CINE RÁDIO | AS AVENTURAS DO “ZORRO”, O CAVALEIRO SOLITÁRIO

Por Paulo Telles & Sérgio Cortêz

Cine Rádio – As Aventuras do “Zorro”, O Cavaleiro Solitário

O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger) percorreu a imaginação de crianças e adultos ao longo destes 80 anos. Desde suas origens no Rádio americano, passando pelos quadrinhos, cinema e TV, este herói ganhou maior notoriedade graças à clássica série de TV exibida entre os anos de 1949 a 1957, com Clayton Moore (1914-1999) como o herói mascarado que, ao lado do índio Tonto, luta para manter a justiça, a lei e a ordem no primitivo Oeste americano. Aqui no Brasil o programa televisivo também fez muito sucesso, sendo exibido pelas emissoras TV Rio, Excelsior, Tupi, Gazeta e TVE.  

Entretanto, foi justamente no Brasil que este personagem recebeu erroneamente o nome de outro herói mascarado, Zorro, criação do escritor Johnston McCulley (1883-1958) em sua célebre obra literária A Maldição de Capistrano, cujas aventuras foram levadas às telas de cinema em versões com Douglas Fairbanks (1920), Tyrone Power (1940), Frank Langella (1974), Alain Delon (1975) e Antonio Banderas (1998), e ainda em seriado televisivo (1957-1961) feito pelos estúdios Disney, com Guy Williams. Este legítimo herói Capa & Espada da Califórnia espanhola nada tem a ver com O Cavaleiro Solitário do período do Velho Oeste americano.

Os Quadrinhos do Zorro, ou melhor, do CAVALEIRO SOLITÁRIO (The Lone Ranger), publicados pela saudosa EBAL no Brasil.

Este equívoco entre os “dois zorros” no Brasil iniciou-se com a primeira publicação de O Cavaleiro Solitário em quadrinhos. Apenas um ano depois de ter sido publicado em tiras pelos jornais americanos, em 1938, o Gibi Trissemanal, complemento do Globo Juvenil, cujo editor chefe era o jornalista Roberto Marinho (1904-2003), lançou The Lone Ranger pela primeira vez em sua edição, saudando-o como o Campeão do Oeste e O mais famoso mocinho das histórias em quadrinhos. Mas, em vez da tradução literal para o português, O Cavaleiro Solitário (ou Vigilante Solitário), o herói foi batizado pelo Globo Juvenil como Zorro. Mais tarde, a partir de 1954, a Editora Brasil-América (EBAL), de propriedade de Adolfo Aizen (1907-1991), passa a publicar as aventuras de The Lone Ranger pelos quadrinhos (até 1985), ainda mantendo o nome de Zorro (a mesma editora também publicava o Zorro Capa & Espada). Um erro que causou confusão entre fãs e leitores durante anos e anos, confusão esta que se perpetua até hoje.

Clayton Moore, imortalizado como o CAVALEIRO SOLITÁRIO.

O Cavaleiro Solitário teve suas origens no Rádio, criado para uma série radiofônica por George W. Trendle (1894-1972), tendo suas primeiras histórias escritas por Fran Striker (1903-1962). Sua estreia foi a 30 de janeiro de 1933, quando o primeiro de seus 2.956 episódios foi ao ar pela rádio WXYZ (que mais tarde se tornou a Mutual Broadcasting Network). A série radiofônica foi transmitida até 1954. Vários elementos da série de rádio ficaram fazendo parte da mitologia do herói. A frase Hi Yo Silver, away! e o tema musical do Cavaleiro Solitário, um trecho da ópera A Abertura de Guilherme Tell – composta por Gioacchino Rossini (1792-1868), são algumas das lembranças mais marcantes. O Cavaleiro Solitário chegou até mesmo a ganhar uma versão brasileira pelo rádio em 1944, numa imitação chamada O Vingador, de Péricles do Amaral (1913-1975).

Jay Silverhels como o índio Tonto e Clayton Moore

A origem deste Justiceiro Mascarado remonta a um ataque de uma famigerada quadrilha de pistoleiros e latifundiários contra seis Texas Rangers (policiais ou guardas que vigiavam a fronteira entre EUA e o México) comandados por certo Capitão Reid. Emboscados numa ravina estreita e de paredes altas, o único sobrevivente é exatamente o irmão mais novo do capitão, John Reid, a verdadeira identidade do Cavaleiro Solitário.

