Por Adilson Carvalho


Tive o prazer de assistir o filme de Paulo Nascimento em sua exibição especial no 10º Santos Film Fest. A narrativa faz um recorte temporal, mas a habilidade do diretor e também roteirista cria uma ponte entre presente e passado para contar a história real dos sobreviventes da ditadura chilena em 1973 quando o General Pinochet tomou o poder, em momento em que vários brasileiros estavam exilados para fugir também de uma ditadura, em um momento extremamente sangrento da democracia. Nascimento evita os clichês de um estilo semi documental, criando um suspense contínuo reforçado pelas excelentes atuações centradas no tripé Lucas Zaffari – Carol Castro – Edson Celulari. Este vive um empresário brasileiro, do ramo dos calçados, que envia seu único filho Gabriel (Zaffari) para o Chile para que ele não seja morto por seu ativismo político. Comprando favores e usando de sua influência, Fernando (Celulari) envia seu filho ao exílio sem saber que estava saindo da frigideira para cair no forno já que o próprio Chile se tornaria também uma ditadura sob o julgo de Pinochet. O filme desenrola sua trama nas tentativas de resgate de seu filho e dos brasileiros refugiados na embaixada argentina, entre eles a atormentada Clara (Castro), que perdeu a família e por isso está mentalmente abalada. Embora Carol Castro esteja como coadjuvante da trama, seus momentos em cena são intensos, pungentes, a atriz rouba a cena e se conecta com a reação do público. Celulari e Zaffiri também brilham em meio a tensão crescente de conseguir a liberdade e a vida sufocada por força de um contexto maior, violento e inexorável. O que me impressiona é que o filme consegue fazer um paralelo entre o passado e o presente, revelado pelo próprio título extraído da icônica canção Como Nossos Pais, de Belchior, eternizada na voz de Elis Regina. Atos de um passado recente surgem no final junto com o depoimento de sobreviventes do episódio retratado e reforçam a necessidade de produzirmos uma arte capaz de nos abrir os olhos dos erros repetidos, e da importância de lembrar que ainda há perigo na esquina, mas a dor que percebemos é que ainda vivemos o mesmo desafio de garantir que a história não se repita.
