MÊS DO SUPERMAN | ENTRE A FOICE & O MARTELO

Por Leandro “Leo” Banner

Publicada originalmente em uma minissérie em três edições de 2003 sob o título SUPERMAN: RED SON, SUPERMAN – ENTRE A FOICE E O MARTELO aportou por aqui pela primeira vez em um lançamento também de três edições, em 2004, e depois em reedições encadernadas em capa dura (todas pela Editora Panini Comics Brasil), trazendo uma das melhores e mais intrigantes histórias alternativas do selo Elseworlds da DC COMICS, concebida e escrita por MARK MILLAR, ainda em seu auge criativo, com desenhos de DAVE JOHNSON e KILIAN PLUNKETT (partes das edições #2-3), arte-final de ANDREW ROBINSON com WALDEN WONG (partes das edições #2-3) e cores de PAUL MOUNTS. A história de origem é exatamente a mesma, cientista de um planeta condenado (Krypton, claro) coloca seu filho numa nave com o objetivo de salvar a vida da criança. Entretanto, ao chegar à Terra, ao invés de cair no meio-oeste norte-americano, a nave transportando a criança kryptoniana cai numa fazenda coletiva da Ucrânia na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS em meados da década de 1930, e é criada seguindo os valores e tradições daquele país.

Aos 20 anos o jovem é apresentado ao Mundo por Josef Stalin como SUPERMAN, a mais poderosa “arma” dos soviéticos, que abala o equilíbrio de poder entre as duas maiores nações do mundo. Os Estados Unidos, objetivando reagir a esse fato que ameaça sua hegemonia, decidem contratar o doutor Lex Luthor, brilhante cientista considerado o homem mais inteligente do planeta, para criar uma contramedida que possa restabelecer o protagonismo americano no mundo. Na sua primeira tentativa, Luthor provoca a queda de um satélite em órbita em Metrópolis para forçar a ação do Superman, que de fato aparece para evitar a catástrofe, impedindo a colisão com a cidade norte-americana e jogando o detrito espacial na baía de Metrópolis. Ao resgatar os destroços, Luthor utiliza os rastros digitais e genéticos ali impressos em função da ação do Homem de Aço, a fim de criar um clone do alienígena comunista, o que resulta numa cópia imperfeita e defeituosa do Superman. O impasse com a criatura se resolve de forma inusitada, ocasionando a obsessão de Luthor em destruir o Superman, que por sua vez decide assumir a liderança da União Soviética após a morte de Stalin. Nesse primeiro capítulo, além de Superman e Luthor, somos também apresentados a várias outros personagens, como Lois Luthor (sim, ela é casada com Luthor, mas sente algo ao se deparar com Superman pela primeira vez), o agente Jimmy Olsen, Perry White, uma criança soviética, filha de um casal insurgente que luta contra o regime, que vê seus pais serem brutalmente assassinados pelo Chefe da polícia russa, Pyotr Roslov, filho bastardo de Stalin(deduziram, né ?😉); também aparecem a Rainha Hipólita e sua filha Diana, da nação insular de Themyscira, que nesse primeiro momento pós Pacto de Varsóvia, travam relações diplomáticas com a poderosa União Soviética do Superman.

A segunda parte da história salta para 1978 e já retrata as consequências da parceria de Luthor com o alienígena Brainiac, com graves consequências para o povo de Stalingrado, que teve sua cidade reduzida pelo alienígena cibernético. Alterando os circuitos principais de Brainiac, da mesma forma que realiza lobotomia com quem se insurge contra seus desígnios, Superman coloca Brainiac a seu serviço. E é nesse momento que o alienígena comunista se depara com o que está prestes a ser sua mais difícil provação, uma vez que nos subterrâneos da União Soviética se desenrola uma conspiração liderada por das mentes mais brilhantes desse mundo… o Batman. Com o apoio da CIA, Lex Luthor e dissidentes da própria União Soviética, Superman, com o auxílio da Mulher-Maravilha, enfrentam seu inimigo mais desafiador, com consequências avassaladoras. A terceira parte da trama começa no alvorecer do século 21, com o sexagenário Superman praticamente dominando todo o planeta com o auxílio de Brainiac, com exceção dos Estados Unidos, que agora se preparam para sua maior incursão contra o império mundial russo, depois de Luthor decifrar o segredo de um artefato alienígena – de cor verde esmeralda, esclareça-se – capaz de materializar pensamentos provenientes de uma ferrenha força de vontade e bom caráter. Assim sendo, Luthor, valendo-se de tecnologia alienígena canibalizada, se teleporta para a Fortaleza do Superman e o confronta diretamente em seu refúgio no momento em que o kryptoniano decidia acerca da conveniência de invadir a Nação Americana, praticamente última dissidente mundial que não aceitava a “proteção” soviética; Brainiac incapacita Luthor e o Homem de Aço decide finalmente contra-atacar os Estados Unidos, a fim de subjugá-los ante o Império Russo, enfrentando a Tropa dos Lanternas Verdes e as Amazonas da envelhecida Mulher-Maravilha.

O roteirista MARK MILLAR consegue produzir, ao longo das três edições componentes do encadernado, uma narrativa ágil e um interessante comentário sobre socialismo e capitalismo de forma muito coerente, sem maniqueísmos exagerados, lançando mão de inúmeras referências, sobretudo do romance 1984, de George Orwell, com o Superman se portando como o “Grande Irmão”. A conclusão da saga é repleta de simbolismos, remetendo, ainda que tangencialmente, ao ato final de 2001 UMA ODISSEIA NO ESPAÇO, de Stanley Kubrick, sugerindo um ciclo de acontecimentos cujo desfecho desemboca num provável reinício fadado a se repetir indefinidamente, com os mesmos erros e decisões equivocadas. Certamente a conclusão de ENTRE A FOICE E O MARTELO é mais fácil de ser atingida e entendida do que a da fantástica película de Kubrick, e isso não é qualquer demérito para a obra que, com uma ousada abordagem e uma delicada discussão em seu subtexto, estabeleceu Superman e Lex Luthor como duas forças verdadeiramente antagônicas entre si, e mais do que isso, necessárias e intrinsecamente dependentes uma da outra para subsistirem, muito além da simples concepção tradicional desses fascinantes personagens, colocada em termos de bem/mal e certo/errado, estabelecida há décadas. No final das contas surge a grande questão: Luthor e Superman eram tão diferentes assim?😉 Uma história muito acima da média que ainda se encontra disponível, e que vale a pena ser lida e relida.

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

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