Por Adilson Carvalho

Sua aparição em uma capa da revista Harper’s Bazaar aos 18 anos de idade levou ao seu primeiro papel no cinema; ela foi vista pela esposa do diretor Howard Hawks, que fez um teste de tela e a escalou para Uma Aventura na Martinica (1944). O papel foi, na verdade, baseado e nomeado em homenagem à esposa de Hawks na época, Nancy Gross “Slim” Hawks. Ela repetiu essa “homenagem” em Prêt-à-Porter (1994), produzido pouco tempo depois da morte de “Slim” Hawks, interpretando uma personagem chamada Slim Chrysler, e lançado nos cinemas cinquenta anos após a estreia de Uma Aventura na Martinica (1944). Betty Joan Perske era seu nome verdadeiro mas ao estrear no cinema renasceu como Lauren Bacall, uma das maiores estrelas do cinema hollywoodiano, eternamente lembrada pela voz sensual, e que hoje faria 100 anos.

Nasceu em Nova York em 16 de setembro de 1924, filha única de um casal de judeus, William Perske (primo do ex-presidente de Israel Shimon Peres, nascido na Polônia numa área que hoje faz parte da Bielorrússia) e Natalie Weinstein Bacal (que nasceu na Romênia. Seu pai era vendedor e sua mãe, secretária. Divorciaram-se quando ela tinha seis anos de idade. Como resultado, a menina não mais viu seu pai e, por isso, formou uma forte ligação com sua mãe, a quem levou consigo para a Califórnia quando veio a se tornar uma estrela do cinema. Bacall estudou dança durante treze anos. Ela então teve aulas de interpretação na Academia Americana de Artes Dramáticas. Durante esse tempo, tornou-se atendente de teatro, e trabalhou como modelo de moda. Como Betty Bacall, fez sua estreia como atriz na Broadway em 1942, na peça Johnny Two By Four. Naquela época seu ídolo era Bette Davis. De acordo com sua autobiografia, ela teve a oportunidade de se encontrar com a famosa atriz em seu hotel. Anos depois, Davis visitaria o camarim de Bacall para felicitá-la por sua performance como Margo Channing em Applause, um musical baseado em A Malvada (1950), estrelado por Davis.

Não gostando do nome Betty, Hawks trocou para Lauren. Ele fez vários testes com ela e então a escalou para Uma Aventura na Martinica (1944). Como ficava nervosa diante das câmeras, Hawks sugeriu a ela inclinar a cabeça e puxar o cabelo para um dos lados do seu rosto. Ela pressionou seu queixo contra o peito, e então dirigiu os olhos para cima de modo a poder olhar para a câmera. Esse efeito veio a deixá-la conhecida como The Look, a marca registrada de Bacall. Ela encontrou Humphrey Bogart nos estúdios de filmagem de Uma Aventura na Martinica, que na época era casado com Mayo Methot. Passaram a se relacionar dentro do set das filmagens; dentro de algumas semanas, eles começaram a se encontrar fora dos estúdios. Depois do divórcio de Bogart, casaram-se e tiveram filhos. O filme levou-a a um estrelato instantâneo. Sua participação foi mais tarde considerada uma das mais impactantes estreias na história do cinema.

Voltou a trabalhar com Bogart mais três vezes, no filme noir À Beira do Abismo (1946), no thriller Prisioneiro do Passado (1947), e no suspense melodramático de John Huston, Paixões em Fúria (1948). No ano seguinte deu a luz a Stephen Bogart, nome foi dado em homenagem ao personagem do pai Humphrey Bogart em Uma Aventura na Martinica (1944). Mas não demorou para que a diva viesse a diversificar seus papeis nas telas como a sofisticada Schatze Page de Como Agarrar um Milionário (1955), dividindo a cena com Marilyn Monroe e Betty Grable. Lauren começou a filmar a comédia de Jean Negulesco seis meses depois de dar à luz a sua filha Leslie Bogart. Este foi também o primeiro filme dos anos 1950 em cores e em CinemaScope a ser exibido em horário nobre na televisão. Embora tenha sido Dorothy Malone a atriz badalada no Oscar por Palavras ao Vento (1956), Lauren teve ótima atuação como a sedutora publicitária Lucy Moore. Lauren ficou muito amiga do astro Gregory Peck com quem fez Teu Nome é Mulher (1957) no papel de uma estilista de moda. Depois da morte de Bogart em 1957, casou-se pela segunda vez com o ator Jason Robards, em 1961.

Mesmo sendo coadjuvante, Lauren roubou a cena e demonstrou incrível timing cômico ao lado de Henry Fonda em Médica, Bonita e Solteira (1964). Em 1970 ganhou o prêmio Tony de Melhor Atriz Principal em Applause. Mesmo tendo atuação fantástica na adaptação da obra de Agatha Chrsitie Assassinato no Expresso do Oriente (1974) de Sidney Lumet, a Academia parecia menosprezar seu talento e não ganhou nenhuma indicação ao Oscar, nem mesmo trabalhando ao lado da lenda John Wayne em seu último filme O Último Pistoleiro (1976). Em 1981,atuou, cantou e dançou em O Fã – Obsessão Cega, na pele de Sally Ross, uma estrela perseguida por um serial-killer. Na época afirmou, brincou sobre “não ter mais aniversários” e parar aos 47… ou 49 anos. Voltou a integrar o elenco de outra obra de Agatha Christie em Assassinato num Dia de Sol (1982). Em 1996, aos 72 anos, a estrela recebeu sua primeira indicação ao Oscar por O Espelho Tem Duas Faces, como melhor atriz coadjuvante, mas perdeu para Juliette Binoche em O Paciente Inglês. Somente em 2010 levou uma estatueta para casa pelo conjunto da obra. Dois anos depois fez O Falsificador, seu último filme. Lauren Bacall morreu em Nova Iorque aos 89 anos de derrame cerebral em seu apartamento no Edifício Dakota com vista para o Central Park. Sua estrela sempre há de brilhar no firmamento de Hollywood.