Por Adilson Carvalho

Surgido na segunda metade dos anos 80, o vilão Venom vem se destacando desde então como uma espécie de anti-herói, mais ou menos o mesmo caminho seguido pelo Adão Negro da DC Comics. Da mesma forma como este foi originalmente criado como um anti- Shazam, Venom é a personificação de um anti-Aranha. Sua origem foi escrita em etapas, a princípio graças a um concurso criado pelo então editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, que desejava dar ao Homem Aranha um visual diferente. Vários desenhos foram enviados pelos fãs, agradando a Shooter a ideia de um uniforme negro com uma imensa aranha vermelha no peito. Comprando a arte por $220, Shooter incumbiu os desenhistas Mike Zeck e Rick Leonardi de fazer as adaptações necessárias reduzindo as cores a preto e branco e ajustando-o à história desenvolvida por Shooter para a minissérie Guerras Secretas (Secret Wars). O visual foi então apresentado em dezembro de 1984 na edição Secret Wars #8, chegando ao Brasil somente em novembro de 1986. Na história, durante uma luta acirrada com o clã dos vilões, Peter Parker tem seu uniforme original irremediavelmente rasgado. Usando um artefato alienígena, Peter cria um uniforme preto e branco que obedece a seus pensamentos e se ajusta ao seu corpo podendo se metamorfosear em qualquer tipo de vestimenta, além de produzir uma “teia orgânica” própria. De volta à Terra ao final da minissérie, o Homem Aranha passa a usar o misterioso uniforme a partir de The Amazing Spider Man #252 (maio de 1984), lançada com uma capa que homenageia a icônica Amazing Fantasy #15 (agosto de 1962), com Tom De Falco nos roteiros e Ron Frenz nos desenhos partindo de uma ideia de Roger Stern. Essa equipe criativa transforma o uniforme arrojado em uma potencial ameaça quando é revelado em The Amazing Spider Man #258 (novembro de 1984) que o uniforme é um ser simbionte que pretende se ligar definitivamente a Peter Parker. Este rejeita o simbionte e consegue se desvencilhar da criatura com a ajuda de Reed Richards, que a prende. Rejeitada por Peter, o simbionte descobre a emoção do ódio. Já a partir de The Amazing Spider Man #259 (dezembro de 1984), Peter volta a usar seu tradicional uniforme azul e vermelho. Coube à Editora Abril, publicar esse material aqui na revista mensal do Homem Aranha entre maio e novembro de 1989.

O simbionte volta a aparecer em Web of Spider-Man #1 (abril de 1985) em uma história de Louise Simoson e Greg Laroque na qual o ser alienígena foge de seu cativeiro e tenta mais uma vez se fundir a Peter Parker. Na luta, Peter se refugia em uma igreja e consegue se soltar definitivamente da criatura graças ao som dos sinos, uma vez que fogo e sons altos são o ponto fraco do simbionte, que antes de aparentemente se dissipar no ar salva Peter. Durante um curto período de tempo, Peter oscila histórias com o uniforme tradicional e com uma copia em tecido terrestre do uniforme preto e branco. Isso até maio de 1988, na edição The Amazing Spider Man #299, escrita por David Micheline e desenhada por Todd McFarlane. Foi essa dupla que deu a Venom seu visual ameaçador, corpulento e com uma enorme bocarra com presas. Também foi a dupla de artistas que deu ao simbionte seu hospedeiro humano, o repórter Eddie Brock. Este culpa o Homem Aranha por ter sua carreira de jornalista arruinada quando Brock fez uma reportagem denúncia fajuta desmascarada pelo Aranha. Passando por dificuldades, Brock foi buscar consolo na igreja onde o Aranha repeliu o alienígena – o simbionte, sentindo o ódio de Brock pelo herói, se uniu ao jornalista, assumindo então o nome de Venom. Automaticamente com a fusão Brock descobre a identidade secreta do herói e passa a atormentá-lo frequentemente. Nas histórias que se seguiram Venom mudou de hospedeiro, gerou um filhote ainda mais perigoso, o psicótico Carnificina entre outras ações vilanescas, mas também salvando vidas com um senso bem distorcido do que são inocentes e culpados. Curiosamente, anos mais tarde, o polêmico escritor/artista John Byrne disee em seu site que a ideia original para a criação de Venom partiu de um traje de material biológico autocurativo que seria usado para o Punho de Ferro – para explicar como o traje do personagem era constantemente rasgado e depois aparentemente consertado na edição seguinte. Byrne explica que acabou não usando a ideia naquele título, mas que Roger Stern mais tarde lhe perguntou se poderia usar a ideia para o traje alienígena do Homem-Aranha. Claro que Eddie Brock veio a ser a versão mais popular do personagem, e a usada em Homem Aranha 3 (2007), vivido por Topher Grace e, mais tarde nos filmes solo estrelados por Tom Hardy em 2018, 2021 e no terceiro filme Venom 3: A Última Rodada (2024), que chega às telas do cinema.