TV CLÁSSICOS | A FAMÍLIA ADDAMS

Por Adilson Carvalho

Todo esse sucesso que a série Wandinha, da Netflix vem fazendo é mais um capítulo na trajetória de personagens que fizeram humor do macabro, do inusitado desde sua criação pelo cartunista Charles Addams da família que leva seu sobrenome desde 1937 quando apareceram pela primeira vez nas páginas da revista The New Yorker, ainda sem nomes até que surgisse a série de TV. Adams era um homem bem sociável e elegante, mas tinha um apreço especial pelo lado sombrio da vida, não gostava de crianças e em seu fim de vida morava em uma propriedade que batizara de “Pântano“. A série de TV da Família Addams começou depois que o produtor David Levy procurou o cartunista, que só então decidiu dar nomes aos personagens. Adams também definiu as características para que os atores usassem para Morticia, Gomez, Fester, Tropeço e as crianças Wandinha e Feioso. A série foi ao ar pela emissora ABC por duas temporadas, de 1964 a 1966. O tema de abertura (com estalos de dedos) foi composto e cantado por Vic Mizzy, porque a produtora Filmways se recusou a pagar cantores para gravá-la e assim tornou-se parte indissociável da série. Já o interior da casa dos Addams foi inspirado no apartamento real de Charles Addams em Manhattan, que continha armaduras, uma coleção de bestas antigas e outras curiosidades. O cenário consistia principalmente de peças recicladas do filme A Inconquistável Molly (1964). John Astin teve a opção de escolher dois nomes para seu personagem e escolheu Gomez em vez de Repelli. O nome do filho originalmente era Pubert, mas foi mudado para Pugsley, porque Pubert soava muito sexual. Gomez e Morticia Addams foram o primeiro casal da TV americana a sugerir uma vida sexual ativa graças à visível química entre os atores John Astin e Carolyn Jones. Esta chamava Gomez de vários termos afetuosos como Bubeleh (Iídiche para “querido“), Mon Cher ou Mon Amour (em Francês) e que fazia Gomez subir pelas paredes. Ele frequentemente a tratava como Cara Mia (minha querida em italiano). Carolyn Jones, que trabalhou com Elvis Presley em Balada Sangrenta (1958), foi escolha pessoal de Charles Addams para o papel e veio a interpretar também Ophelia, a irmã de Mortícia. Gomez estava originalmente noivo da irmã de Morticia, Ophelia, em um casamento arranjado. No entanto, alguns dias antes do casamento, ele conheceu e se apaixonou por Morticia e acabou se casando com ela. Carolyn Jones inicialmente recusou a oferta para interpretar Morticia porque estava concentrada em sua carreira no cinema e não queria se comprometer com uma série de TV. Ela foi persuadida a aceitar o papel por seu marido, Aaron Spelling, embora eles estivessem se divorciando na época.

Charles Addams e uma boneca de Mortícia

Originalmente, John Astin foi pensado para o papel do mordomo Tropeço, antes de Levy repensá-lo como o patriarca dos Addams. Assim, Ted Cassidy, de 2,06m e voz profundamente grave, foi contratado como o mordomo dos Adams. A princípio seu personagem deveria ser praticamente silencioso, apenas com gemidos. No entanto, durante as filmagens, Ted Cassidy improvisou a fala “You rang?” (Chamou?) em uma cena em que a família tocava a campainha do criado. O timing perfeito e a voz grave de Cassidy nessa fala deram tão certo que Tropeço foi reescrito para ter diálogos, que consistiam principalmente em frases curtas e repetitivas, além de um olhar de visível censura a várias situações vividas pela excêntrica família. O ator também veio a fazer o papel de Mãozinha, o inusitado mascote dos Adams. No entanto, quando Tropeço tinha que aparecer na câmera ao mesmo tempo que Mãozinha, o produtor associado Jack Voglin usou a sua própria em cena. Um terceiro ator também interpretou Mãozinha em algumas ocasiões, mas sua identidade não é conhecida. Tropeço acabou sendo o personagem mais popular da série e um sucesso com adolescentes que escreviam para o estúdio dizendo que ele era mais “fofo” que os Beatles !

Quando foi escalado para o papel de Tio Fester em A Família Addams (1964), Jackie Coogan tinha 49 anos e estava quase falido. O ator havia trabalhado com Charles Chaplin no clássico O Garoto (1921). Jackie Coogan foi originalmente rejeitado para o papel de Tio Funéreo, mas não desistiu, foi para casa, raspou a cabeça e fez sua própria maquiagem e figurino do personagem, o que lhe deu o papel. Depois que a série terminou em 1966, ele nunca mais deixou de trabalhar, com várias aparições na televisão e no cinema, embora a maioria delas fosse apenas em pequenos papéis. Além das crianças Wandinha (Lisa Loring) e Feioso (Ken Weatherwax), a série ainda tinha a Vovó (Marie Blake) e o simpático Primo Itt, uma criatura peluda da cabeça aos pés e voz esganiçada, que caiu no gosto do público e apareceu em 17 episódios. Sillas anos mais tarde fez o papel do robô Twiki em Buck Rogers (1978). Curiosamente, o personagem não existia nos cartoons originais de Charles Addams, tendo sido criado diretamente para a série, e a partir daí incorporado oficialmente à família. A voz de Itt foi fornecida pelo produtor Nat Perrin, que recitava palavras sem sentido em um gravador e depois as reproduzia em uma velocidade maior. A atriz Margareth Hamilton, a bruxa de O Màgico de Oz, fez algumas aparições na série como a mãe de Mortícia e Ophelia.

Na época de produção da série dos Addams, a concorrente direta perante o público era Os Monstros (1964), que estrearam com uma semana de diferença um do outro em setembro de 1964. No final da temporada de TV daquele ano, Os Monstros ficou em 18º lugar no ranking Nielsens, com uma classificação de 24,7, enquanto esse programa ficou em 23º lugar, com uma classificação de 23,9. Na época, o Nielsens indicava a porcentagem de lares americanos que assistiam a um determinado programa. No final do ano seguinte, as duas séries foram canceladas. Foram duas temporadas e 64 episódios que entraram para a história da TV e ainda hoje resistem ao teste do tempo. O renomado diretor de cinema Frank Capra (A Felicidade Não Se Compra) adorava a série e queria ter dirigido um dos episódios. Mesmo refilmada para o cinema e TV, os Addams de 1964 nunca serão esquecidos, mesmo completando agora 60 anos de sua estreia. Assista-os na TV Clássicos.

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