CLÁSSICO REVISITADO | O MÁGICO DE OZ – 85 ANOS

Lembrando que em dezembro teremos no cinema a reimaginação de O Mágico de Oz no musical Wicked, vamos celebrar os 85 anos desse clássico imortal.

Por Adilson Carvalho

Há 85 anos o mundo mergulhava no temor de um conflito de grandes proporções, e os americanos estavam se reerguendo do difícil período da depressão graças ao plano de ação do presidente Franklin D. Roosevelt. Apesar da ideia de reconstrução, o clima global era de medo e havia pouco espaço para tranquilidade, o que dizer então de … magia ! A Metro Goldwyn Mayer estava explodindo de criatividade cênica, dizia-se que o estúdio tinha mais estrelas do que o céu. Foi assim que Louis B. Mayer, o chefão da MGM, decidiu adaptar o romance O Mágico de Oz, de L. Frank Baum, e fez de Judy Garland (1922-1969) a eterna Dorothy, uma menina meiga e ingênua, que junto com seu cachorro Totó são levados para a terra mágica de Oz quando um ciclone passa pela fazenda de seus avós no Kansas. Eles viajam em direção à Cidade Esmeralda para encontrar o Mágico de Oz (Frank Morgan) e no caminho encontram um Espantalho (Ray Bolger), que precisa de um cérebro, um Homem de Lata sem um coração (Jack Haley) e um Leão Covarde (Bert Lahr), que quer coragem. O grupo precisa enfrentar a Bruxa Malvada do Oeste (Margareth Hamilton), mas são ajudados por Glinda (Billie Burke), a bruxa boa.

O filme foi um triunfo técnico para a época tendo custado cerca de US$75,000 pagos ao autor pelos direitos autorais, retornando para o estúdio US$ 512 milhões da bilheteria. Cenógrafos, figurinos, diretores de arte, iluminadores e maquiadores empregaram uma imensa tour-de-force colaborativa para criar o mundo de Oz em todo seu esplendor de cores e formas. O filme começou a ser dirigido por George Cukor, que por diferenças criativas foi substituído por Victor Fleming. Este soube explorar na câmera todos os ângulos captando emoções em close ups, equilibrando planos abertos e médios que criam a sensação dos números musicais saltarem para fora da tela. O filme leva para a narrativa a transição do preto e branco (o mundo real) para as cores vibrantes do Technicolor (o mundo de Oz). A maquiagem e os figurinos tiveram nos bastidores alguns inconvenientes. Margareth Hamilton sofreu com a aplicação dos produtos que deixariam seu rosto verde pois estes levavam cobre, e demoravam a sair de seu rosto por mais de uma semana. Outro inconveniente foi o figurino e maquiagem do homem de lata que a princípio seria interpretado pelo ator Buddy Ebsen (que faria a série Família Buscapé) mas com todas as dificuldades este foi substituído por Jack Haley. Este não podia se sentar para descansar no intervalo das gravações e ficava inclinado em uma parede preparada especialmente para ele. Já Ray Bolger e Beth Lahr sofriam com suas roupas pois as luzes do estúdio geravam muito calor para suas roupas. O traje de Bert Lahr pesava 90 libras. Era feito de uma pele de leão de verdade e muito quente. As luzes de arco usadas para iluminar o cenário geralmente elevavam a temperatura a mais de 100 graus Fahrenheit. Lahr suava tanto que o traje ficava encharcado no final do dia. Havia duas pessoas cujo único trabalho era passar a noite secando o traje para o dia seguinte. Ocasionalmente, o traje era lavado a seco, mas geralmente, nas palavras de um dos membros da equipe, “cheirava mal”.

Os Munchkins são representados pelos The Singer Midgets (Os Anões Cantores), nomeados não por suas habilidades musicais, mas por Leo Singer, seu empresário. A trupe veio da Europa, muitos deles eram judeus e alguns aproveitaram a viagem para ficar nos EUA a fim de escapar dos nazistas. Cantores profissionais dublaram a maioria de suas vozes, já que muitos dos anões não falavam inglês e/ou não cantavam bem. Apenas dois são ouvidos falando com suas vozes reais – os que dão flores a Dorothy depois que ela sobe na carruagem. Histórias de bastidores contam que alguns dos anões abusavam de Judy durante as filmagens. O próprio Louie B. Mayer assediava a atriz de acordo com relatos extra oficiais. A atriz, na época com 17 anos, teve de usar um doloroso espartilho ao redor do tronco para parecer mais jovem e com o peito achatado, pois tinha 16 anos na época das filmagens, fazendo o papel de uma criança pré-adolescente. Over the Rainbow, hoje eleita uma das mais belas canções de todos os tempos, quase foi cortada do filme; a MGM achou que ela tornava a sequência do Kansas muito longa, além de estar muito acima da cabeça das crianças a quem se destinava. O estúdio também achou que era degradante para Judy Garland cantar em um curral. Uma reprise da música foi cortada: Dorothy a cantou para se lembrar do Kansas enquanto estava presa no castelo da Bruxa. Garland começou a chorar, junto com a equipe, porque a música era muito triste.

Apesar do fato de ter interpretado uma adversária da Dorothy, Margaret Hamilton e Judy Garland se davam muito bem no set. Certa vez, Garland mostrou a Hamilton um vestido que usaria no palco para sua formatura. No entanto, Louis B. Mayer enviou Garland em uma turnê com Mickey Rooney e Judy Garland nunca teve a chance de usar o vestido no palco com seus colegas de classe. Hamilton ficou tão furiosa que ligou para Mayer e gritou com ele. A cor da estrada de tijolos amarelos apareceu pela primeira vez como verde nos primeiros testes do Technicolor. Depois disso, ela foi ajustada para que fosse vista corretamente como amarela no processo Technicolor de três faixas, que em 1938-39 ainda estava em seu estágio experimental. Embora tenha sido indicado à Palma de Ouro em Cannes, perdeu, mas ganhou os Oscars de melhor canção original e melhor trilha sonora de um total de 6 indicações. Judy ainda levou um Oscar especial por sua performance em O Mágico de Oz. Um filme de superlativos, de encantamento atemporal que veio muito além do arco-íris.

TRÍVIA:

#1. Os icônicos sapatinhos de rubi estão agora no Museu Nacional de História Americana do Instituto Smithsonian, e são tão populares que o carpete em frente a eles teve que ser substituído várias vezes devido ao desgaste.

#2. Quarenta e quatro milhões de pessoas sintonizaram na TV americana para assistir sua primeira transmissão em 3 de novembro de 1956.

#3. Judy Garland só podia trabalhar 4 horas no set de filmagem, pois estava na escola na época e trabalhava 3 horas como educadora quando não estava interpretando Dorothy. Houve um tornado no Kansas no dia da morte de Judy Garland.

#4. Jack Haley Jr, filho do ator Jack Haley, que fez o homem de lata foi casado com Liza Minelli, a filha mais velha de Judy Garland, entre 1974 e 1979.

#5. A frase do filme “I’ll get you, my pretty, and your little dog, too!(Vou pegar você, minha linda, e seu cachorrinho também!) foi eleita a 99ª citação de filme pelo American Film Institute (de um total de 100). “Toto, I’ve got a feeling we’re not in Kansas anymore” (Totó, tenho a sensação de que não estamos mais no Kansas) foi a nº 4. “There’s no place like home” (Não há lugar como o nosso lar) ficou em 23º lugar.

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