Por Adilson Carvalho

Tão bom quanto primeiro fiulme, talvez até melhor, Superman II chegou aos cinemas brasilerios em 25 de dezembro de 1980, praticamente seis meses antes de sua premiére em Nova York. Fiulmado junto com o primeiro filme, sua pós produção foi tumultuada devido ao desentendimento entre o diretor Richard Donner e os produtores. Com a demissão de Donner, Richard Lester, que dirigira Os Três Mosqueteiros (1973) e A Vingança de Milady (1974) para os Irmãos Salking além de ter feito com os Beatles Os Reis do Iê Iê Iê (1964) e Help (1965). Contudo, devido às normas do sindicato americano, seria necessário refilmar várias cenas do contrário Richard Donner teria que ser creditado. Vários membros do elenco, entre eles Marlon Brando e Gene Hackman, e da equipe se recusaram a retornar após a demissão de Donner. Por questões contratuais o então novato Christopher Reeve não pode se recusar a fazer as refilmagens, renegociando apenas alguns termos e voltando ao estúdio assim que terminara de filmar Em Algum Lugar do Passado (1980). Tomadas adicionais foram feitas para preencher os espaços da narrativa, e por isso que há uma porção de versões alternativas duplicadas de certas sequências, e cenas na versão de um realizador que não aparecem no guião da outra versão, em vez de duas edições alternativas de uma fonte combinada de material filmado. Daí que as versões de Donner e Lester sejam radicalmente diferentes, mas confusamente semelhantes. A primeira cena foi refilmada com a atriz Susannah York (Lara) tomando o lugar de Brando (Jor El) para o diálogo em que o Superman abdica seus poderes. Contudo, a forma como ele os recupera, reencontrando o cristal original que criou a fortaleza da solidão, fica inexplicada somente fazendo sentido na versão do diretor, que explica que o espírito de Jor El inserido na inteligência artificial se sacrifica para restaurar os poderes do herói.

Na história, Superman (Christopher Reeve) precisa combater novamente os planos mirabolantes do terrível Lex Luthor (Gene Hackman), que acaba de sair da prisão. Ao mesmo tempo, o herói trava uma batalha contra o General Zod (Terence Stamp), Ursa (Sarah Douglas) e Non (Jack O’Hollohan), três prisioneiros perigosíssimos fugitivos da Zona Fantasma, vindos do extinto planeta Krypton, que desejam dominar a Terra. Sob a energia amarela do Sol, os três adquiriram os mesmos poderes que o Superman a quem odeiam pois no passado distante foram sentenciados à Zona Fantasma por Joe El (Marlon Brando). No roteiro original, era o míssil nuclear de Superman: O Filme (1978) que libera Zod e seus companheiros da Zona Fantasma, mas quando Lester assumiu a cena foi retirada e substituída pelo ataque dos terroristas na Torre Eiffel após o qual o Superman joga uma bomba nuclear no espaço, que vem a libertar os vilões kryptonianos. A sequência original foi reinserida quando a Warner realizou Superman II – O Corte do Diretor em 2006, restaurando a visão de Richard Donner.

O filme consegue cumprir todos os requisitos de uma história em quadrinhos com ação e humor em perfeito equilíbrio. A luta entre Superman e Zod no terço final do filme é pura imagem sequenciada de uma hqs do herói com parte da cidade de Metropolis sendo destruída na luta. Em um dos momentos mais memoráveis está também a revanche do herói, no final do filme, contra o valentão Rocky (Pepper Martin) que havia espancado Clark quando este estava sem poderes. Nota-se que os personagens de Ned Beatty (Ottis) e Valerie Perrine (Srta Teschmacher) são logo tirados da narrativa, o que deixa o aspecto cômico mais de lado, investindo mais atenção também no romance entre Lois (Margot Kidder) e Superman/Clark. Finalmente Lois descobre a identidade secreta do herói, mas a solução final de Lester se mostrou fantasiosa demais com um simples beijo apagando sua memória no final, um poder que o Superman nunca teve. No roteiro original o herói volta no tempo, sequência emblemática que havia sido usada no final do primeiro filme contra a vontade de Donner. Margot Kidder estava muito infeliz durante as filmagens, devido ao fim de seu casamento com Thomas McGuane além de que ela sentia falta de Richard Donner e sabia que estava sendo muito bem paga para fazer um trabalho pequeno. Em uma entrevista de 1981 à Rolling Stone, ela lembrou que “durante várias semanas, fiquei sentada em meu camarim, ouvi música, li The Great Shark Hunt e Orwell e muita literatura francesa, escrevi cartas, trabalhei em um roteiro, passei pelo divórcio e, de vez em quando, ia para o set e dizia uma frase como: ‘Oh, Superman, Superman’”. Ao final do filme o público tem a exata sensação que o Superman pode nos salvar realmente, nos salvar do tédio da vida real, e restaurar a fantasia que a aventura continua, fora das hqs, derrotando o mal. Disponível na MAX.
O cinemacompoesia traz na semana que vem os artigos de Superman III e Superman IV.