MES DO SUPERMAN | AS QUATRO ESTAÇÕES

Por Leandro “Leo” Banner

JEPH LOEB e o prematuramente falecido TIM SALE constituíam uma das mais famosas dupla dos quadrinhos dos últimos 25 anos, sendo bastante conhecida por várias histórias do Batman e a chamada “série das cores” na Marvel. Para este escriba, no entanto, Jeph Loeb é um dos roteiristas mais superestimados que já existiram no ramo, pois mesmo com suas histórias execráveis – e elas existem, podem acreditar – seu séquito lhe dedica uma fidelidade tamanha que parece sugerir não haver nenhum outro escritor tão capaz nem tão brilhante.
De fato, Jeph Loeb NÃO é um bom roteirista, no entanto – não me perguntem como nem porquê – para minha grande surpresa, conseguiu fazer uma das melhores e mais belas histórias em quadrinhos de todos os tempos, que é SUPERMAN, AS QUATRO ESTAÇÕES, publicada originalmente em 4 edições na minissérie SUPERMAN FOR ALL SEASONS #1-4, em 1998, acompanhado da sensacional arte de Tim Sale e a fantástica colorização de BJARNE HANSEN. A história, em linhas gerais, narra um ano na vida do jovem Clark Kent, contemplando sua saída de Smallville e a chegada à cidade de Metrópolis até seu primeiro confronto com Luthor. A princípio, uma trama básica, que já havia sido mostrada por John Byrne alguns anos antes, mas há de se reconhecer, de forma lacônica em alguns pontos. A dupla LOEB & SALE preencheram algumas dessas lacunas de forma primorosa , com sequências verdadeiramente dotadas de grande beleza, sensibilidade e lirismo em algumas belas passagens. Loeb associou de forma apropriada, muito bem estruturada e inteligente acontecimentos essenciais da vida de Clark com as QUATRO ESTAÇÕES do ano, conectando cada uma delas com um marco evolutivo essencial e de amadurecimento da trajetória do Homem de Aço.

Iniciando-se pela PRIMAVERA, a história começa mostrando a juventude e o crescimento de Clark sob a ótica de seu pai, Jonathan Kent, que como todo bom pai, tem preocupações inerentes relacionadas à formação e o bom caráter de seu filho, ao mesmo tempo que reconhece que ele foi talhado para algo maior e mais grandioso. As incertezas e inseguranças do pai não passam despercebidas pelo jovem Kent que, naquele momento, também experimenta inseguranças e receios inerentes a todo jovem no árduo – e por vezes doloroso – processo de amadurecimento. E a primavera se adequa perfeitamente a esse momento de descoberta, onde temperaturas mais amenas e a floração de espécies acompanham o surgimento de incertezas advindas de decisões que definirão o rumo da vida do personagem. O sofrimento e a dor de Jonathan na partida de Clark para a cidade é retratado de forma fantástica, dotada de grande sensibilidade, sentimento e significado(ainda que com pouquíssimas palavras), valendo a pena destacar aqui a incrível capacidade de Tim Sale em fazer belíssimas composições e lindas sequências de cenas verdadeiramente emocionantes, culminando numa maravilhosa splash page dupla. O capítulo termina com a chegada de Clark à Metrópolis e com o surgimento do Superman.

Continuando no VERÃO, a narrativa faz alusão às primeiras aparições e embates do Superman, sobretudo seus conflitos com Lex Luthor, pelos olhos de Lois Lane. As altas temperaturas do verão são perfeitamente apropriadas para a ótica intensa e apaixonada da já experiente repórter que, desde o início, sente grande atração pelo Homem de Aço enquanto que o tímido Clark Kent, com toda aquela sua timidez e educação interioranas, consegue lhe provocar apenas (ao menos naqueles primeiros momentos) extremos tanto de indiferença quanto de intenso furor. O aumento das temperaturas no verão realçam ainda mais as cores da dicotomia e dualidade das relações Lois Lane/Clark Kent e Lois Lane/Superman. O OUTONO é retratado sob a ótica de Lex Luthor e sua obsessão em destruir o Superman depois da humilhação de ter sido preso pelo Homem de Aço. Se por um lado, na mini O HOMEM DE AÇO (The Man Of Steel) por John Byrne, as motivações de Luthor parecem, a princípio, meio despropositadas e até mesmo exageradas, aqui neste capítulo específico Jeph Loeb consegue dar mais profundidade a elas, conferindo algumas nuances de cinza – outono, dias nublados, lembra? – à conturbada relação entre o vilanesco empresário megalomaníaco e o Superman.

Por fim, no último capítulo tem-se o INVERNO, sob a ótica de Lana Lang, em que Clark retorna para Smallville inseguro sobre si mesmo por conta das maquinações de Lex Luthor, que abalaram sua confiança e sua convicção em usar seus poderes para ajudar o próximo. Lana acompanha esse período “sabático” de Clark, repetindo na medida do possível a rotina que tinham na época do colegial, mas ao fim e ao cabo, ela se apercebe da inevitabilidade do destino do seu amigo, e mais ainda, com a frieza típica do inverno, consegue enxergar que ele jamais será para ela mais do que apenas isso… um amigo. Mesmo não sendo aquilo que sonhara durante toda sua infância e juventude, Lana, com o auxílio do casal Kent, se empenham em ajudar Clark a recuperar sua confiança e a convicção no seu propósito de ser uma força destinada a ajudar e proteger a Humanidade. Definitivamente o ponto alto da carreira de JEPH LOEB que, com uma inspiração fora do normal, conseguiu conceber uma história maravilhosa, cujo clímax não se resume a uma batalha estrondosa contra um inimigo sanguinário, mas, sim, a recuperação da confiança em si mesmo e a autodescoberta de um homem com poderes quase divinais que escolheu simplesmente ser… humano.

Por fim, essa história sensacional não seria o que é sem a fantástica arte de TIM SALE e a colorização magistral de BJARNE HANSEN, que brindam o leitor com paisagens verdadeiramente exuberantes, sejam os verdejantes campos da Fazenda Kent em Smallville, ou a selva de pedra na forma da profusa e radiante Metrópolis, utilizando-se de poucos traços para uma composição rica e harmoniosa de paisagens exuberantes e tomadas extremamente ágeis com o Superman em ação – enriquecidas ainda mais com as soberbas técnicas de colorização empregadas na obra. SUPERMAN, AS QUATRO ESTAÇÕES já foi publicada no Brasil pelas editoras Abril, Panini Comics e Eaglemoss, e certamente é uma obra que merece todos os elogios, podendo ser melhor desfrutada e apreciada depois da leitura da minissérie O HOMEM DE AÇO (THE MAN OF STEEL) por John Byrne.

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

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