MES DO SUPERMAN | O QUE ACONTECEU AO HOMEM DE AÇO

Por Leandro “Leo” Banner

Entre o final de 1984 e meados de 1985, quando a megassaga CRISE NAS INFINITAS TERRAS (sobre a qual ainda falaremos eventualmente no espaço HQ TERRITÓRIO NEUTRO) se encaminhava para sua metade final, os editores sabiam que o encerramento da história seria um momento determinante, pois marcaria o fim de uma era e o começo de outra. Inegável também que, naquele momento, os quadrinhos passavam por um momento de transição poucas vezes experimentado anteriormente com o surgimento de histórias mais adultas, sombrias e complexas como o Demolidor de Frank Miller na Marvel, o Monstro do Pântano na DC, Miracleman e Watchmen (que estavam em andamento) sob a batuta do já consagrado Alan Moore, entre outras. À frente do título do Superman por quase 30 anos, o lendário editor Julius Schwartz sabia que o fim de CRISE… marcaria também o fim de sua época no comando do título do Homem de Aço, até porque já havia planos por parte da DC COMICS para um recomeço de seus principais personagens, livres de uma complexa e confusa cronologia de quase 50 anos envolvendo infinitas Terras, multiversos e inúmeras diferentes versões dos mesmos heróis.

Julius Schwartz então decidiu que seria o momento de contar a ÚLTIMA história do Superman, uma história que encerraria um cliclo, uma fase… uma Era. Uma história que seria verdadeiramente um desfecho para o Superman, seu elenco de coadjuvantes e seus vilões. Mas quem estaria à altura de tal empreitada? O editor então pensou, naquele momento, que o mais apto a escrever tal história emblemática seria quem escreveu a PRIMEIRA história do personagem em 1938, ou seja, Jerry Siegel. No entanto, embora tivesse concordado com a missão, Siegel se viu logo depois incapaz de continuar com a empreitada em função de vários outros compromissos e obrigações. Dias depois, ao tomar café da manhã com ALAN MOORE, Julius Schwartz comentou com o roteirista britânico sobre esse problema referente à dificuldade de encontrar alguém que pudesse escrever a última história do Superman… Moore imediatamente o pegou pelo pescoço e lhe disse algo do tipo “Se deixar outro que não seja EU escrever essa história, vou te matar”. Julius não viu outra opção a não ser deixar a missão para o já renomado roteirista. 🤣🤣🤣
A despeito da bem-humorada forma de como se deu toda situação, de forma inadvertida, Schwartz encontrou a solução ideal para a questão que lhe afligia ao escalar o genial Alan Moore para escrever a derradeira história do Homem de Aço, e são essas histórias que saíram no díptico publicado em SUPERMAN (vol. 1) #423 e ACTION COMICS #583, em 1986. Para desenhar essas histórias, não havia qualquer dúvida de que a honra caberia a CURT SWAN, veterano desenhista responsável por definir o padrão visual do herói a partir da década de 1950, e que estava à frente das ilustrações dos principais títulos do personagem desde então. Para a arte-final da primeira parte, o sensacional GEORGE PÉREZ conseguiu satisfazer seu grande sonho de, ao menos uma vez, ter a oportunidade de finalizar o lápis do lendário Swan, enquanto que a arte-final da última parte ficou a cargo de KURT SCHAFFENBERGER. Essas histórias já foram publicadas algumas vezes no Brasil pelas editoras Abril, Ópera Graphica, Eaglemoss e, mais recentemente, pela Panini Comics Brasil no especial SUPERMAN – O QUE ACONTECEU AO HOMEM DE AÇO? e UNIVERSO DC POR ALAN MOORE.

A história O QUE ACONTECEU AO HOMEM DE AÇO? começa então, em 1997, com Lois Lane Elliott recebendo um jornalista do Planeta Diário em sua casa para relembrar os acontecimentos de dez anos antes, quando o Superman foi visto pela última vez depois de travar sua última batalha contra seus principais inimigos. Em SUPERMAN (vol. 1) #423, Lois, agora casada com Jordan Elliott, começa a se lembrar de todos os acontecimentos de dez anos antes, com o ressurgimento dos principais inimigos do Superman dispostos a destruí-lo de uma vez por todas e as consequências disso para as pessoas mais próximas ao herói. Já em ACTION COMICS #583 tem-se o último esforço do Superman para defender seus amigos e entes queridos na épica e fatídica batalha travada contra seus algozes nas imediações da Fortaleza da Solidão, com consequências dramáticas e definitivas para o Homem de Aço e boa parte daqueles que o cercam. Não é o tipo de história sobre a qual se possa falar detalhadamente, sob pena de se arruinar a experiência daqueles que nunca a leram mas que eventualmente pretendam fazê-lo, além do mais ao se considerar que ambas as história estão disponíveis numa edição que ainda se encontra à venda. No entanto basta dizer que, mesmo não sendo o melhor trabalho de Alan Moore, é uma das melhores e mais marcantes histórias do Homem de Aço de todos os tempos, porque o roteirista consegue reunir décadas de cronologia e inconsistências conceituais e transformá-las magistralmente numa trama coesa, densa, rica e cheia de camadas ao expor, como pouquíssimas vezes até então, a humanidade daquele superpoderoso e divinal Superman, além de se apresentar como um digno e belíssimo epílogo para a jornada do herói.
Divisor de águas, marca duplamente o fim das histórias do Superman pré-Crise e o fim da incrível era do lendário Julius Schwartz à frente da editoria de seus títulos. Uma excelente história que vale muito a pena ser lida, relida conhecida e apreciada tanto por antigos como por novos leitores.

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

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