Por Paulo Telles

Ele parece mesmo um herói imortal. Há quase 90 anos, em 1936, surge o primeiro herói mascarado das histórias em quadrinhos: O FANTASMA. Criado pelo quadrinista Lee Falk (1911-1999), até aos nossos dias ele vem encantando crianças e adultos, de geração a geração, de pai para filho. Antes do surgimento do Super-Homem (1938) e Batman (1939), já estava o Fantasma aventurando-se no mundo dos quadrinhos.

A origem do personagem, praticamente todo mundo manja. O herói foi o vigésimo primeiro de uma linha de combatentes do crime que começou em 1536, quando piratas mataram o pai do marinheiro britânico Christopher Walker. Após jurar ao crânio do assassino de seu pai que lutaria contra o mal, Christopher começou o legado do Fantasma que passaria de pai para filho, dando assim o início de uma dinastia.

O interessante é que o Fantasma que todos conhecem ao longo de nove décadas é o vigésimo primeiro da dinastia (também chamado de Christopher, mas todos o chamam de Kit Walker) acompanhou os acontecimentos ao longo de todo século XX, como II Guerra Mundial vindo a enfrentar até mesmo os nazistas. Lutou contra os Piratas de Singh e ainda sobrou tempo para conhecer o amor de sua vida, a pesquisadora e aventureira Diana Palmer. Bom, pelo que se sabe, até Lee Falk encontrou dificuldades para posicionar a heroína. O quadrinista deu várias profissões para a jovem. Nas primeiras histórias, ela aparecia como uma rica herdeira e aventureira. Depois, soube-se que também pilotava aviões. Mais adiante, foi revelado que ela fora campeã olímpica de saltos ornamentais.

Diana e seu amado Fantasma compartilharam muitas aventuras juntos ao longo de 50 anos desde o surgimento do personagem, conhecido como o Espírito Que Anda, nomenclatura aclamada pela tribo bandar, de Bengala, onde vive o herói em sua famosa “caverna da caveira”, ao lado de seu cão (digo, um lobo!) Capeto e de seu fiel secretário Guran. Muito embora fossem apaixonados, Diana e Kit tiveram que encarar algumas adversidades, principalmente por causa da mãe da moça, que não aprovava seu romance com Kit. Mas em 1977, finalmente o Fantasma e Diana se casam no mundo das histórias em quadrinhos, e ainda com direito a lua-de-mel.


A saga chegou aqui no Brasil em 1978, com duas edições publicadas pela RGE (Rio Gráfica-Editora), quase saídas que simultaneamente: O Casamento do Fantasma e Lua- de – Mel do Fantasma. Na primeira, além do herói formalizar seu pedido de casamento, ainda encontra tempo para lutar contra nativos adoradores de Zaal, o deus do terror, e que eram envolvidos com tráfico de drogas e produção de heroína. Depois o Fantasma volta para Diana e casa-se com ela, em recepção majestosa onde tem como convidados outros heróis criados por Lee Falk, como Mandrake e seu fiel ajudante Lothar. Já na segunda edição, seguindo a tradição de seus antepassados, o herói leva sua esposa para passar a noite de núpcias na praia dourada de Keela-wee, onde a areia é de ouro quase puro, e há uma cabana de jade que foi presente de um imperador para o sétimo Fantasma. Em seguida, o casal passa alguns dias no Éden, mas claro que não poderão apenas curtir a lua-de-mel, pois logo seguirão mais aventuras. Vale lembrar que a RGE lançou nesta edição um brinde: um simulacro do Anel da Caveira, símbolo de poder e justiça do Fantasma.

Com desenhos de Sy Barry, O Casamento e Lua -de- Mel do Fantasma é uma obra prima e um verdadeiro clássico literário dos quadrinhos. Em 1979, a mesma RGE readaptou as edições publicadas no ano anterior para o formato americano e em capa dura, um álbum de luxo com 96 páginas. Um marco cultural e expressivo da 9ª arte, que é, justamente, o fascinante mundo das Histórias em Quadrinhos.
