Por Adilson Carvalho

Há 60 anos os clássicos monstros da Universal mostraram que tem um lado bem família e capazes de despertar risos no lugar de gritos. Os Monstros (The Munsters) foi ao ar pela primeira vez em 24 de setembro de 1964 pela CBS, criado por Allan Burns e Chris Hayward. Era a década em que floresceram as séries de fantasia na TV, e a ideia de uma família dócil de monstros funcionou com perfeição como uma sátira da vida suburbana americana e dos tradicionais filmes de terror. Um sucesso de audiência, a série recebeu indicação ao Globo de Ouro de melhor série na época.

Os Monstros são uma família vinda da transilvaniana que mora na Mockingbird Lane, 1313, e apesar da aparência estranha e dos gostos estranhos se considera uma família americana comum. O pai da família é Herman (Fred Gwynne), o único assalariado da família, sendo ele o próprio monstro criado por Victor Frankenstein, casado com Lily Monstro (Yvonne DeCarlo), esposa e mãe dedicada, filha do próprio Conde Drácula, a quem todos chamam de vovô (Al Lewis). Ainda na família tem Ed (Butch Patrick), o menino lobisomem filho de Lily e Herman, e a sobrinha Marilyn (Beverly Owen, e depois Pat Priest), que seria a única “normal” da família, mas todos sabem o quanto ela é “diferente”. O roteiro tira muito bom proveito desse gancho narrativo para parodiar a cultura do “belo” na sociedade, e como são rejeitados aqueles que diferem do dito “normal”. A família Monstro vive assustando inadvertidamente todos, mas acham que os outros é que são “esquisitos”. Como foi a própria Universal quem produziu a série não houve contratempo em usar o visual criado por Jack Pierce para Boris Karloff no rosto do sensível e ingênuo Herman. Sua parceria desastrosa e hilária com Al Lewis, que viviam criando confusão em vários esquemas do vovô para ganhar dinheiro, repete a dobradinha dos atores, que trabalharam juntos antes na série Car 54, Where Are You? (1961-1963).

O papel de Lily foi a princípio criado para a atriz Joan Marshall, e se chamaria Phoebe. Um piloto em cores foi feito mas não havia a química esperada com o elenco, além de que seu visual estava muito parecido com o de Carolyn Jones, a Mortícia de A Família Adams. Yvonne De Carlo era famosa non cinema tendo feito vários clássicos como Os Dez Mandamentos (1956), e uma carreira que já contabilizava duas décadas nas telas. Todos achavam que seria impossível De Carlo aceitar migrar para a TV, que na época não gozava do prestígio que só bem mais tarde teria. Gwynne e Lewis não acreditavam que daria certo tampouco, mas bastou um segundo piloto para que o elenco mostrasse todo seu potencial. Beverley Owen interpretou o papel de Marilyn nos primeiros 13 episódios. Ela estava apaixonada por seu noivo em Nova York e concordou em fazer o programa pensando que seria um fracasso devido à premissa estranha. Quando a série se tornou um sucesso, ela chorava constantemente por ter que ficar em Los Angeles enquanto seu namorado Jon Stone estava em Nova York. Os outros membros do elenco pediram aos produtores que a liberassem de seu contrato para que ela pudesse se casar, e eles o fizeram. Ela foi substituída por Pat Priest, que era tão parecida com Beverley Owen que os telespectadores nunca perceberam a diferença. A família ainda tinha um dragão de estimação no porão chamado Carranca, que vivia aprontando.

O programa foi filmado em preto e branco porque o estúdio não queria pagar US$ 10.000 a mais por episódio para colorir. Esse programa e sua série “rival”, A Família Addams (1964), estrearam com uma semana de diferença, em setembro de 1964. No final da temporada de TV daquele ano, Os Monstros ficou em 18º lugar no ranking Nielsens, com uma classificação de 24,7, enquanto A Família Addams ficou em 23º lugar, com uma classificação de 23,9. Na época, o Nielsens indicava a porcentagem de lares americanos que assistiam a um determinado programa. No final do ano seguinte, as duas séries foram canceladas. No Brasil a série chegou pela Rede Globo, passando bem mais tarde na Record e no SBT já nos anos 80. Em 2005 foi redublada e exibida no bloco Nick At Nite do canal Nickleodeon. O elenco voltou a se reunir após o fim da série em dois telefilmes (1966 e 1981), e ainda houve o remake Os Monstros Hoje (1988-1991), igualmente exibido pelo SBT. Em 2022, Rob Zombie refilmou a série como um filme lançado diretamente em home video e streaming, tendo recebido críticas mistas, e por isso não ganhando sequência. O encanto da série original permanece como pode ser conferido na programação da TV Clássicos.