Por Leandro “Leo” Banner

Ao contrário de Peter Pan do romance de J. M. Barrie, PETER PANK – EDIÇÃO INTEGRAL da Editora Comix Zone NÃO é recomendado para todas as idades por tratar-se de uma paródia politicamente incorreta numa direção totalmente oposta à daquela obra que lhe serviu de inspiração. Com roteiro e arte de MAX – pseudônimo do artista espanhol Francesco Capdevila -, PETER PANK reúne as histórias publicadas originalmente na revista EL VÍBORA (onde também foi publicado RANX, que será objeto de análise neste espaço oportunamente) na época conhecida na Espanha como “movida”, iniciada após o fim do regime franquista naquele país, na segunda metade da década de 1970, tratando-se de uma paródia ácida na qual o menino que não queria crescer se torna um punk beberrão, briguento e sem muitas restrições morais, as sereias em ninfomaníacas insaciáveis com pouca ou nenhuma roupa, o Capitão Gancho e seus piratas se tornam uma banda de rock com membros alienados, e os Peles Vermelhas em viciados em LSD e haxixe. MAX se utiliza de um texto cáustico, irônico, com situações absurdas e esdrúxulas para criticar a situação política e social espanhola da época. O traço é estilizado, cartunesco e muito expressivo, sem qualquer compromisso com anatomia, proporção ou realidade, mas pela proposta das histórias não é um detalhe que chega a incomodar, muito pelo contrário, é um detalhe que torna a leitura mais divertida. O álbum reúne as histórias “No Future”, “Licantropunk” e “Pankdinista”, em tramas que se complementam com muita bizarrice, sexo, referências a alguns elementos da cultura pop e uma suposta rixa entre punks e roqueiros, tudo como pano de fundo para sutis abordagens de mazelas sociais combinadas com o tom libertário e subversivo da obra. A edição da Comix Zone é caprichada, com papel offset de boa gramatura, acabamento de luxo, capa dura e verniz localizado, totalmente em cores, com alguns poucos extras que se resumem a capas, ilustrações e páginas inéditas produzidas pelo autor.
Uma crítica a esse tipo de lançamento – e isso vale não apenas para a Comix Zone, mas também para Pipoca e Nanquim, Panini e etc – é a ausência de um texto introdutório que poderia muito bem ser produzido pela equipe editorial a fim de contextualizar o leitor para aquela obra específica, mesmo que na edição original não exista algo parecido, e isso se justificaria para que o leitor tivesse uma ideia do contexto em que a obra fora concebida, o que certamente enriqueceria muito mais a experiência da leitura. É uma obra divertida, boa de se ler, mas não é daquelas indispensáveis. Pode valer a pena a aquisição com um excelente desconto.
Avaliação: 3/5
Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