Abandonado para morrer no local, em agonia, Reid é encontrado pelo índio Tonto. Dias depois, ao recuperar os sentidos, o jovem se vê no interior de uma caverna, sendo tratado pelo amigo indígena. Após dias de recuperação, Reid e Tonto enterram os mortos, e para enganar a quadrilha, fazem uma sepultura a mais. E, ali, diante das seis sepulturas, John Reid passa a ser considerado morto, para sempre, pois ele resolve assumir um disfarce – uma máscara preta sobre os olhos feita com um pedaço do colete do irmão, exatamente a parte da roupa onde estivera pregada a estrela de prata de defensor da lei. Assim surge O Cavaleiro Solitário!

Clayton Moore, sem sua máscara, foi um dos “Reis dos seriados”

O cinema investiu no personagem. A Republic Pictures realiza em 1938 O Guarda Vingador (The Lone Ranger), seriado de 15 capítulos estrelado por Lee Powell (1908-1944) interpretando o herói. O bom êxito valeu uma continuação no ano seguinte, A Volta do Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger Rides Again), com Robert Livingston (1904-1988). Nos dois primeiros seriados, o parceiro de aventuras do herói, o índio Tonto, foi interpretado por Chief Thundercloud (1899–1955), um legítimo índio cherokee.

The Lone Ranger estreou na TV norte Americana em 1949

Finalmente O Cavaleiro Solitário chega aos lares americanos em 1949, ainda nos primórdios da televisão, sendo a primeira série de faroeste produzida pela TV americana. Clayton Moore, intérprete de vários seriados da Republic, foi escolhido para viver o personagem, e ao seu lado um autêntico índio mohawk nascido no Canadá, Jay Silverheels (1912-1980), como o índio Tonto. A série transformou os dois atores em astros da noite para o dia.

Embora com tanta popularidade alcançada graças ao carisma dos atores principais, um dos produtores da série decidiu demitir Clayton Moore em 1950, contratando em seu lugar o ator John Hart (1917-2009). Para que o público não percebesse a mudança, o produtor fez com que Hart usasse uma máscara maior para cobrir o máximo possível o seu rosto. A demissão de Clayton ocorreu sumariamente, sem qualquer explicação. Os fãs não haviam aceitado a troca e escreveram aos produtores exigindo a volta imediata do ator ao papel, e em 1953, Clayton voltou a usar a máscara.

O ator Clayton Moore, na foto colorida, em seus últimos anos

Em 1956, O Cavaleiro Solitário passou a ser produzida a cores. A série foi cancelada em 1957, com um total de 221 episódios, dos quais Moore estrelou 169. O sucesso do programa ainda levou a serem produzidos dois longas-metragens para o cinema, ambos com Moore e Silverheels: O Justiceiro Mascarado (The Lone Ranger, 1956) dirigido por Stuart Heisler (1896-1979), e A Cidade do Ouro Perdido (The Lone Ranger and The Lost City of Gold, 1957) dirigido por Lesley Selander (1900-1979).

Armie Hammer e Johnny Depp na releitura do personagem feita pela Disney em 2013. Um fracasso!

Em 2013, os estúdios Disney resolveram “ressuscitar” O Cavaleiro Solitário em filme dirigido por Gore Verbinski e estrelado por Johnny Depp como o índio Tonto e Armie Hammer no papel outrora vivido por Clayton Moore. Mas a produção foi um verdadeiro fracasso de crítica, público e bilheteria, mesmo valorizada com a presença de Depp. O herói foi transformado numa paródia, submetendo-se a situações absurdas e vexatórias, muitas vezes escrachado pelo próprio índio Tonto. A geração mais antiga que pôde acompanhar a série de TV com Moore recusou-se aceitar em ver seu herói como motivo de chacota. O Cavaleiro Solitário, em suas origens, é um herói íntegro com personalidade forte, sério, dono de elevada carga moral, suficiente para baixar sobre bandidos e malfeitores, em defesa da justiça, dos fracos e oprimidos, qualidades bem expressas pela clássica série de TV. Clayton Moore deve ter-se revirado no túmulo!

Recordar não é viver: recordar é Reviver!

Matéria publicada originalmente em 2018 pela WEB RÁDIO VINTAGE.

Paulo Telles é radialista (DRT 21959/RJ), crítico de cinema, escritor, produtor e colunista do site CINEMA COM POESIA e atualmente é redator do blog CINE RETRO BOAVISTA. Sérgio Cortêz é radialista e Colaborador do site Cinema Com Poesia.

O CINE RÁDIO era uma coluna de cinema da extinta Rádio Web RÁDIO VINTAGE

BLOG CINE RETRO BOAVISTA

https://cineretroboavista.blogspot.com/

Deixe um comentário