FILME DO DIA: EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

Por Adilson Carvalho

Com a proximidade do lançamento do documentário Super/Man: A História de Christopher Reeve, vamos lembrar do saudoso ator com um belíssimo filme embalado por uma trilha sonora magnífica. Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time) fala de um grande sonho, o de viajar no tempo. Imagine que além disso falamos de uma história de amor capaz de não apenas vencer o obstáculo da distância física como também do próprio tempo, pois foi o que se passou na cabeça do escritor norte americano Richard Matheson (1926 – 2013) em “Bid Time Return”, publicado em 1975 e cinco anos depois adaptado ao cinema como “Em Algum Lugar do Passado”.

A história de Richard Collier, jovem dramaturgo do século XX que se apaixona por uma atriz de teatro do século XIX, chamou a atenção da produtora Rastar (depois vendida para a Columbia) que adquiriu os direitos fechando a distribuição com a Universal. O próprio Matheson ficou incumbido de fazer a adaptação do roteiro, algo em que era expert, já tendo feito roteiros para séries de TV (Além da ImaginaçãoStar Trek etc) e filmes (EncurraladoEu Sou a Lenda etc). O prolífico autor decidiu aproximar o público da história fazendo Collier viajar de 1980 para 1912, enquanto no livro ele viaja de 1971 para 1896. Durante a pré-produção. O agente de Christopher Reeve, recém-saído do megasucesso de “Superman o Filme (1978) e “Superman II” (1980), recusou o papel sem sequer mostrar o script para o ator. O produtor Stephen Deutch conseguiu burlar a dificuldade, e clandestinamente entregou o roteiro no hotel em que Reeve estava hospedado. O ator gostou e no dia seguinte fechou o acordo, acreditando no projeto e aceitando um salário bem abaixo do que se esperaria depois de seu estrelato como Superman. O papel de sua amada, a atriz Elise McKenna, ficou com a inglesa ex-bond girl (Com 007 Viva e Deixar Morrer) Jane Seymour. Completando o elenco principal estava o veterano Christopher Plummer (A Noviça Rebelde) como William F. Robinson, o empresário super protetor de McKenna. Duas veteranas completam o elenco: Teresa Wright como a governanta de Elise McKenna, e Susan French como a versão futura da protagonista. Ambas vindas de carreiras respeitosas nos palcos, na Tv e cinema. A direção coube ao francês Jeannot Szwarc que dois anos antes substituíra Spielberg em “Tubarão 2”.

Aquele rosto apaixonante

As filmagens foram todas inteiramente realizadas em locação em Chicago e Michigan, algo raro que não era feito desde o clássico “Anatomia de um Crime” (1959). Grande parte da história utilizou o Grand Hotel, uma construção histórica onde se hospedaram o inventor Thomas Edison, o escritor Mark Twain, a atriz Esther Williams além dos presidentes Kennedy, Truman e Bill Clinton. O local fica em uma área de resort, a MacKinac Island, onde carros não são permitidos, aparecendo no filme apenas brevemente com permissão da administração local. A belíssima trilha sonora foi assinada por John Barry, compositor do tema dos filmes de 007, que aceitou a tarefa após o pedido da própria Jane Seymour. Foi o próprio Barry quem selecionou a oitava variação da “Rapsódia sobre um tema de Paganini” do russo Sergei Rachmaninoff, que se tornou parte do tema musical do amor de Richard e Elise. Lamentavelmente os atores foram proibidos de divulgar o filme devido a regras do sindicato, que na época passava por uma longa greve. Isso, lembrando que na época não existia a internet, afetou o desempenho do filme nas bilheterias. Com uma história romântica em cenário idílico e trilha sonora hipnotizante fica difícil acreditar que o filme não tenha sido sucesso estrondoso, com receita doméstica de cerca de US$9,709,597 para um custo estimado em US$5,100,000. Lembrando que na ocasião de seu lançamento Hollywood ainda estava tomada por uma onde de filmes realistas, o oposto do representado pelo filme de Szwarc. Curiosamente, o filme foi muito bem recebido internacionalmente ficando 18 meses em exibição em Hong Kong, sem mencionar as diversas reprises na Tv desde então.

Grand Hotel em MacKinac Island

O luxuoso Grand Hotel recebe regularmente os fãs de Em Algum Lugar do Passado para eventos locais. Em 2012 celebrou-se o centenário do encontro dos personagens Richard e Elise. Todo ano, desde 1990, o fanclube do filme se reúne no mês de outubro (quando o filme foi originalmente lançado) no Grand Hotel, que exibe como memorablia o chapéu usado pelo saudoso Chris Reeve e a caixa de música na forma de uma miniatura do hotel pertencente a Elise. A própria interprete de Elize, a atriz Jane Seynour, voltou ao local usando o mesmo vestido e penteado de sua personagem no filme, para um encontro com os fãs em várias ocasiões. O próprio Christopher Reeve também o fez, incluindo poucos meses antes de sua morte, quando já estava preso a cadeira de rodas. Jane e Chris ficaram muito amigos na vida real. Jane batizou seu primeiro filho com o nome do eterno Superman. O filme também teve significado muito pessoal para Reeve já que ele recebeu a noticia da gravidez de sua esposa durante as filmagens da cena que seu personagem volta, contra a vontade, ao presente. Em 1997 o escritor David Gurnee publicou “Memoirs of Elise”, livro que relata o que passou com Elise desde sua separação de Richard ao final da historia até sua própria morte, respondendo perguntas como de que forma ela descobriu o que acontecera com Richard, que no livro original de Matheson sofria de câncer terminal.

É você ???

O filme trata de auto-hipnose, amor, escolhas difíceis e paradoxos temporais com uma abordagem do tema da espiritualidade. Sobretudo, nos traz uma amostra do talento de um escritor hábil em criar fantasias envolventes. O próprio Matheson teve a ideia para a história quando ele passou experiência similar a de Reeve no filme, quando se sentiu fascinado pela foto de Maude Adams, uma antiga atriz que interpretara Peter Pan na Broadway. Se viajar no tempo foi possível, aí a resposta está em algum lugar da imaginação de seu autor, e nossa ao ouvir Jane Seymour indagar “É você ?”. Eu pergunto então, e você ? Disponível no PLEX.

Elenco – Estúdio de Dublagem : BKS
Christopher Reeve (Richard Collier) – Carlos Campanille
Jane Seymour (Elise McKenna) – Sandra Campos
Christopher Plummer (William F. Robinson) – Dráuzio de Oliveira
Tereza Wright (Laura Roberts) – Gessy Fonseca
Bill Irwin (Arthur Biehl) – Antonio Moreno
George Voskovec (Dr. Finney) – Jorge Barcellos

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