Por Leandor “Leo” Banner

Após o fim de CRISE NAS INFINITAS TERRAS, a DC COMICS decidiu reiniciar a cronologia de boa parte de seus personagens, com especial destaque para sua “Trindade” de medalhões produzida por uma equipe estelar, com BATMAN – ANO UM por Frank Miller e David Mazzucchelli, MULHER-MARAVILHA por George Pérez e Len Wein e, finalmente, SUPERMAN por John Byrne.
Depois de desentendimentos com o polêmico Jim Shooter, JOHN BYRNE deixou a Marvel no final de 1985 e foi contratado pela DC COMICS para a reformulação do SUPERMAN, em atendimento ao convite do lendário DICK GIORDANO para tal empreitada. Mas não seria apenas mais um retcon, como vinha ocorrendo com o personagem desde a década de 1940, com sucessivas modificações e aumento de seus poderes e habilidades; seria realmente um recomeço, a partir do zero… Byrne teria a oportunidade de recontar desde o início as histórias do maior herói das HQs, tendo carta branca para tal… ou talvez nem tão “branca” assim…😬😬 Refreado no seu afã de modificar excessivamente alguns conceitos essenciais do cânone, John Byrne escreveu e desenhou (acompanhado de Giordano na arte-final), a minissérie THE MAN OF STEEL, de 1986, trazendo o Superman para uma nova geração de leitores, desde o momento em que o bebê Kal-El é colocado num foguete pelo seu pai biológico Jor-El, para salvá-lo da iminente destruição do planeta Krypton, até sua chegada ao planeta Terra para ser criado e educado pelos fazendeiros Jonathan e Martha Kent. O menino vai crescendo e descobrindo suas habilidades, e por conta da forte formação moral que recebera de seus pais terrenos, percebe que o mais correto é usar seus dons especiais para servir e ajudar a Humanidade da maneira que lhe fosse possível.
Byrne fez sensíveis alterações no personagem nesse novo recomeço, tornou o Superman menos poderoso do que sua versão pré-Crise e muito mais humano, de modo que CLARK KENT fosse o homem real e o “Superman” fosse o disfarce para que ele pudesse ajudar as pessoas e também manter seus entes queridos protegidos e sua privacidade resguardada. Lois Lane deixou de ser a eterna donzela em perigo e passou a ser uma repórter arrojada, corajosa e determinada, muitas vezes sofrendo consequências de suas atitudes – muitas vezes inconsequentes – sem a presença perene do Superman para salvá-la, com o mesmo podendo ser dito de Jimmy Olsen. Um detalhe então muito inovador inserido por Byrne nas histórias do herói foi a presença constante de Jonathan e Martha Kent, pais do herói, que consistiam na sua rede de apoio incondicional, seu “porto seguro”, sua âncora de humanidade. Praticamente toda a essência dessa genial reformulação promovida por John Byrne serviu de mote para a série “LOIS & CLARK, AS NOVAS AVENTURAS DO SUPERMAN”, que foi ao ar a partir de setembro 1993, contando com quatro temporadas.

Dentre outras modificações significativas, podemos destacar o novo status quo de Lex Luthor que, utilizando-se da sugestão de Marv Wolfman, passou a ser um rico empresário embevecido por poder e controle que, após sofrer a grande humilhação de ser preso pelo Superman, passa a dedicar sua vida e seus recursos a antagonizar o herói visando destruí-lo. Dessa nova situação advém a atualização do conceito de Bizarro, que se torna um clone defeituoso do Superman, que se consubstanciou numa tentativa de Luthor em replicar o DNA alienígena do herói ao tentar fabricar uma criatura com os mesmos poderes e habilidades que lhe devesse cega obediência. Depois de estabelecer os alicerces desse novo e intrigante Superman, Byrne encerra a minissérie retratando a descoberta por parte de Kal-El da sua origem alienígena.

