PRAZER CULPOSO | AL PACINO É A MELHOR COISA DE CADA UM TEM A GÊMEA QUE MERECE

Por Adilson Carvalho

Cada Um Tem a Gêmea Que Merece (Jack and Jill) é o filme de Al Pacino com a classificação mais baixa, com míseros 3% no Rotten Tomatoes. A única conquista do filme foi ganhar todas as 12 indicações ao Framboesa de Ouro como Pior Filme, Pior Diretor, Pior Ator, Pior Atriz (com Adam Sandler ganhando por ambos) e Pior Roteiro. Sandler interpreta Jack, um executivo de publicidade, e sua irmã gêmea Jill, que é o pior dos estereótipos judaicos: uma chata detestável, neurótica e chorona. O filme é bem sem graça com inúmeras piadas transfóbicas sobre sua aparência masculina, ou gordofóbicas sobre ela ser pesada demais para um pônei que despenca. No entanto, o filme tem seus momentos e quem é o roteirista não creditado Robert Smigel que introduziu uma história com Al Pacino, aquela em que este se apaixona por Jill, e assim Jack o convence a participar de um comercial da Dunkin’ Donuts em troca de conhecer Jill, apesar do desinteresse dela. O desempenho genuinamente apaixonado de Al Pacino é o que salva Cada Um Tem a Gêmea Que Merece de ser completamente terrível. Sua atuação faz com que o humor venha de sua dedicação e obsessão por Jill. Pacino poderia muito bem estar interpretando Ricardo III de Shakespeare, pela maneira como ele se concentra em Jill e fala sobre ela com tanta eloquência romântica, comparando-a à Dulcineia de Dom Quixote ou observando com melancolia: “Sua irmã e eu crescemos nas mesmas ruas. Quando olho para ela, eu me vejo”. Mas a melhor piada de todas acontece quando Jill acidentalmente quebra o Oscar dele. Ela exclama: “Oh, meu Deus! Sinto muito! Mas tenho certeza de que você tem outros”. A resposta dele, “É de se esperar que sim, mas, estranhamente, não tenho”, é um comentário inestimável sobre sua desconcertante falta de reconhecimento em premiações. A parte mais divertida mesmo é o comercial do Dunkaccino, que se tornou um meme na Internet. Usando um terno com fotos de donuts no forro interno, Al Pacino canta seus bordões mais famosos e mexe os pés como uma criança superexcitada para promover o Dunkaccino – uma mistura de café e chocolate quente. Na cena final, quando ele diz a Jack para queimar o comercial e destruir todas as cópias, o filme nos deixa saber que Al Pacino, o ator, está muito envolvido na brincadeira. Ele sabe que, na vida real, isso seria um golpe baixo e totalmente embaraçoso. O lendário ator de O Poderoso Chefão disse em uma entrevista ao The New York Times por que aceitou o papel:

Chegou em um momento da minha vida em que eu precisava, porque foi depois que descobri que não tinha mais dinheiro. Meu contador estava na prisão e eu precisava de algo rápido. Então, aceitei o papel. Há uma coisa que eu faço nesse filme: Eles me colocaram para fazer um comercial da Dunkin’ Donuts. Você sabe quantas pessoas acham que eu realmente fiz esse comercial?

Apesar de ter que fazer Cada Um Tem a Gêmea Que Merece apenas para receber um salário, Al Pacino dá o máximo de si e está disposto a tirar sarro de si mesmo. Robert Smigel disse ao Cracked: “Eu simplesmente adorava o quanto Pacino se importava. Ele simplesmente emanava alegria porque estava muito empolgado e empenhado em tornar seu papel o mais engraçado possível”, e Pacino costumava ligar para ele com ideias. Você pode realmente ver esse entusiasmo brilhar na tela. Al Pacino poderia facilmente ter feito isso por telefone – assim como seu contemporâneo, Robert De Niro, em filmes como As Aventuras de Rocky e Bullwinkle ou A Guerra com o Vovô. O filme de Adam Sandler mostra a marca de um verdadeiro ator: alguém que se compromete e vai até o fim em um papel, não importa o que aconteça. Se para muitas pessoas é uma perda de tempo assistir a Cada Um Tem a Gêmea Que Merece, é possível perceber que Pacino está se divertindo muito, e não se incomoda em fazer uma auto-paródia. O humor que brinca com seu estrelato é afiado e inteligente; quem dera que esse tipo de escrita estivesse presente no restante do filme.

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