GALERIA DE ESTRELAS | RODDY MCDOWELL

Por Adilson Carvalho

Talento prodígio, Roddy McDowell começou a atuar aos 10 anos, tendo se tornado notório pela tendência a exagerar na atuação e ofuscar os outros atores com seus olhos castanhos profundos, expressivos e penetrantes. Teve em O Planeta dos Macacos (1968) um de seus maiores sucessos, atuando no filme original, suas sequências e na série de TV, mas nos anos 80 marcou uma geração em um dos melhores filmes da Espantomania, como um nada destemido caçador de vampiros. Assim era Roddy McDowell, que faria hoje 96 anos.

Roderick Andrew Anthony Jude McDowall nasceu em 17 de setembro de 2024 em Londres. Com dez anos de idade atuou em seu primeiro filme, Murder in the Family, em 1938, no papel de Peter Osborne, o irmão mais moço das personagens representadas por Jessica Tandy e Glynis Johns. No começo da Segunda Guerra Mundial transferiu-se com a família para os Estados Unidos, onde participou de Como Era Verde o Meu Vale (How Green Was My Valley), em 1941, dirigido por John Ford, no papel de “Huw”. Esta produção foi a vencedor do Oscar de Melhor Filme daquele ano. Em 1948 interpretou Malcolm, no filme Macbeth, dirigido por Orson Welles. Participou de inúmeros outros filmes em papéis infantis, entre eles The Pied Piper (1942), Minha Amiga Flicka (1943) e A Força do Coração (1943), atuando com Elizabeth Taylor, também atriz infantil, e com quem forjaria uma amizade de longa data. Com 18 anos mudou-se para Nova Iorque, onde interpretou uma longa série de papéis em peças teatrais de sucesso da Broadway.

Além de ter participado de mais de duzentos filmes na televisão e no cinema, entre eles O Mais Longo dos Dias (1962), Cleópatra (1963), como Otávio Augusto, protagonizando um dos episódios mais inusitados da história do Oscar. Um erro de escrita por parte da 20th Century-Fox custou a McDowall uma provável indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante por seu papel como César Augusto Otávio em Cleópatra (1963). O estúdio o listou erroneamente como ator principal e não como coadjuvante. Quando a 20th Century-Fox pediu à Academia para corrigir o erro, ela se recusou, dizendo que as cédulas já estavam na gráfica. A 20th Century-Fox então publicou uma carta aberta nos jornais comerciais, pedindo desculpas a McDowall: “Achamos importante que o setor saiba que seu desempenho elétrico como Octavian em Cleópatra, que foi unanimemente apontado pelos críticos como um dos melhores desempenhos coadjuvantes de um ator este ano, não é elegível para uma indicação ao Oscar nessa categoria… devido a um erro lamentável por parte da 20th Century-Fox“. Ainda mais constrangedor foi o que ocorreu em 1974, quando o FBI invadiu sua casa e confiscou sua coleção de filmes e séries de televisão durante uma investigação de violação de direitos autorais e pirataria de filmes. A coleção consistia em 160 cópias de 16 mm e mais de 1.000 fitas de vídeo. O valor dos filmes foi avaliado de forma conservadora em US$ 5.005.426 por representantes do setor cinematográfico.

O ator não foi acusado e concordou em cooperar com o FBI. Na época, não havia mercado de reposição para filmes, pois o gravador de vídeo comercial ainda não havia sido comercializado, e os estúdios destruíam rotineiramente negativos e impressões antigas de filmes clássicos que consideravam sem valor. Os cinéfilos, como McDowall, tinham que comprar impressões de filmes em 16 mm dos estúdios, ou impressões de filmes no mercado negro ou de outros colecionadores. Ele afirmou que chegou a ter 337 filmes em sua coleção, mas, na época da investigação, não tinha certeza de quantos ainda estavam em seu poder. Ele havia comprado a coleção de filmes de Errol Flynn e adquirido outros filmes por meio de compras ou trocas. McDowall disse ao FBI que havia transferido muitos de seus filmes para fita de vídeo para economizar espaço e porque a fita era mais duradoura que o filme e, posteriormente, vendeu ou trocou as cópias, além de outras cópias de filmes pelos quais havia perdido o interesse, para outros colecionadores. Ele disse que colecionava os filmes devido ao seu amor pelo cinema e para ajudar a proteger o patrimônio dos filmes. McDowall também disse que a posse de cópias de seus próprios filmes permitiu que ele estudasse sua atuação e aprimorarasse sua arte. Um dos filmes que ele havia comprado da American-International Pictures era A Balada de Tam Lin (1970), um filme que ele mesmo havia dirigido. Ele explicou que acreditava não estar violando os direitos autorais, pois não estava exibindo os filmes com fins lucrativos, nem tentando lucrar com a venda de suas cópias, pois cobrava apenas o preço que lembrava ter pago. Ele acreditava ter comprado alguns dos filmes diretamente da 20th Century-Fox, mas soube posteriormente por seu advogado que seu contrato com a 20th Century-Fox significava que o estúdio mantinha a propriedade das cópias e que ele estava proibido de vendê-las, trocá-las ou emprestá-las. McDowall foi franco sobre as pessoas com quem lidou no mercado negro e também citou Rock Hudson, Dick Martin e Mel Tormé como outras celebridades com coleções de filmes.

Na segunda metade fez Carrasco de Pedra (1966), O Planeta dos Macacos (1968), no qual participou de quatro dos cinco filmes da franquia baseada na obra de Pieree Boule, entre 1968 e 1973 como os chimpanzés Cornelius e César, e de 14 episódios da série de TV (1975), na pele do macaco Galen. Além disso começou uma série de participações em séries de TV como Além da Imaginação (1960), Batman (1966) onde interpretou o vilão Traça e Os Invasores (1967), mesmo sem jamais deixar o cinema como em O Destino do Poseidon (1972) e Funny Lady (1975). Esteve presente em várias das séries mais populares dos anos 70 como A Ilha da Fantasia, Casal 20, Police Woman, Columbo, Contra Golpe, Mulher Maravilha, além de ter protagonizado a série de curta duração Viagem Fantástica (1975). Nos anos 80 fez Assassinato no Dia de Sol (1982), e reencontrou a popularidade no papel de Peter Vincent de A Hora do Espanto (1985) e A Hora do Espanto II (1988). O nome do personagem era uma homenagem aos atores Peter Cushing e Vincent Price. O ator ainda teve um papel coadjuvante em Um Salto para a Felicidade (1987), filme estrelado por Kurt Russell e Goldie Hawn, que o próprio McDowell produziu. O ator também escreveu cinco livros e era um fantástico fotógrafo. Morreu em sua casa, aos 70 anos de idade, em consequência de câncer, deixando um legado de diversos trabalhos na TV e no cinema.

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