FICHA 

TÉCNICA


Batman

O HOMEM 
MORCEGO
(Batman)

País – Estados Unidos

Ano de Produção – 1966

Gênero – Aventura

Direção – Leslie H. Martinson.

Produção – William Dozier e Charles B. Fitzsimons, para a 20ª Century Fox.

Roteiro – Lorenzo Sample Jr, baseado nos quadrinhos de Bob Kane e Bill Finger.

Fotografia – Howard Schwartz (em Cores).

Música – Nelson Riddle.

Metragem – 105 minutos.


Divulgação

ELENCO

Adam West – Batman/Bruce Wayne

Burt Ward – Robin/Dick Grayson

Lee Meriwether – Mulher Gato/Kitika

Cesar Romero – Coringa

Burgess Meredith – Pinguim

Frank Gorshin – Charada

Alan Napier – Alfred

Neil Hamilton – Comissário Gordon

Stafford Repp – Chefe O’ Hara

Madge Blake – Tia Harriet Cooper

Reginald Denny – Comodoro Schmidlapp

Milton Frome – Vice Almirante Fangschliester

Gil Perkins – Bluebeard

Dick Crockett – Morgan

George Sawaya – Quetch

 

 

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