Depois, John Byrne assume os roteiros e desenhos do título SUPERMAN (vol. 2), cuja numeração foi reiniciada, e ACTION COMICS, seguindo sua numeração original, sempre com Superman encontrando algum personagem diferente do Universo DC a cada mês, enquanto que o título ADVENTURES OF SUPERMAN ficou a cargo de MARV WOLFMAN nos roteiros e JERRY ORDWAY na arte (ainda que algum tempo depois Byrne viesse a assumir o roteiro desse título também). Byrne criou novos conceitos e personagens coadjuvantes relevantes como a Capitã Maggie Sawyer (já abordando de forma muito sutil a homossexualidade da personagem), vilões como a Banshee Prateada, criou também uma nova e muito interessante dinâmica entre Lois Lane e Clark Kent, estabeleceu que nessa nova Era Superman NUNCA foi um Superboy… e conseguiu criar uma saída fantástica para a existência do Superboy da Legião dos Super-Heróis numa aventura explosiva em duas partes com um titânico e surpreendente encontro do Superman com a Legião …. e com o Superboy!!!😁 Não se pode relegar ao esquecimento também a despedida de Byrne dessa fase, com o titânico e mortal confronto com os prisioneiros da Zona Fantasma, com um desfecho marcante, impensável e que, até os dias de hoje, divide opiniões.

A passagem de Byrne pelo Superman foi tão especial que o artista desejava abordar todos os aspectos possíveis da vida do herói, e com isso, ainda capitaneou – como roteirista apenas – três séries muito distintas entre si, chamadas WORLD OF SMALLVILLE (ilustrada por Kurt Schaffenberger e Alfredo Alcala) que focava no passado de Jonathan e Martha Kent, WORLD OF METROPOLIS (ilustrada por Win Mortimer e Frank McLaughlin, Dick Giordano & Sal Trapani), focada na juventude de Clark em Metrópolis antes de assumir sua persona heróica, e WORLD OF KRYPTON (ilustrada por Mike Mignola e Rick Bryant & Carlos Garzon), centrada no distante passado do planeta Krypton e dos acontecimentos que levaram eras mais tarde à sua destruição. Títulos que enriqueceram sobremaneira a origem e os novos fundamentos que serviriam de base para o Homem de Aço nos anos subsequentes. Entretanto, como nem tudo são flores, conforme o adágio popular, a despeito de seus vários acertos e polêmicas, Byrne também cometeu alguns erros como, por exemplo, o mal explorado romance do kryptoniano com a Mulher-Maravilha (embora a decisão de não levar essa situação adiante muito provavelmente não tenha partido apenas dele) e algumas situações realmente embaraçosas como o quase filme “pornô” do Homem de Aço com a Grande Barda, esposa do Senhor Milagre e integrante do chamado QUARTO MUNDO. Essa história é terrível, mas (tirando a vergonha alheia) vale pela diversão. 😝 O mandato de Byrne à frente do Azulão, salvo engano, não chegou a dois anos, mas foi muito produtivo levando-se em conta que o canadense rabugento esteve à frente de três títulos mensais, edições anuais e especiais, devendo chegar a aproximadamente umas 40 edições ao todo. Essa relevante fase aportou no Brasil pela primeira vez através da editora Abril no final da década de 1980, e seguiu sem republicações (com exceção da minissérie THE MAN OF STEEL, publicada pela Mythos Editora e pela Eaglemoss ) até o título A SAGA DO SUPERMAN da Panini Comics corrigir esse tremendo erro e trazer, pela primeira vez em formato (americano) original, essas histórias tão significativas e com tradução mais apropriada do que era possível nos malfadados formatinhos da época da Abril. Pela Panini, fase de JOHN BYRNE foi integralmente republicada em A SAGA DO SUPERMAN #1-14, e a quem interessar, ainda é possível correr atrás e obter essas edições que trazem uma das mais marcantes fases do Homem de Aço de todos os tempos (ainda que não seja uma unanimidade).😉
Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